A sustentabilidade de uma organização, seja ela uma empresa com ou sem fins lucrativos, se dará apenas quando ela zelar por relações éticas com todos os seus públicos de relacionamento. A afirmação é do economista e professor dos MBAs de Sustentabilidade e Governança Corporativa da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Rubens Mazzali. Para ele, não há receita pronta para garantir a sustentabilidade das organizações, especialmente no contexto da Saúde brasileira e das Santas Casas. Em entrevista à CMB, o professor disse, ainda, que é preciso mapear a situação da entidade para entender como está o quadro das dimensões de sustentabilidade social, ambiental, econômica e cultural. “De posse desse mapeamento, a gestão estratégica pode estabelecer um futuro desejado e traçar as ações que apontem a organização para esse futuro”. 

Rubens Mazzali será um dos palestrantes da sala temática “Sustentabilidade (Financeira, Ambiental e Social)”, que será realizada no dia 23 de setembro, durante o 25º Congresso nacional das Santas Casas e Hospitais Filantrópicos e XI Congresso Internacional das Misericórdias, em Salvador. As inscrições online podem ser feitas até o dia 14 de setembro, pelo site: www.cmb.org.br/congresso

Leia a íntegra da entrevista:

CMB – Como conceituar “sustentabilidade”?
Rubens Mazzali – Inicialmente temos que diferenciar sustentabilidade do planeta da sustentabilidade de uma Nação, da sustentabilidade de uma sociedade específica ou da sustentabilidade de uma empresa ou organização social.  A sustentabilidade de um planeta é algo que está muito além do frágil controle humano.  A sustentabilidade da sociedade humana está intimamente ligada à utilização racional dos recursos que temos no presente de modo que não comprometam nossas futuras gerações. Já a sustentabilidade de uma organização, seja ela uma empresa com ou sem fins lucrativos, a meu ver, se dará apenas quando ela zelar por relações éticas com todos os seus públicos de relacionamento.  Todos.

CMB – A Governança corporativa é uma ferramenta para a sustentabilidade ou é mais uma ferramenta de gestão?
Rubens Mazzali – É mais que uma ferramenta, é uma arquitetura de gestão estratégica que permite uma ordenação no processo decisório, suportada por práticas que visam gerar valor a todos os públicos de relacionamento de uma empresa ou organização social.  Em razão desse objetivo, é uma arquitetura que visa à zeladoria da sustentabilidade de uma organização.

CMB – Como uma instituição, como uma Santa Casa, que enfrenta tantos problemas financeiros, pode trabalhar sua sustentabilidade?
Rubens Mazzali – Não existem fórmulas secretas.  É necessário um modelo que garanta a operação positiva, ou de modo simples, receitas maiores que custos.  Esse “maior” do que custos é o delta responsável por duas missões:  a) para cobrir passivos passados e  b) financiar o futuro. Óbvio, simples, mas extremamente complexo considerando-se o contexto das Santas Casas e do sistema de saúde brasileiro.  O modo como alcançar o delta, ou esse valor que possa financiar o futuro e zerar o passado é o grande desafio.  Acredito que novos modelos deverão ser pensados.  O mundo muda de modo muito rápido e nossos modelos de negócio demoram a reagir.  Criatividade, inovação, “pensamento fora da caixa”, desafio ao status-quo, enfim, temos que pensar o modelo com a cabeça no futuro e não nos modelos do passado.  Sempre fundamentando tais modelos na ética das relações.

CMB – Os pilares da sustentabilidade – financeira, ambiental e social – são dissociados ou devem andar juntos?
Rubens Mazzali – Inicialmente eu gostaria de sugerir que alterassem o termo “financeira” para “econômica”.  Há uma significativa diferença entre esses termos (que não são sinônimos.   Respondendo, sempre devem ser considerados de modo integrado, sistêmico.  Não adianta ser sustentável social e ambientalmente e não ter resultado econômico.  Por sua vez, resultados econômicos que geram passivos sociais e ambientais são devastadores e insustentáveis.

CMB – Qual o primeiro passo para desenhar e estabelecer um plano de sustentabilidade?
Rubens Mazzali – Tirar uma foto.   Em outras palavras, mapear como estamos nas dimensões (social, ambiental, econômica e cultural).  Essa foto é tirada por meio de um conjunto de indicadores tangíveis e intangíveis (há modelos como o GRI – Global Reporting Initiative, Ethos e outros).  De posse desse mapeamento a gestão estratégica pode, após a análise crítica desses indicadores, estabelecer um futuro desejado e traçar as ações que apontem a organização para esse futuro.  Esse futuro é, de modo simples, aquele onde os indicadores apontem menores riscos à instituição e, ao invés de gerarem passivos intangíveis possam gerar ativos intangíveis.  A mitigação de passivos intangíveis e a geração de ativos intangíveis coloca a organização no caminho da sustentabilidade.

Fonte: Assessoria de Imprensa CMB