Para estimular as boas relações de trabalho, desenvolver e reter talentos, propor melhorias e manter equipes estruturadas que atendam às demandas das instituições de Saúde, os gestores de Recursos Humanos têm ganhado cada vez mais destaque no dia a dia dos hospitais. Mas para garantir o sucesso na atividade, a gerente de RH do Hospital Pequeno Príncipe, Michele Gomes, avalia que é fundamental que o profissional da área participe do planejamento estratégico da entidade, com espaço para fazer apontamentos e intervenções. É assim que ele poderá trabalhar para ajudar a difundir a cultura organizacional, os valores e a dinâmica do hospital.

“Um gestor de Recursos Humanos pode ajudar no crescimento das empresas, mas, para isso, é muito importante que o profissional tenha essa visão sistêmica do negócio, conhecendo as competências, as demandas e as particularidades do segmento hospitalar, que é bem específico. O gestor, de modo geral, precisa ter uma visão ‘além da caixa’ e ter persistência para atingir os resultados necessários. Muitas vezes o movimento na área da Saúde é mais lento, e percebemos que não adianta ‘chegar com tudo’; é preciso entender o tempo da instituição, ser persistente e mostrar o valor e a importância de um determinado investimento no tempo certo”, descreve.

Para que o gestor consiga trabalhar com uma equipe que atenda aos aspectos estratégicos da instituição, Michele aponta que é preciso ter espírito de equipe, capacidade de liderança, familiaridade com a tecnologia, bom senso, entre outras características. Ela também indica que o profissional precisa ser integrador, um facilitador nas relações entre a instituição e o colaborador e vice-versa.

“Sabemos que, às vezes, existem conflitos de interesses, então o gestor de RH tem que estar preparado para isso também. Lidar com pessoas é um desafio constante. Por isso, o profissional tem que entender relações, entender pessoas, ter maturidade, bom senso, saber escutar, ter uma percepção rápida das coisas. Tem que fazer uma leitura bem ampla do ambiente, para que, no momento de conflito, seja um facilitador”, indica.

No trabalho do gestor de RH, algumas ferramentas podem ajudar o profissional. Marli Credidio, gerente de Gestão de Pessoas da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Curitiba, afirma que uma das principais é a análise de indicadores, mas também é possível utilizar outras técnicas, como pesquisa de clima, avaliação de desempenho, programas de engajamento, entre outras ferramentas. Além disso, outro ponto importante citado pelas profissionais é o de criar um ambiente saudável para as pessoas. Marli sugere investir em programas de qualidade de vida, de engajamento e de humanização.

“Programas de engajamento podem ser a partir de reuniões, espaço para sugestões, conversas com as equipes e com os líderes, por exemplo. Com relação à qualidade de vida, pode-se trabalhar ergonomia, alimentação e atendimento social aos colaboradores. É importante trabalhar essas questões de humanização, priorizando o bem- -estar no ambiente de trabalho como um todo, para que as pessoas possam se sentir bem”, destaca Marli.

ENTREVISTA

Para destacar a importância de um gestor de Recursos Humanos para as instituições de Saúde e falar sobre os desafios da profissão, o Jornal Voz Saúde conversou com a presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH-PR), Susane Zanetti. Acompanhe a entrevista a seguir.

De que forma o gestor de Recursos Humanos pode ajudar no crescimento das empresas?

O profissional de RH tem múltiplos papéis, como contribuir com a criação de culturas saudáveis, fazer a gestão de talentos e lidar com novas modalidades de relações de trabalho. Também é preciso entender que as novas tecnologias exigirão novos modelos de negócio e apoiar a empresa na direção de ganhos de eficiência, redução de custos e melhoria de processos na área de Gestão de Pessoas. Sua maior ação para o crescimento é conscientizar a organização sobre as mudanças que estão por vir face à Revolução 4.0, e ser o facilitador do processo de gestão da mudança.

Quais são os principais desafios?

Entres os principais desafios estão o de ter o presidente da empresa como patrocinador dos processos de Gestão de Pessoas; falar o idioma do negócio e liderar processos em transformação; e atuar como verdadeiro cientista social e adaptar-se às exigências da transformação digital. O papel do RH é também de influenciar líderes na formação de pessoas e equipes.

Como encarar os conflitos dentro de um ambiente de trabalho?

Há uma visão tradicional do conflito como algo que deve ser eliminado, depois se avançou para uma percepção do conflito como algo natural e, posteriormente, se compreendeu que um nível saudável de conflito deve ser estimulado. Os conflitos fazem parte de qualquer situação, seja na vida pessoal, seja na empresarial. O conflito de ideias é saudável, e deve ocorrer para podermos ampliar nossa mente para algo que ainda não havíamos pensado. Para Patrick Lencioni, não ter medo de conflitos é uma das etapas para construção da Cultura da Confiança.

Como o gestor de RH deve estar preparado para administrar os conflitos?

O gestor precisa, em primeiro lugar, saber fazer a gestão de conflitos para ser um mediador destes conflitos. Também precisa identificar oportunidades, diagnosticar as dificuldades, ser mediador do envolvimento das pessoas nos objetivos da organização, ser agente de mudanças. Além disso, ele deve ser exemplo como líder na sua própria área, atuando com seus superiores, pares e liderados como expert em conflitos para poder ser referência. Também é importante desenvolver e incentivar um ambiente empresarial com tolerância a conflitos.

E quais as principais habilidades para isso?

Inteligência emocional, comunicação, negociação e gestão de conflitos. Desenvolver essas ferramentas envolve aceitar a possibilidade que será um desafio, que poderá haver dificuldades, que elas poderão ser superadas e que o resultado será recompensador. Uma boa estratégia para a gestão de conflitos envolve desenvolver a arte de ouvir, assumir que somos responsáveis pelo nosso comportamento, criar espaço que favoreça o diálogo, estimular a negociação, fazer a mediação e reconhecer a diversidade do ser humano.

Como criar um ambiente saudável para as pessoas?

Tudo passa pela construção de uma Cultura da Confiança, que envolve justamente cinco etapas, segundo Patrick Lencioni: ter confiança; não ter medo de conflitos; ser comprometido com resultados coletivos; ter responsabilidade; e caminhar na direção de resultados coletivos.

Habilidades necessárias do profissional de RH ƒ

– Liderança inspiradora e transformadora;
– Flexibilidade para estimular novas ideias;
– Estimular o respeito e a diversidade;
– Incentivo ao trabalho em equipe;
– Aprendizado com o erro e apoio para que se corra riscos;
– Autonomia, com liberdade para tomar suas próprias decisões.

Fonte: Jornal Voz Saúde