Realizado de 26 a 28 de setembro na Universidade Positivo, em Curitiba, o 8º Encontro Paranaense da Saúde, que teve como tema “A saúde na era da transformação”, foi um sucesso, se consolidando como um dos mais importantes eventos do Sul do Brasil voltados ao segmento privado de serviços de saúde. Durante o período, quando também ocorreu a tradicional Feira de Negócios – Produtos e Serviços, com mais de 30 estandes, esteve no local um público de aproximadamente 600 pessoas por dia.

A abertura, na tarde do dia 26, foi feita pelos presidentes das entidades organizadoras do encontro, Benno Kreisel, da Associação dos Hospitais do Paraná (Ahopar); Renato Merolli, da Federação dos Hospitais e Estabelecimentos de Serviços de Saúde no Estado do Paraná (Fehospar), e Rodrigo Milano, do Sindicato dos Hospitais e Estabelecimentos de Serviços de Saúde do Paraná (Sindipar). A solenidade foi prestigiada pelos secretários estadual e municipal da Saúde, Antônio Carlos Nardi e Márcia Huçulak, respectivamente, além do presidente da Confederação Nacional de Saúde (CNS), Tércio Egon Kasten, diretores e gestores hospitalares, advogados, médicos e profissionais do segmento.

O ponto alto do primeiro dia foi a palestra magna proferida por Marco Antônio Villa, um dos mais renomados analistas políticos da atualidade. Historiador, escritor, comentarista da Jovem Pan e TV Cultura e colunista de O Globo e Isto É, ele fez uma narrativa crítica de todos os governos desde 1930 e afirmou que a questão que se coloca hoje é que existe uma crise estrutural e de que forma encontrar uma saída. Na sua avaliação, a conjuntura brasileira neste momento é uma das mais complicadas da história, com um processo de desmonte do Estado muito difícil de reverter. “O problema é a banalização da democracia. Hoje, o sentimento do eleitor brasileiro é de angústia. A eleição, que era um momento de alegria, virou um momento de tristeza. Temos que ver esta realidade, pois, somente vendo como ela é, será possível a superação”, pontuou.

Durante a manhã até as 15h, ocorreram salas temáticas sobre serviços de nutrição, recursos humanos e segurança do paciente, com a presença de diversos especialistas.

Gestão e Tecnologia

Temas relacionados à gestão e tecnologia dominaram o segundo dia do evento. O professor Chao Liung Wen, chefe da disciplina de Telemedicina da Faculdade de Medicina da USP, abriu as palestras falando sobre Digital Health e as perspectivas de novos serviços de atendimento para a terceira década do século XXI. Wen acredita que será um dos instrumentos reformuladores da dinâmica da saúde. A Telemedicina e as tecnologias, para ele, estão evoluindo para o que seria a quarta revolução industrial.

Na sequência, o assunto da palestra-debate foi “Desafios da gestão hospitalar”, que teve como convidados o CEO dos Hospitais Leforte (SP), Rodrigo Lopes, e o superintendente do Hospital Beneficência Portuguesa (HBP), Luiz Sérgio Pires Santana, também de São Paulo, que detalharam medidas adotadas nas instituições para garantir melhores resultados. No HBP, por exemplo, com 1,1 mil leitos e 3 mil médicos, o posicionamento hoje é ser um polo de saúde, atuando da prevenção até o pós-alta.

Diretor de Inovação e Gestão do Conhecimento do Hospital Alberto Einstein (SP), José Cláudio Cyrineu Terra falou sobre “Colisão de mundos e o impacto das tecnologias disruptivas”. Ele afirmou que a área da saúde é a de maior produção de conhecimento no País e o grande desafio é agregar aos corpos clínico e de enfermagem, altamente capacitados, o entendimento de que o mundo da inovação afeta o mundo da saúde. Citando trabalhos desenvolvidos no Einstein, em especial aplicativos que têm proporcionado expressivos resultados, mensurou que a tecnologia vem ocorrendo em uma proporção para transformar o sistema de saúde e um dos maiores benefícios que ela traz é o acesso à população em grande escala.

