Médicos e representantes de hospitais afirmaram, nesta terça-feira (23), que as clínicas e os consultórios médicos brasileiros estão preparados para voltar a atender casos não relacionados à Covid-19, com responsabilidade e segurança.

Em videoconferência promovida pela comissão externa da Câmara dos Deputados que acompanha as ações de combate ao novo coronavírus, especialistas defenderam a realização de uma campanha para que pacientes voltem a seus tratamentos pelo menos nos estados ou nas cidades que já ultrapassaram o pico da pandemia.

“A gente tem visto em alguns estados hospitais parados, porque a população ainda não retomou essa atividade. E a gente tem visto número de óbitos por câncer superior a Covid. Muitos pacientes interromperam seus tratamentos, esperando a pandemia passar”, afirmou o deputado Dr. Luiz Antonio Teixeira Jr. (PP-RJ), coordenador do colegiado.

Relatora da comissão, a deputada Carmen Zanotto (Cidadania-SC) também defendeu o debate, agora que existe mais tranquilidade quanto ao abastecimento de equipamentos de proteção individual (EPI). “Tenho uma preocupação com a demanda reprimida neste período. Já tínhamos fila de espera para vários procedimentos. Essa fila de espera com certeza está sendo ampliada em razão da pandemia”, ponderou.

O presidente da Associação Médica Brasileira (AMB), Lincoln Lopes Ferreira, acrescentou que o conhecimento sobre a pandemia também vem aumentando, o que permite que determinadas decisões sejam tomadas agora. “Se formos esperar a evolução natural da doença e um achatamento da curva, vamos ficar dois, três, quatro anos. Por outro lado, o desastre econômico [com o fechamento de clínicas] teria um custo maior de vidas do que o da própria pandemia”, afirmou.

Outra preocupação de médicos em relação às clínicas vazias é justamente a falência de laboratórios e consultórios e demissão de funcionários. “Se os hospitais estão perdendo receita, as clínicas e os laboratórios perderam ainda mais”, disse o secretário executivo da Confederação Nacional de Saúde (CNSaúde), Bruno Sobral. Ele reforçou que hospitais estão preparados para a retomada, tendo investido em segurança e formação profissional. “O não tratamento é que vai ter consequência”, acredita.

Medidas
Conselhos de diferentes categorias médicas estão orientando profissionais a adotar medidas de segurança nas clínicas, como distanciamento entre pacientes nas recepções, correta higienização de aparelhos utilizados em exames, notificação de casos suspeitos e uso de EPIs, entre outras.

Consultora da Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp), a médica infectologista Camila Almeida também disse ser possível fazer triagem segura de pacientes de Covid e não Covid. “Em hospitais grandes, existem 3% de positividade em pacientes assintomáticos. Aqui fazemos 2,3 mil partos por mês e 3,5% de pacientas positivas vêm para parto eletivo. Não tinham nenhum tipo de sintoma e testaram positivo”, exemplificou ela, que atua em uma maternidade em São Paulo.

Representante da Unimed na videoconferência, Gabriel Massot disse ver o retorno das atividades como necessário para evitar complicações de doenças crônicas nas emergências. Segundo ele, a telemedicina ajuda, mas não é suficiente, sendo importante o exame físico. Ele destacou, entretanto, que os hospitais que já percebem uma queda nos casos de Covid-19 devem estar preparados para “um novo pico a qualquer momento”.

Informações
De seu lado, representantes da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e do Ministério da Saúde disseram que estão disseminando informação e recomendando que tratamentos importantes não sejam interrompidos, como pré-natal e atendimento de pacientes com câncer ou doentes renais crônicos.

A chefe de gabinete da Secretaria de Atenção Especializada à Saúde (Saes) do Ministério da Saúde, Maria Inez Gadelha, explicou que a retomada deve levar em conta a potencialidade de dano ao paciente por não ir ao médico e o nível de transmissão do coronavírus em uma região.

“Seria possível adotar protocolos rígidos e que todos observem porque, sim, é possível fazer os dois atendimentos”, disse Maria Inez Gadelha. Ela ressaltou, no entanto, que outros cuidados devem ser tomados, inclusive fora dos hospitais, como com o transporte.

Medicamentos
Parlamentares voltaram a manifestar preocupação com relação à falta de medicamentos sedativos necessários ao tratamento da Covid-19, assunto já discutido em outras reuniões. Carmen Zanotto disse que o papel do Ministério da Saúde é fundamental para resolver o problema. A deputada acredita que a indústria possa vender diretamente aos hospitais, caso se aponte que a responsabilidade pela falta é dos distribuidores.

Para Dr. Luiz Antonio Teixeira Jr., o governo pode fazer uma requisição de estoque. “Tem que pegar a Polícia Federal e invadir estoque para ver o que tem”, defendeu. “Tem que a Procuradoria-Geral da República fazer uma requisição e tomar o estoque da indústria e depois ver como paga”, disse ainda.

Na visão do parlamentar, problemas como esse é que deveriam causar preocupação. “A imprensa quer saber se nomeou militar, outro quer saber de fake news. Ninguém quer saber se o que afeta a população é falta de medicamento sedativo”, declarou.

Politização
Por sua vez, a representante do Ministério da Saúde criticou a “politização excessiva da medicina” e disse que tal fato desnorteia a população, gerando insegurança. Maria Inez Gadelha classificou como “irresponsabilidade” o consórcio feito por veículos de imprensa para obter diretamente das secretarias de saúde dados sobre a pandemia de Covid-19 no Brasil.

“As fontes são as mesmas. Isso eu chamo de irresponsabilidade com a sociedade, abrir outro ponto de informação e surpreendentemente utilizando os mesmos dados. Quem gera o dado é o atendimento. Esses dados são compilados e jamais manipulados”, afirmou Maria Inez Gadelha.

Fonte: Agência Câmara de Notícias

Fonte: Agência Câmara de Notícias