Há meses os indicadores e as previsões apontam para a recuperação da economia brasileira, mais vigorosa em alguns segmentos e ainda lenta em diversos outros. A área da saúde, habitualmente ladeada por entraves, está entre os setores que vêm despertando o interesse da imprensa nacional, e em nossa visão, não por acaso. O jornal Valor Econômico, em recentes edições, colocou luz sobre as negociações que empresas do segmento vêm firmando há mais de dois anos. São transações que, muito provavelmente, resultarão em serviços mais eficientes, melhores estruturados e implementação de novas tecnologias. Além disso, envolvem expressivos valores monetários e demonstram como o setor, apesar dos percalços, está longe da estagnação.

O ano de 2017 foi o mais aquecido das últimas duas décadas para as fusões e aquisições entre hospitais e laboratórios de análises clínicas. Essa dinâmica sinaliza, sem dúvida, que existem projeções favoráveis à boa performance das empresas do segmento saúde.

A consultoria KPMG fez um levantamento dos últimos 20 anos e chegou a 210 negociações diferentes na área. O destaque seria para os anos de 2016 e 2017, em que o volume de operações de M&A foi mais representativo (foram 31 e 50, respectivamente). Lembramos que isso se deve muito a mudanças na Lei nº 8080/1990, que sofreu alterações em 2015 e passou a liberar ao capital estrangeiro o controle de empresas brasileiras no segmento da saúde. A permissão ocorre nas seguintes condições:

I – doações de organismos internacionais vinculados à Organização das Nações Unidas, de entidades de cooperação técnica e de financiamento e empréstimos;

II – pessoas jurídicas destinadas a instalar, operacionalizar ou explorar:

  1. a) hospital geral, inclusive filantrópico, hospital especializado, policlínica, clínica geral e clínica especializada; e
  2. b) ações e pesquisas de planejamento familiar

III – serviços de saúde mantidos, sem finalidade lucrativa, por empresas, para atendimento de seus empregados e dependentes, sem qualquer ônus para a seguridade social; e

IV – demais casos previstos em legislação específica.” (NR)

Certamente, a compra de 90% da Amil pela gigante norte-americana UnitedHealth Group (UHG) marcou a participação do capital estrangeiro no mercado de saúde do País. A operação ocorreu em 2012, antes da mudança na Lei nº 8080/1990, e foi concluída depois de passar pela aprovação da ANS. Toda a transação envolveu cifras acima dos R$ 9 bilhões.

No comunicado que fez na ocasião da compra, o UHG afirmou que o mercado de saúde privado brasileiro era o segundo maior das Américas, atrás apenas dos Estados Unidos, mas o de maior crescimento. No fim do ano passado, a UnitedHealth adquiriu, por U$ 2,8 bilhões, a Banmédica, que atua no Chile, Peru e Colômbia.

Agora, as atenções do setor se voltam às operadoras de planos de saúde Hapvida e Notredame Intermédica, que se organizam para abrir capital no próximo mês (abril). As conversas entre as empresas e os investidores estão engrenadas, etapa do processo que antecede seus respectivos roadshows. A Blau Farmacêutica, também empenhada em atrair capital, deve decidir nas próximas semanas se parte para o IPO ainda em 2018 ou somente no ano que vem.

Economia e saúde em alta

A Federação Brasileira de Hospitais (FBH) fez um levantamento no número de instituições hospitalares no País e concluiu que são mais de 6,4 mil, das quais 63% sob o controle privado (embora parte desses leitos seja destinada ao SUS).

Em 2016, a KPMG pontuou que a saúde respondia por 9% do PIB brasileiro, o equivalente a R$ 216 bilhões. Os números nos colocaram como sexto principal mercado de saúde do mundo. E, à época, éramos também o sétimo maior consumidor mundial de medicamentos, com chances de ocupar a quinta posição até 2010, segundo a norte-americana IMS Health, especializada em estudos no segmento farmacêutico.

Diante desse cenário, podemos lançar dois fatores primordiais na prospecção das empresas. O primeiro é o espaço para o crescimento do mercado de saúde suplementar. Já nos posicionamos em artigos anteriores sobre o desequilíbrio no setor e a necessidade de reavaliar o ambiente regulatório, mas toda a articulação entre empresa nacionais e entre nacionais com estrangeiras evidencia que existe espaço para crescer, e reforçamos com as seguintes informações:

– Pesquisa realizada pelo SPC Brasil e pela Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL) constatou que pouco mais de 70% dos brasileiros não possuem plano de saúde particular (individual ou empresarial);

– No fim de 2017, o Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS) divulgou que o plano de saúde é o terceiro maior desejo da população, atrás apenas de casa própria e educação.

Entendemos existir outro crucial fator que impulsiona o segmento e atrai grupos estrangeiros: a expectativa de vida do brasileiro. Já fizemos projeções sobre o que o envelhecimento da população demandará – mais serviços especializados, mais consultas, mais exames, mais medicamentos e internações – e precisaremos ter empresas e instituições que atendam todas essas pessoas.

Ou seja, ao que tudo indica, conforme se movimenta, o mercado está se preparando para esse futuro.

Fonte: LinkedIn – Luiz Felipe Conde