Com a falta de dados sobre ocorrências de trombose no Brasil, a Sociedade Brasileira de Trombose e Hemostasia – SBTH dá início à implantação de um programa de registros oficiais dos casos de trombose em parceria com centros hospitalares. De acordo com a SBTH, a cada ano mais de 200 mil brasileiros são acometidos por algum fenômeno trombótico e muitos desses eventos poderiam ser evitados. Entre maio de 2021 e abril de 2022, estima-se que houve quase 78 mil internações de pacientes nos serviços públicos em decorrência da trombose.

A trombose venosa é uma doença caracterizada pela formação de trombos (coágulos) nas veias de qualquer parte do corpo, mas principalmente nas veias das pernas, e que pode evoluir para uma embolia pulmonar caso o trombo se movimente pela corrente sanguínea. Embora constitua a terceira causa de óbito entre as enfermidades cardiovasculares, ela pode ser evitada na grande maioria dos casos. No Brasil ainda não existem dados robustos sobre a sua ocorrência na população. Como consequência, as estratégias públicas para mitigação da doença são baseadas em estudos divulgados por outros países – que possuem perfis étnicos e socioeconômicos diferentes do brasileiro.

Nesta primeira fase de implantação do programa de registros, foi formada uma rede com centros hospitalares localizados em Campinas, Botucatu, São José do Rio Preto, São Paulo, Barretos e Ribeirão Preto, cidades do estado de São Paulo, que incluirão no programa mais de 10 mil pacientes, convidados pessoalmente em sua primeira visita a algum hospital para então serem acompanhados, ao longo do estudo, por WhatsApp ou telefone.

“A gente gostaria de poder começar com vários centros no Brasil, mas, pelo tamanho do nosso país e para podermos ter mais experiência no desenvolvimento desse tipo de projeto, estamos iniciando pelo nosso estado”, esclarece a médica hematologista Joyce Annichino, professora, coordenadora da área clínica e laboratorial de Doenças Tromboembólicas do Hemocentro da Unicamp e vice-presidente da SBTH.

Um importante marco no início deste registro foi a inauguração em Campinas do Centro de Doenças Tromboembólicas (CDT) do Hemocentro da Unicamp. A iniciativa foi aprovada pelo Programa de Centros de Desenvolvimento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), que, junto com a Pró-Reitoria de Pesquisa da Unicamp, disponibilizou um aporte de R$ 4 milhões para a concretização do projeto. A inauguração do CDT irá impactar esse quadro ao estabelecer três grandes registros focados em trombose: o primeiro em adultos com quadro agudo da doença, o segundo em crianças hospitalizadas e o terceiro em pacientes com câncer – fator de risco para a ocorrência de eventos tromboembólicos.

Ao todo, 14 centros hospitalares compõem a rede do CDT: o Hospital de Clínicas, o Hemocentro e o CAISM – todos da Unicamp; o Hospital da PUC e o Hospital Dr. Domingos Boldrini em Campinas; o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Botucatu; o Hospital de Base da Fundação da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto; o Hospital do Amor de Barretos; o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) de Ribeirão Preto; e, na capital paulista, o Hospital Municipal Dr. Moysés Deutsch-M’Boi Mirim, o Hospital Municipal Vila Santa Catarina, o Hospital Santa Marcelina de Itaquera, o Hospital das Clínicas da USP e o Hospital Universitário da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

De acordo com Joyce, estudos pilotos sobre trombose foram realizados em Campinas no Hospital de Clínicas, no Hospital da Mulher José Aristodemo Pinotti – Caism Unicamp, no Hemocentro da Unicamp, no Hospital Celso Pierro da Pontifícia Universidade Católica (PUC) e no Hospital Dr. Domingos Boldrini. Na ocasião, foram avaliados 800 pacientes com câncer e cerca de 6 mil crianças internadas, mas, no caso de pessoas com trombose aguda, não foi possível dar sequência ao estudo devido à pandemia de covid-19. “Foram gerados dados bastante interessantes, porque não tínhamos nada do tipo no Brasil, mas, com o CDT, nós vamos avaliar um número muito maior de pacientes em um projeto multicêntrico, com a capital e várias cidades importantes do interior paulista, o que é muito mais relevante”, explica.

*Informações Assessoria de Imprensa

Fonte: Saúde Debate