O Brasil está enfrentando uma crise que atinge não apenas o setor econômico, mas também a política e a confiança da população. Nesse cenário de instabilidade, santas casas e hospitais filantrópicos lutam para manter o atendimento à população. Segundo o presidente da Federação das Santas Casas de Misericórdia e Hospitais Beneficentes do Estado do Paraná (Femipa), Flaviano Feu Ventorim, o momento exige união do Setor Saúde, lembrando que também existem oportunidades durante a crise. “Temos que focar na gestão, reunir os colaboradores, fazer ajustes, cortar gastos. Precisamos encontrar novas formas de fazer mais com menos, porque, caso o contrário, viveremos dias cada vez mais difíceis”, alertou.

A Femipa tem, atualmente, 63 afiliados. Segundo dados da Federação, aproximadamente metade deles soma mais de R$ 1 bilhão em dívidas, sendo R$ 319 milhões com empréstimos bancários, R$ 233 milhões com fornecedores e R$ 157 milhões de dívidas com tributos. “É uma situação difícil que vem se agravando a cada dia”, afirmou Flaviano, ressaltando, no entanto, que a crise econômica do setor hospitalar já existia mesmo antes das dificuldades generalizadas enfrentadas pelo País.

No Paraná, a situação dos hospitais filantrópicos e santas casas é amenizada pela boa relação com o secretário de Estado da Saúde, Michele Caputo Neto – que também é presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e será palestrante do 27º Congresso da CMB, no painel sobre a União do Setor para superar a crise. “A Femipa tem sempre trabalhado para conquistar e manter parcerias importantes. Esse bom relacionamento com a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) tem nos garantido uma porta aberta para levarmos nossas demandas e sermos ouvidos”, informou.

Para Flaviano, aliás, o Congresso da CMB “é uma excelente oportunidade para mostrarmos a nossa força, o que, neste momento, é fundamental. Precisamos estar bem representados em Brasília para podermos nos aproximar de deputados federais e senadores e buscar apoio para que o setor de saúde hospitalar filantrópico avance. Temos a plena certeza de que a CMB somente conseguirá exercer sua força se tiver apoio das santas casas e hospitais sem fins lucrativos de todo o Brasil, para mostrar aos parlamentares a importância que o setor de Saúde filantrópico tem para o país”.

Confira a íntegra da entrevista:

 

CMB – A crise econômica atingiu os hospitais do Paraná?
Flaviano Feu Ventorim – Os hospitais filantrópicos e santas casas vivem em uma constante crise, mesmo antes das dificuldades econômicas enfrentadas pelo país. No entanto, essa crise maior também afeta as instituições de saúde que atendem o SUS, já que há menos empregos e, com isso, mais pessoas migram para o atendimento público. Somente em Curitiba, os planos perderam mais de 45 mil clientes entre março de 2015 e março de 2017. Em dois anos – de junho de 2015 a junho deste ano-, foram realizados mais de 200 mil novos cadastros na Secretaria Municipal de Saúde. Isso significa que, nos últimos 24 meses, o sistema público de saúde da capital paranaense recebeu uma média de nove mil novos cadastros mensais.

Temos, hoje, 63 afiliados. Aproximadamente metade deles soma mais de R$ 1 bilhão em dívidas, sendo R$ 319 milhões com empréstimos bancários, R$ 233 milhões com fornecedores e 157 milhões de dívidas com tributos. É uma situação difícil que vem se agravando a cada dia.

CMB – Como a Federação tem se posicionado nesse sentido?
Flaviano Feu Ventorim – Sabemos que o Brasil está vivenciando, provavelmente, a pior crise política e de confiança de sua história. Essa instabilidade não é boa para a gestão de qualquer empresa, incluindo os hospitais, mas temos trabalhado para passar a mensagem aos nossos afiliados de que o momento exige união. Além disso, é importante ressaltar que toda crise traz também inúmeras oportunidades. Temos que focar na gestão, reunir os colaboradores, fazer ajustes, cortar gastos. Precisamos encontrar novas formas de fazer mais com menos, porque, caso o contrário, viveremos dias cada vez mais difíceis.

A Femipa, como entidade que defende os interesses dos hospitais filantrópicos e santas casas, acredita que é preciso discutir projetos e propostas que afetam diretamente o dia a dia de cada um de nós. Por isso, estamos sempre atentos a projetos de Leis que possam nos afetar e procuramos sempre estar em contato com os parlamentares estaduais e federais, buscando apoio à nossa causa. Assim como a Federação, os hospitais afiliados também fazem continuamente um movimento de pressão política, de controle, para que isso se reverta em prol da Saúde do Paraná e do Brasil.

