Os gestores da área da saúde estão buscando novos caminhos para promover uma melhor assistência com a utilização racional dos recursos. Uma das opções é o sistema DRG (Diagnosis-Related Groups), que incentiva a produção de informações para a gestão clínica de hospitais, correlacionando, por exemplo, os tipos de pacientes atendidos nas instituições com os recursos consumidos durante o período da permanência hospitalar. O tema será abordado durante o 28º Congresso Nacional das Santas Casas e Hospitais Filantrópicos no painel “Gestão da clínica: fazer melhor com menos”, no dia 16 de agosto, às 10h30, pelo diretor da Ethicon Brasil, na Johnson&Johnson, Fabrício Campolina.

O DRG é uma novidade que funciona como ferramenta para governança clínica, sendo um sistema de classificação de pacientes hospitalizados, em grupos homogêneos, de acordo com a complexidade. Desta forma, desfechos assistenciais e consumo de recursos tornam-se comparáveis e previsíveis. Segundo Campolina, o DRG é uma evolução em relação aos modelos de conta aberta e pacotes utilizados atualmente no Brasil. “Portanto, se comparado a nossa realidade atual, ele traz benefícios e, por isso, tem sido visto de forma favorável em vários fóruns”, disse, em entrevista à CMB. Vale lembrar que o próprio Ministério da Saúde está estudando a implantação do DRG.

O palestrante ressaltou, no entanto, que se o modelo não estiver atrelado a incentivos por melhora de indicadores clínicos, ele pode se tornar apenas uma modelo alternativo de pagamento que sacrifica qualidade clínica em favor de custos menores. “Os modelos mais recentes de remuneração hospitalar no mundo estão se focando em remuneração baseada em valor, que levam em conta não apenas a definição de um episódio de cuidado, mas também métricas de resultado clínico”, explicou.

Fabrício Campolina é coordenador do grupo de Valued Based Care do Instituto Coalizão e do grupo de Saúde 4.0 da Associação Brasileira da Indústria de Alta Tecnologia de Produtos para Saúde (ABIMED). Ele dividirá a mesa com o coordenador-geral dos Sistemas de Informação do Ministério da Saúde, Leandro Manassi Panitz.

Confira a íntegra da entrevista:

 

CMB – Existem muitas dúvidas sobre o que é o DRG. O Sr. pode explicá-lo?
Fabrício Campolina – Na década de 80, nos Estados Unidos, o modelo alternativo de remuneração conhecido como “pagamento prospectivo por caso tratado” foi implementado buscando aprimorar os modelos tradicionais baseados em Fee For Service. Neste modelo, o prestador é remunerado por cada caso tratado no próprio estabelecimento. A grande evolução neste modelo era a classificação dos casos em grupos com custos homogêmeos de forma a evitar incentivos para que os provedores selecionassem apenas os casos com menos complexidade. DRG (Diagnostic Related Group) é um sistema de codificação ou classificação que foi utilizado como base neste modelo de remuneração e que agrupa diagnóstico ICD, procedimento, idade, sexo e presença de comorbidades e complicações. Este sistema permite aos hospitais terem produtos a serem negociados com planos de saúde, visto que cada categoria é similar de um ponto de vista clínico e tem expectativa de uso similar de recursos do hospital. Por exemplo, haveria um código para cirurgia bariátrica para paciente com 30 anos, IMC acima de 40 sem comorbidade; e outro para cirurgia bariátrica para paciente de 60 anos, IMC acima de 40 e com Diabetes e Pressão alta. É importante esclarecer que existem sistemas distintos de codificação de DRG: MS-DRG (US), HRG (UK), que compartilham dos mesmos princípios.

CMB – Por que O DRG se tornou recomendável para o Brasil, merecendo, inclusive, a possibilidade de adoção do modelo pelo Ministério da Saúde?
Fabrício Campolina – O DRG é uma evolução em relação aos modelos de conta aberta e pacotes que temos no Brasil. Portanto, se comparado a nossa realidade atual, ele traz benefícios e, por isso, tem sido visto de forma favorável em vários fóruns. É importante destacar que implementar um sistema de pagamento prospectivo por caso tratado baseado em uma codificação DRG é melhor do que temos atualmente. Entretanto, se este modelo não estiver atrelado a incentivos por melhora de indicadores clínicos, ele pode se tornar apenas uma modelo alternativo de pagamento que sacrifica qualidade clínica em favor de custos menores. Os modelos mais recentes de remuneração hospitalar no mundo estão se focando em remuneração baseada em valor como, por exemplo, Bundle-Payments, que levam em conta não apenas a definição de um episódio de cuidado, mas também métricas de resultado clínico. Estes novos modelos buscam melhor coordenação de cuidados e alinhamento de incentivos entre pagadores e prestadores em torno de resultados relevantes para o paciente. Em conclusão, o DRG pode ser uma base importante, mas não suficiente. Alem disso, muitos destes novos modelos não requerem, necessariamente, a implementação de um sistema de DRG, mas, sim, um sistema robusto de gerenciamento de métricas.

CMB – As instituições que aderirem ao DRG necessitarão de sistemas informatizados específicos para operá-lo? 
Fabrício Campolina – As formas de gerenciamento clínico e econômico dos hospitais deverão se modernizar, incluir gerenciamento robusto de dados e capacidade de coleta e, principalmente, análise de indicadores. Além disso, hospitais e planos de saúde deverão pensar em sistemas de dados que sejam “intraoperáveis” – o futuro dependerá, também, de compartilhamento de dados entre os agentes da cadeia de saúde –, sempre preservando a privacidade e confidencialidade dos pacientes. Cada instituição deverá avaliar quais sistemas de TI e de codificação se enquadram melhor em sua estratégia.

CMB – Quais os benefícios do uso do DRG? Como sua implantação pode reduzir os custos assistenciais?
Fabrício Campolina – A vantagem do DRG é classificar adequadamente os procedimentos por complexidade e remunerar cada agrupamento conforme seus custos esperados. Desta forma, o DRG reduziria os riscos de desequilíbrio de relação prestador e plano de saúde, devido à realidade de case mix diferente da esperada; e de provedores dando preferência para atender os casos de menor risco. O DRG em si não diminui custos assistenciais se não for combinado com um trabalho sério de melhoria de processos clínicos e indicadores de qualidade. O DRG pode facilitar este processo, mas também oferece risco de incentivar o racionamento de cuidados ao paciente se não for bem definido e implementado. Temos que pensar, sempre, que o que diminui custos no sistema de saúde é manter as pessoas saudáveis e melhorar a eficiência e efetividade dos cuidados dos que se enfermam. Este objetivo requer mais do que um sistema de codificação, portanto, requer mais do DRG.

Fonte: CMB