Que o setor da saúde vem passando por uma série de transformações, isso pode ser visto diariamente. A pandemia de Covid-19 impulsionou uma série de processos e inovações. No entanto, as mudanças não podem parar e estão atreladas à uma palavra-chave: eficiência.

Essa é a opinião do presidente da UNIDAS – União Nacional das Instituições de Autogestão em Saúde, Anderson Mendes. Ele está à frente de uma das principais entidades relacionadas ao setor da saúde no país. Também é especialista em Governança Corporativa, possui certificado em Desenvolvimento de Dirigentes – Gestão de Serviços de Saúde pela FDC, pós-graduado em Gestão Estratégica de Negócios em Saúde e Gestão de Serviços de Saúde. Atualmente, é gerente executivo da CASSI e membro titular do Conselho Nacional de Saúde (CNS) e da Câmara de Saúde Suplementar da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), além de conselheiro no Instituto Ética Saúde.

Nesta entrevista para a seção Paradigma do Saúde Debate, Mendes destaca qual será o futuro da saúde e o que esperar de 2022.

Qual balanço que o senhor faz de 2021? Foi um dos anos mais desafiadores para a área da saúde?

Considero que sim, em função da pandemia. Uma situação nova, sem informação, sem precedentes, impactando o sistema de saúde de várias formas, inclusive de forma positiva – não foram apenas negativas. Ela realmente mudou muito o comportamento do sistema de saúde perante, principalmente, o usuário. Isso sofreu uma ruptura, para um novo modelo de consumo de serviço de saúde. O sistema se preparou muito rapidamente, o que considero um sucesso, em especial quanto à tecnologia. O sistema de saúde deu a resposta, como um todo, necessária. Foi um ano desafiador do ponto de vista de saúde, mas um ano de mais vitórias do que derrotas, quanto à resposta à pandemia. Lamentamos muito o número de mortes, mas a resposta de saúde superou as expectativas.

E de que forma esse contexto pode influenciar em 2022?

Acredito que 2022 será um ano muito pragmático de mudanças da lógica do sistema de saúde. Entre os pilares dessa mudança está o da inovação. Se analisarmos esse período de pandemia, não houve grandes novidades no processo de inovação em saúde, nem mesmo em relação à vacina. As tecnologias utilizadas para a vacina foram validadas há muito tempo, o que foi muito importante para a segurança. Se fosse um jeito novo, haveria dúvidas. Mas a pandemia trouxe uma aceleração dessas inovações. As empresas tiveram que arriscar mais, acelerar mais, colocar investimentos em projetos novos, que até então estavam guardados, para os quais ainda não havia um momento considerado “certo”.

A pandemia nos obrigou a colocar essas inovações em primeira mão. Além da vacina, houve a telemedicina, que é fundamental. No entanto, aqui também não houve nada de novo. Existem países com telemedicina há mais de 20 anos. Aqui, pensávamos ainda como fazer, de que forma… Veio a pandemia e virmos que entre atender em casa ou não atender, o melhor seria atender em casa.  Isso nos obrigou a colocar em prática e a investirmos nessa inovação. E o investimento, não só de recursos financeiros, mas também de recursos humanos, incluindo players de mercado, fez com que a gente passasse de uma utilização de uma Medicina praticamente experimental no Brasil (no caso da telemedicina) para um atendimento a milhares de pessoas.

Creio que 2022 vai marcar muito a consolidação dessas inovações.  Ele será um ano de ajustes dessas implementações de tecnologias à luz de algo um pouco mais trabalhado, pensado, avaliado tecnicamente.  Será o momento de aprender a utilizá-las melhor, com mais benefícios, sem a pressão da pandemia.

No último Congresso da Unidas, um dos motes foi discutir o futuro da saúde. Qual é esse futuro?

Sobre o futuro na saúde, fala-se muito que a única verdade sobre o longo prazo é que ele chega. O futuro da saúde vai passar, sem sombra de dúvidas, por uma mudança na forma de enxergar a saúde, que sempre foi muito para o “físico”, para a estrutura hospitalar. Pensava-se em ter um grande hospital, um grande número de credenciados…  Acredito que a mudança ocorrerá para maior valorização da saúde digital, na qual a informação será mais importante do que a estrutura física. Todos os players deste mercado – laboratórios, clínicas, hospitais, médicos, planos de saúde – vão ter que aprender a trabalhar mais a informação para melhorar a qualidade de saúde da população.

Esse é um processo natural que já aconteceu em outros sistemas, como o financeiro e de logística, por exemplo, que trabalham com mais informação hoje, apesar de menor estrutura física.  Creio que a saúde passa a viver, a partir de 2022, uma nova era. A era da informação, que vai trazer mais resultado, do que as questões de infraestrutura. Isso continua sendo importante, mas a informação vai nos ajudar mais do que instalação física. Como isso exige uma mudança cultural, o processo de transformação ainda vai levar algum tempo.

Unir esforços na área da saúde: “concorrentes” estão se juntando para diminuir custos e oferecer um novo serviço. Como o senhor vê esse movimento no mercado?

Esse é um ponto muito importante. Teremos um cenário ainda maior de colaboração. Não é também uma novidade, ainda mais se olharmos para outros setores, como o financeiro. Os grandes bancos se uniram para o serviço de abastecimento dos caixas eletrônicos. Isso dá um ganho de escala. A saúde também está passando por isso. Ter esses ambientes colaborativos faz a saúde ganhar eficiência. O grande problema nosso é que temos um dos sistemas mais ineficientes: chegamos a ter 40% de desperdício ou de ineficiência. É muito forte, num setor tão importante.

Nas autogestões, temos muito esse ambiente colaborativo, por meio de diversas plataformas, inclusive a de telemedicina. Temos 11 clínicas de atenção primária compartilhadas entre diferentes autogestões. A gente precisa ser eficiente e ter qualidade, ou nosso contratante vai preferir outra empresa. A colaboração e a existência de  ambientes colaborativos e de compartilhamento ajudam muito na eficiência. Isso permite condições comerciais mais competitivas, padronização, atenção maior de quem presta o serviço, o que atrai investimento…

Experiências assim mostram ao mercado que precisamos evoluir. Um laboratório, que se une a uma clínica, que se junta ao plano de saúde… Mesmo cada um atuando de uma forma na cadeia de valor, não necessariamente são concorrentes. Podem somar e somam. Juntos favorecem o ecossistema de saúde e toda a jornada do paciente.

O ponto-chave desta questão é a eficiência.

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Fonte: Saúde Debate