O primeiro painel da sexta edição do fórum Mitos e Fatos se propôs a debater um dos aspectos mais criticados da saúde brasileira: a gestão. Claudio Lottenberg (presidente da UnitedHealth Group Brasil), Sidney Klajner (presidente da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein), Wilson Pollara (secretário municipal de Saúde de São Paulo) e Paulo Carrara (diretor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo) foram os responsáveis pela conversa. A mediação ficou por conta da comentarista da Jovem Pan Denise Campos de Toledo.

“Nosso sistema remunera o tratamento de doenças que poderiam ser evitadas se houvesse melhor educação do paciente. Falamos aqui em obesidade, tabagismo, sedentarismo. Quando passarmos o foco da promoção da saúde à frente do tratamento, vamos começar a mudar essa realidade”, disse Klajner ao apresentar a questão.

“Temos direito a tudo, mas discutimos pouco sua sustentabilidade. Isso é um grande problema”, seguiu Lottenberg. “Isso é tanto na saúde pública e na privada. Cerca de 48% dos gastos na área privada dizem respeito a 4% da população atendida e 53% dos gastos são em ambiente hospitalar. E muitos pacientes nem deveriam estar lá dentro. As pessoas procuram hospitais por questões que não são de saúde, são de cuidado. Tem paciente que interna para fazer inalação! Esse é o desperdício, por isso falamos de sustentabilidade. A situação é complexa. Estamos em um estágio de mudança cultural e isso é muito difícil. O engajamento do paciente vem da educação, do conhecimento”.

Carrara ressaltou ainda que a desorganização desse sistema faz com que as dificuldades sejam ainda maiores. Um exemplo: segundo ele, grande parte dos hospitais está lotada de pessoas que aguardam atendimento ao mesmo tempo em que metade dos leitos está ociosa. E aqui todos concordam: para começar a resolver essa e outras questões, diferentes poderes e instituições precisam trabalhar juntos pelos mesmos objetivos.

“Os modelos de gestão precisam se basear em políticas inter-setoriais e multiprofissionais. Precisam unir médicos, enfermeiros, assistentes. E precisa haver solidariedade. Não é viável montar uma estrutura completa em um município pequeno em que acontece um parto por dia. Esse município tem que fazer algum acordo com um município vizinho que seja maior para que esse outro atenda suas gestantes. Isso tem que acontecer com solidariedade. Não há como desenvolver bons modelos de gestão, como em alguns países europeus, sem espírito solidário”, afirmou.

À frente da Secretaria Municipal de São Paulo, Pollara, por sua vez, criticou a “municipalização da saúde”, alegando que nenhum município não tem condições de atender a população sozinho, e defendeu o programa de Saúde da Família como modelo a ser ampliado. “Não há como organizar o sistema sem o programa de Saúde da Família. É sem dúvida o melhor programa que temos”, concluiu.

Fonte: Mitos&Fatos – Jovem Pan discute Saúde