O programa do dia foi encerrado com um tema de grande importância para o segmento hospitalar e de serviços de saúde: como viabilizar a implantação de novos modelos de remuneração.  Com mediação de Márcia Rangel Abreu, vice-presidente da Ahopar e integrante do Grupo Técnico de Remuneração da ANS, os médicos Tânia Grillo Pedrosa, diretora da DRGBrasil e IAGsaúde, e César Abicalaffe, presidente da 2iM Inteligência Médica, apresentaram dados, diferentes modelos de remuneração e defenderam a saúde baseada em valor, sob uma nova perspectiva: a do paciente. Um sistema de saúde que entrega os melhores resultados ao paciente com o mais baixo custo possível.

Recursos Humanos e Direito

No terceiro e último dia do 8º Encontro, os pontos centrais foram Recursos Humanos e assuntos jurídicos. Na primeira palestra, cujo tema foi “Sintonia na saúde na era da transformação”, o professor Alexander Baer, da FGV, palestrante motivacional e coach estratégico em planejamento de vida e carreira, indagou aos presentes o que uma orquestra tem para ensinar aos líderes da orquestra de uma organização de saúde. Ele fez uma analogia entre o grupo de músicos e a “Orquestra Hospital” e pontuou que, para fazer uma gestão focada em resultados e obter sucesso, é preciso que o líder tenha a visão do todo, como o maestro, e foco na maior das estratégias: pessoas. “São elas que fazem, ou não, as coisas acontecerem”, alertou.

A Reforma Trabalhista e os efeitos no setor da saúde foi o assunto da segunda palestra. Para debater foram convidadas as advogadas Alessandra Lucchese, diretora do Instituto Brasileiro de Governança Trabalhista (IBGTr), e Marília Pioli, professora de MBA em Gestão Hospitalar. A avaliação é de que as mudanças trouxeram modernização. Para o segmento, entre os benefícios foi citada a jornada 12×36, que, de acordo com Lucchese, é fundamental para a sustentabilidade do sistema.

Compliance foi o principal tema abordado na sequência. Alfredo Fiel Santana Neto, diretor Jurídico e Compliance na Volvo América Latina, detalhou como a empresa estruturou as novas condutas de compliance e ressaltou que elas têm que ser praticadas por todos. Estava acompanhado de Carlos Eduardo Cavalheiro, advogado do Grupo Volvo, que narrou situações vividas neste contexto, e Marli Gowatski Corrêa. Coordenadora do Departamento Jurídico e Compliance, ela contou como foi traduzir toda a letra da lei em algo prático e fazer com que esse código de conduta fosse recebido de forma clara pelos 95 mil funcionários da empresa em nível mundial, o maior desafio. E o envolvimento da alta direção, presente nos treinamentos, foi fundamental, de acordo com os executivos, além do posicionamento dos setores, para adaptar a política à realidade. E essa conduta, que se traduz em sustentabilidade, pode ser implantada em todos os segmentos, como o da saúde, disse Santana Neto.

A palestra que encerrou a programação técnica do evento coube ao procurador de justiça Fábio André Guaragni, sobre o tema “Compliance na visão do Ministério Público”. Para ele, o olhar do MP em compliance está bastante ligado às questões de corrupção, que “não é um problema de Estado, mas um problema macroeconômico”. Avaliou que foi preciso essa dura fratura exposta desde 2014, em menção aos fatos revelados pela Lava Jato, para que empresas, chamadas pela Justiça, se preocupassem com os mecanismos de controle interno. Para a área da saúde, entre outras, ele destacou a importância do compliance como uma necessária pretensão de salvaguardar a imagem.

Atuaram como mediadores nas palestras realizadas durante o encontro, além de Márcia Rangel Abreu, o presidente do Sindipar, Rodrigo Milano; o vice-presidente do Sindipar e diretor de convênios da Fehospar, Claudio Henrique Lubascher; o assessor de recursos humanos da Feaes e diretor do Sindipar, Vlademir Feijó Gonzales; o assessor jurídico da Fehospar e membro do Conselho Jurídico da CNS, Bruno Milano Centa, e Phillipe Fabrício de Mello, também assessor jurídico da Fehospar e Sindipar.

Fonte: Fehospar