CMB – Como os gestores estão lidando com os contratos com os hospitais que atendem o SUS? Há problemas na contratualização?
Flaviano Feu Ventorim – Sim, há problemas quando o assunto é contratualização. Muitas vezes os gestores municipais e os hospitais não entram em acordo, em especial no quesito “produção x remuneração”. De um lado estão os hospitais que têm atendido mais pacientes que o contratualizado; do outro, os municípios alegando que não têm recursos para pagar, visto que não há aumento de teto MAC e já investem acima do mínimo estabelecido na Lei. Os debates são intensos e alguns afiliados realmente estão em situação muito difícil. A Femipa tem tentado ajudar, junto com a Secretaria de Estado da Saúde, na busca de solução para estas questões pontuais, mas ainda sem uma solução definitiva.

CMB – O apoio do secretário estadual de Saúde contribui para minimizar os problemas?
Flaviano Feu Ventorim – Costumamos dizer que a situação dos hospitais filantrópicos e santas casas do Paraná não é pior por conta da boa relação com o secretário de Estado da Saúde, Michele Caputo Neto. Conseguimos grandes avanços, como o HospSUS, que é uma importante ferramenta de custeio e investimentos e veio cobrir lacunas que ficaram no passado por conta da falta de reajuste na tabela do SUS e do corte de incentivos. Agora, estamos na expectativa de que o HospSUS seja transformado em uma política de Estado, o que vai dar tranquilidade ao gestor para saber o que vem pela frente. Segundo o secretário Caputo Neto nos informou, o projeto de Lei deverá ser enviado para a Assembleia Legislativa do Paraná (Alep) ainda neste segundo semestre. A Femipa tem sempre trabalhado para conquistar e manter parcerias importantes. Esse bom relacionamento com a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) tem nos garantido uma porta aberta para levarmos nossas demandas e sermos ouvidos.

CMB – A parceria com política (não partidária) é importante para os hospitais?
Flaviano Feu Ventorim – A parceria com a política certamente é um ponto de esperança para todos nós, porque com as dificuldades que enfrentamos, quanto mais apoio tivermos, melhor. Além disso, é da política que saem as emendas parlamentares, recursos que podem fazer grande diferença para os hospitais. Vivemos anos de tabelas defasadas, recursos insuficientes e falta de olhar para a filantropia. Agora, que temos tido mais espaço, precisamos aproveitar o momento para reivindicar avanços. Nas eleições estaduais de 2010 a Femipa buscou todos os candidatos a governador e entregou um caderno de propostas com sugestões que tinham por objetivo integrar os hospitais ao sistema de saúde estadual e com ações de sustentabilidade financeira inclusive.

CMB – O 27º Congresso da CMB vai começar no dia 15 de agosto, quando se comemora o Dia Nacional das Santas Casas de Misericórdia. Como o Sr. vê a situação dos hospitais filantrópicos atualmente? Há o que comemorar? Que passos ainda precisam ser dados?
Flaviano Feu Ventorim – Tivemos avanços em alguns casos, como no Paraná, com uma parceria maior entre o setor hospitalar filantrópico e a Secretaria de Estado da Saúde, mas ainda é possível ir além. Encontrar formas mais modernas de remuneração, por exemplo, é algo que precisa acontecer. Não podemos ficar atrelados a uma tabela defasada de valores por procedimento. Ao mesmo tempo, precisamos criar um caminho de diálogo mais permanente com os legisladores, que precisam estar atentos à realidade dessas instituições antes de defender qualquer projeto de Lei que pode impactar financeiramente os hospitais, sem previsão de novos recursos.

CMB – Qual a importância de participarem do Congresso nacional da CMB? O encontro com parlamentares é um diferencial?
Flaviano Feu Ventorim – O Congresso da CMB, como já ressaltamos aos nossos afiliados, é uma excelente oportunidade para mostrarmos a nossa força, o que, neste momento, é fundamental. Precisamos estar bem representados em Brasília para podermos nos aproximar de deputados federais e senadores e buscar apoio para que o setor de saúde hospitalar filantrópico avance. Temos a plena certeza de que a CMB somente conseguirá exercer sua força se tiver apoio das santas casas e hospitais sem fins lucrativos de todo o Brasil, para mostrar aos parlamentares a importância que o setor de Saúde filantrópico tem para o país.

O encontro com parlamentares é, sim, um grande diferencial, porque podemos encontrar em um mesmo lugar deputados federais e senadores e falar de uma só vez sobre a nossa causa, os problemas e desafios que enfrentamentos e de que forma eles podem nos ajudar. Nosso caminho nem sempre é fácil, mas com a união de esforços, conseguiremos ser ouvidos.

Fonte: CMB