Julia Ghidetti, 35 anos , corretora de seguros. Aos 25 anos, Julia entrou como dependente no plano de saúde do pai. Por ser empresário, ele optou pelo benefício oferecido por um sindicato e contratou um plano intermediário, com direito a internação em apartamento e acesso a hospitais e laboratórios de referência. Julia ficou associada até recentemente, pagando 855 reais. “O valor estava muito alto e, no mês seguinte, com reajuste de 17%, eu passaria a pagar 1 009 reais. Tive de buscar outras opções.” Apertada, ela se filiou ao sindicato dos corretores e conseguiu baratear o custo do convênio médico. O serviço a que tem direito é similar, ainda que a rede de atendimento seja bem mais limitada. Ao menos, o preço de sua mensalidade cairá para 680 reais. “Não pensei duas vezes antes de tomar a decisão. Foi melhor assim.”

O publicitário Luiz Sztutman, de 39 anos, pagava em torno de 200 reais por seu plano básico de saúde e, em pouco tempo, viu a mensalidade subir para 400 reais. Depois que deixou o trabalho fixo, a conta ficou pesada para ele. Vivendo como autônomo e sem carteira assinada, tomou uma decisão difícil: encerrou o plano e hoje tem seguro médico. Sua história é o retrato fiel de um problema que vem atormentando a classe média. Nos últimos três anos, em decorrência do arrocho econômico, mais de 3 milhões de brasileiros deixaram de pagar o plano privado de saúde. Essas pessoas, na grande maioria, contavam com o seguro da empresa em que trabalhavam. Demitidas, não tiveram condições de contratar planos individuais ou familiares, bem mais caros que os coletivos oferecidos pelas companhias.

Sem os planos privados, elas agora precisam cobrir suas despesas de exames, consultas e internações exclusivamente com dinheiro do próprio bolso ou aguardar na fila do atendimento da rede pública — e isso em um momento no qual a qualidade do Sistema Único de Saúde (SUS), historicamente mal avaliada, tem sido ainda pior nos estados em crise financeira. Uma pesquisa divulgada na semana passada, feita pelo Datafolha sob encomenda do Conselho Federal de Medicina (CFM), atesta a insatisfação dos brasileiros: 54% avaliam o atendimento público como ruim ou péssimo, 28% como regular e somente 17% como ótimo ou bom.

Fonte: Veja