Bem disposta, lúcida e repetindo que está muito bem, Zulmira Rosa de Sousa, 109 anos, é a paciente mais idosa já submetida a uma cirurgia na Santa Casa de Londrina. Ela fraturou o trocanter esquerdo – um dos ossos proximais do fêmur, e precisou de um implante intramedular de haste de fêmur bloqueada. Moradora de Alvorada do Sul, ela caiu dentro de casa ao levantar-se da cama e escorregar no chão úmido.

“Ela está muito bem. É uma ótima recuperação”, afirmou o ortopedista e traumatologista que conduziu a cirurgia, Vanderlei Montemor Bernardo, ao encontrá-la e analisar os exames do retorno. As orientações passadas à neta Janaína Gualberto Marestone é fazer a fisioterapia e começar a andar com o apoio do andador e auxílio de familiares. A cirurgia foi em 14/09 e transcorreu normalmente, com alta hospitalar em 48 horas.

CACHIMBO e CAFEZINHO – Esses detalhes da cirurgia e da recuperação não parecem preocupar dona Zulmira. Lúcida, falante e bem humorada, o interesse dela é outro. “Quero meu pito e um cafezinho”, afirma referindo-se ao cachimbo que ela prepara com fumo de corda. “Como acordar e não ter o cafezinho para fazer e beber, não é? Se tem o pão e a manteiga a gente come também”, conta a senhora de fala simples e riso cativante.

40% RECUPERAM AUTONOMIA COM AJUDA – “A família faz toda a diferença na recuperação pós-operatória do idoso”, ressalta Bernardo. Dos idosos que sofrem fraturas como a de dona Zulmira, 76% têm sobrevida além de 1 ano da cirurgia. Desses, 40% recuperam a autonomia anterior com auxílio de equipamentos como andador ou muleta. Isso, segundo ele, para uma faixa etária de até 85 anos. Fatores que acompanham a idade interferem nesse dado, como a osteoporose, fraqueza muscular e outros comorbidades.

“Não temos nada na literatura sobre a idade dela porque são pouquíssimos casos”, destaca. Apesar do baixo número, ele mesmo já operou outras três centenárias, a última tinha 107 anos e voltou a andar 1 mês depois da cirurgia. A própria dona Zulmira já havia operado o fêmur direito nos seus 102 anos, voltando a andar sem auxílio dentro de casa. Aliás, as únicas duas cirurgias ao longo do seu mais um século de idade.

PREVENÇÃO EVITARIA 40% DOS CASOS – Quedas de baixa energia dentro de casa, como aconteceu com dona Zulmira, estão entre os motivos mais comuns de fraturas em idosos.  O médico afirma que 40% dos casos das fraturas em idosos dos 60 aos 101 anos poderiam ser evitados com medidas simples. “É muito comum o idoso sair da cama com a luz apagada, tropeçar em coisas no meio do caminho e cair. No verão, até mesmo o fio do ventilador no chão pode ser obstáculo”, exemplifica. Por isso, ele destaca a importância de manter uma meia luz acesa no quarto do idoso; sentar-se por alguns instantes na cama antes de se levantar; eliminar tapetes; usar apoios e calçados antiderrapantes, entre outros.

BISNETO É UM SÉCULO MAIS NOVO – Nascida em 13 de julho de 1911, dona Zulmira é baiana de Barra da Estiva. Casou-se aos 13 anos, com o Antonio, com quem teve seis filhos. Por volta dos 16, o casal veio para o Paraná, quando Alvorada do Sul ainda era município de Porecatu. De lá não saiu mais. Antonio morreu cedo, aos 35 anos. E ela nunca mais se casou.  A neta Janaína, uma das mais novas, calcula que sejam 27 netos vivos. Bisnetos e tataranetos ela já não consegue contar. Mas calcula que passem de 80. A neta destaca que ela trabalhou na lavoura até os 75 anos. “Trabalhei muitos anos preparando a terra, catando lenha, derrubando o mato e plantando feijão, milho, café. De tudo o que é de comer”, completa dona Zulmira.

“NÃO TEM SEGREDO, NÃO” – Na Santa Casa de Londrina, a pergunta entre a equipe que a atendeu é uma só: Qual o segredo para tanta longevidade? Na comida, ela conta que não podem faltar o feijão e a farinha, “tudo bem temperado e uma pimentinha para dar sabor”.  Remédios? Além do controle da pressão arterial, só mesmo chás de plantas do próprio quintal, já que doenças crônicas como diabetes e outras tantas não a atingem. “Não tem segredo não. Eu tenho é natureza boa. Converso com um, com outro, é assim. Gosto de caçoar”, responde sem rodeios, emendando uma gargalhada que contagia.

Fonte: Santa Casa de Londrina