Matéria estampada na capa do jornal Folha de São Paulo do dia 31 de maio de 2015 destaca que seriam necessários 4 brasileiros para atingir a produtividade de 1 americano. Pobre trabalhador brasileiro. Seria tão improdutivo ou preguiçoso?

A matéria se refere a um indicador publicado por uma organização americana denominada “The Conference Board” sediada em New York, que faz pesquisas nas áreas de liderança, ambiente de negócios e capital humano. Para elaborar este ranking, a organização faz uma conta simples: divide o Produto Interno Bruto (PIB) de um país pelo número de pessoas empregadas. Para efeito de comparação utiliza os Estados Unidos como padrão. A partir deste parâmetro, se considerou que a produtividade de um brasileiro é apenas 25% de um americano. Mas, o mesmo ranking constata que a produtividade de um chinês seria 19% de um americano e de um indiano, somente 11%. Por outro lado, um país com população pequena e centrado em serviços, como Cingapura teria uma produtividade 112% superior à de um americano.

O texto da Folha de São Paulo elenca alguns fatores que podem comprometer a produtividade do brasileiro como nível educacional, qualificação profissional, falta de inovação, baixa participação de estrangeiros qualificados na mão-de-obra. Naturalmente, nesta conta, elementos econômicos e sociais são muito relevantes, como a retração do PIB, os impostos elevados, a infraestrutura precária, as megacidades congestionadas e a violência urbana.

Acredito que esta matéria deva servir de alerta para os profissionais que atuam na gestão em saúde corporativa. É muito relevante a escolha correta de métricas no planejamento. Não tem sido rara a inclusão de componentes relacionados à produtividade e desempenho econômico da companhia associado a programas de saúde. Acredito ser bastante relevante o gestor em saúde conhecer o cenário e o ambiente de negócios da companhia para definir a estratégia e as métricas a serem utilizadas em seu planejamento. A complexa operacionalização dos programas tem exigido ir além da mera mensuração de um eventual retorno sobre o investimento (ROI) de uma ação, pois esta métrica seria restrita apenas a um silo da abordagem e, cada vez mais, tem sido relegada a segundo plano no planejamento estratégico dos programas. É necessário caminhar na busca de métricas que demonstrem a geração de valor (ou VOI) para o negócio das companhias.

Recentemente, o American College of Occupational Medicine (ACOEM) dos Estados Unidos reuniu um grupo de trabalho composto por acadêmicos e executivos com um desafio: definir como as estratégias em saúde e segurança no trabalho podem trazer benefícios mensuráveis para as companhias. Este grupo de trabalho propôs a criação de um modelo lógico semelhante ao Dow Jones Sustainability Index (DJSI) que já é consagrado no mercado. Neste modelo, há três pilares (social, ambiental e social) e para cada um deles há métricas bem estabelecidas que envolvem suporte organizacional, absenteísmo, presenteísmo, taxa de turnover, acidentes no trabalho, estratégias de prevenção e promoção da qualidade de vida, gestão de doenças crônicas e diversidade. A operacionalização dos programas, integrando as áreas de SST, assistencial e o plano de saúde poderá gerar indicadores integrados que poderão, no futuro, até integrar uma carteira de ações de empresas que promovem uma cultura de saúde. As conclusões deste grupo foram publicadas na revista JOEM de maio de 2015. Acredito que devamos caminhar neste sentido também em nosso país.

Por Alberto Ogata