Em debate na Câmara, pesquisadores apontaram uma série de fatores que impactam na queda nas taxas de vacinação no Brasil, como a restrição de horário de funcionamento de postos de vacinação e a falta de comunicação nas redes sociais sobre as campanhas. Lara Haje traz mais informações.

Esses fatores estariam relacionados com o financiamento da saúde no Brasil, segundo os especialistas ouvidos pela Comissão de Seguridade Social. Eles alertam que a previsão orçamentária para 2020 na área de saúde, incluindo a área da vigilância em saúde, é inferior a 2019.

A queda nas taxas de vacinação é considerada a principal causa para a volta do sarampo no Brasil. A única forma de prevenir a doença é a vacina.

Segundo dados divulgados pelo Ministério da Saúde, este ano já foram registrados 9.304 casos de sarampo no Brasil, 94% deles no estado de São Paulo. Desses, 13 resultaram em morte. Conforme o Ministério da Saúde, a vacinação da 1ª dose de tríplice viral, que protege contra sarampo, caxumba e rubéola, caiu de 96% para 86%, entre 2015 e 2017.

Presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva, a Abrasco, Gulnar Azevedo e Silva elogiou o programa de vacinação do Ministério da Saúde, mas afirmou que alguns setores vulneráveis da população não estão sendo atingidos. Ela explica as razões, e as relaciona com a carência de recursos e com as políticas para a atenção básica de saúde.

Gulnar Azevedo: A questão do horário de funcionamento das unidades que estão fazendo a vacina é fundamental. Temos que garantir que não seja só três, quatro vezes por semana. Isso tem ocorrido no Rio de Janeiro, não há vacinação todos os dias da semana, nem todos os postos de vacinação estão abertos para fazer isso.

Outro problema que levaria à queda nas taxas de vacinação, segundo Gulnar Azevedo, seria a estratégia de comunicação do ministério.

Gulnar Azevedo: O que antes funcionava no Brasil, o Zé Gotinha, a televisão, o rádio chamando, hoje já não funciona tanto. A população jovem, as mães jovens não veem mais televisão como viam antigamente. Elas hoje usam formas rápidas de redes sociais, e já não é nem o Whatsapp, tem outras formas mais rápidas. Instagram e outras formas. Isso não garante que elas vão ser avisadas. Então essas estratégias de comunicação com a população têm que ser modificadas. Isso é muito mais importante do que a gente se preocupar com o movimento antivacina.

Pesquisador da Fiocruz, a Fundação Oswaldo Cruz, Cláudio Maierovitch afirma que, para lidar com a epidemia de sarampo, é necessário aliar a vacinação com ações de vigilância em saúde, para identificação rápida dos casos. Como o sarampo é extremamente contagioso, a vigilância epidemiológica teria que chegar muito rápido, para cortar a transmissão. Para isso, conforme Maierovitch, é essencial manter e ampliar as equipes de atenção básica de saúde nos municípios.

Cláudio Maierovitch: Nós tivemos um baque neste ano com a interrupção do Programa Mais Médicos. Estamos na expectativa de que novo programa Médicos pelo Brasil recupere essa perspectiva. No entanto, perdemos um tempo precioso, que em parte se expressa numa epidemia como esta que vivemos hoje.

O deputado Jorge Solla, do PT da Bahia, acrescenta que na atenção básica da saúde nos municípios tem havido alta rotatividade de profissionais.

No debate, o secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Wanderson de Oliveira, informou que 50% do orçamento da área já é destinado para o programa de vacinação. E disse ainda que os municípios irão receber incentivos de 206 milhões de reais para fortalecer ações de imunização contra o sarampo, dos quais 50% já foram repassados. Ele admite que é preciso uma mudança no paradigma de comunicação do ministério para aumentar a mobilização da sociedade em torno da vacinação.

Fonte: Rádio Câmara