Marcos Coimbra*

Sua imagem, de forma geral, é negativa. Aliás, muito negativa. Mas a parte da população que se utiliza de seus programas e equipamentos tem deles uma opinião, na maior parte das vezes, positiva.

Não existe política pública mais inclusiva e de uso mais frequente. Brasil afora, nas pesquisas sobre utilização do sistema de saúde, constata-se que perto de 80% das pessoas têm algum tipo de contato com ele ao longo de um semestre. Seja para buscar atenção para si mesmos ou para integrantes de sua família, quatro em cada cinco brasileiros batem às suas portas regularmente (ou são contatados por ele).

A imagem desse imenso e complexo sistema é predominantemente ruim (ou péssima). Existem municípios que fogem à regra, onde é aprovado de maneira quase unânime.

Em alguns estados, os índices são melhores, às vezes em lugares inesperados, como o Acre, que tem os números mais positivos do país. Mas, no conjunto, a saúde é a área mais criticada.

É considerada, pela maioria da população, como “o principal problema do Brasil”. Em pesquisa de 2011, feita pela Vox Populi, alcança o dobro do segundo colocado, a segurança pública.

Com cerca de 40% das menções, tem, sozinha, o número a que chegam, somadas, segurança, educação e desemprego.

Não é surpresa que seja, portanto, a política mais mal avaliada do governo Dilma. Apenas 30% a aprovam, contra 67% de desaprovação, segundo dados do Ibope de setembro. Para um governo que recebe quase 80% de aprovação total, é uma nota dissonante.

Esses resultados refletem a média das opiniões da população. Incluem, portanto, as avaliações dos 80% que se utilizam dos serviços públicos de saúde e dos restantes 20%, que não são seus usuários.

Quando, no entanto, se pede a seus consumidores efetivos um julgamento mais pormenorizado, seja dos diferentes programas, seja do atendimento recebido em seus diversos níveis, o retrato muda.

Saímos de uma desaprovação geral – apenas um pouco menor que a dos não-usuários -, e encontramos avaliações quase sempre positivas (ou mesmo muito positivas).

Neste fim de ano, o ministério da Saúde está concluindo uma ampla pesquisa sobre o SUS, o Sistema Único de Saúde.

Ela corrobora o que outras já haviam mostrado a respeito das opiniões sobre diferentes programas e projetos da área, e apresenta alguns dados novos, de avaliação de aspectos específicos dos principais serviços oferecidos pela rede pública.

Em especial, do atendimento em postos e centros de saúde (usados por 55% dos entrevistados), hospitais (por 28%), prontos-socorros (por 13%) e maternidades (por 2%).

A reclamação mais frequente é quanto à rapidez. Somente um terço dos entrevistados diz ter sido “atendido rapidamente” em postos, hospitais e prontos-socorros. Mas, nos demais quesitos, todos se saem bem (ou muito bem).

No julgamento de resolutividade, acolhimento e instalações, predominam as respostas positivas: a resolutividade (“questão totalmente resolvida”) é sempre superior a 50%, o acolhimento (“muito bem” e “bem” atendido) é aprovado por mais de 70% e as instalações (“ótimas” ou “boas”) por mais de 50%.

As maternidades são as campeãs (92% no acolhimento, 74% nas instalações) e os prontos-socorros os menos aprovados. Contando a resposta “regular”, a avaliação negativa é sempre baixa.

Em função dessas opiniões – e em que pese a queixa quanto à presteza -, os usuários dizem ter ficado satisfeitos com o atendimento que receberam: os postos foram considerados satisfatórios por 74%, os hospitais por 70%, os prontos-socorros por 66% e as maternidades por 77% das pessoas que precisaram delas.

Como, então, explicar a imagem de calamidade pública que a saúde tem? Se seus usuários efetivos se dizem satisfeitos, se os não-usuários não têm condição de julgar, o que faz com que seja percebida como tão ruim?

A explicação deve estar no poder de difusão da informação negativa. Até quem tem uma experiência pessoal satisfatória acredita, talvez, que teve sorte. O que ouve falar, na mídia e nas conversas, parece mais verdadeiro.

O problema é que a “escandalização” de episódios negativos – reais, mas não típicos -, assusta as pessoas. Elas acabam com medo de um sistema que, quando visto de dentro, não é tão feio quanto parece.

Artigo publicado dia 11.12.11 no Correio Braziliense

* Marcos Coimbra é sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi