Resgatar a essência da Medicina, focando o atendimento no paciente e não na doença, é o princípio da equipe de cuidados paliativos do Hospital Universitário Cajuru. Desde 2016, a instituição tem uma Comissão que se dedica a atender os pacientes terminais e seus familiares, cuidando dos sintomas físicos, emocionais, sociais e espirituais da doença. “É uma abordagem para dar dignidade às pessoas nos momentos finais da vida”, resume o doutor Ronnie Ikeda, coordenador da Comissão de Cuidados Paliativos do HUC.

Ikeda vê a evolução dos cuidados paliativos como uma resposta ao uso intensivo da tecnologia na Medicina, que muitas vezes prolonga a vida de maneira desumana. “Muitos pacientes estão morrendo presos a aparelhos, em UTIs, longe da família. A partir da abordagem dos cuidados paliativos, a gente aprende a reconhecer pacientes que não vão se beneficiar da alta tecnologia médica”, explica.

Em seus três anos de atuação, a Comissão de Cuidados Paliativos já atendeu cerca de 300 pacientes e seus familiares. “O hospital tem uma equipe multidisciplinar que nos acompanha, com psicólogos, fisioterapeutas, farmacêuticos, enfermeiros, dentistas, fonoaudiólogos, nutricionistas e um capelão, com apoio das equipes do Voluntariado e das Pastorais. Todos trabalhamos juntos para aliviar o sofrimento das pessoas”, diz Ronnie Ikeda.

Mesmo em casos terminais, ainda há muito a fazer pelos pacientes, observa o coordenador da Comissão de Cuidados Paliativos. Ele considera que o trabalho do grupo resgata a essência da Medicina, antes do boom tecnológico, quando os profissionais da Saúde atuavam mais próximos dos pacientes. “Estamos retomando princípios que foram sendo esquecidos ao longo do século 20, priorizando uma aliança entre a técnica e os valores pessoais do paciente, considerando inclusive o que ele quer fazer com o tempo dele”, afirma.

O cuidado com a família do paciente continua mesmo depois do óbito. “Dez ou quinze dias depois do falecimento, a gente manda uma carta de condolências mostrando nosso carinho. Recebemos ótimos retornos com isso. Tem gente que emoldurou a carta e colocou na parede. Muitos telefonam agradecendo. Isso ajuda no processo de luto”, diz Ikeda.

Os fatos confirmam a avaliação de Ikeda sobre a excelência da equipe de cuidados paliativos do Cajuru. Em julho, o hospital recebeu equipamentos no valor de R$ 10 mil, doados por familiares de um ex-paciente cardíaco que faleceu no Cajuru. Eles organizaram uma feijoada para arrecadar os recursos. “Acompanhando o pai, pudemos ver de perto o esforço e empenho de todos. Isso fez toda a diferença pra gente. A ação de trazer esses equipamentos é uma forma de dizer muito obrigada”, diz Cassiana Veloso Conte. “Nosso pai tinha um ótimo plano de saúde. Poderia ir para qualquer hospital. Achamos melhor deixar no Cajuru depois que vimos como é o atendimento”, recorda Grigori Veloso Duarte.

A abordagem terapêutica de cuidados paliativos beneficia também os médicos e outros profissionais da saúde que atuam no Hospital Cajuru. “A gente percebe o amadurecimento da equipe em relação à aceitação da morte, que é uma consequência natural da vida. Em geral o pessoal se frustra com a perda de um paciente. Quando isso acontece, é porque se está focando na doença. Quando trata a doença, o médico pode ganhar ou perder. Quando trata o ser humano, você sempre ganha”, analisa. “A gente entende que não deve se frustrar com a morte, desde que a gente forneça os cuidados necessários para o paciente ter qualidade de vida até o último momento”, completa.

Fonte: Hospital Cajuru