Os casos de maus-tratos e abusos contra crianças devem ser observados por profissionais da saúde. É obrigação das unidades de saúde, sejam públicas ou privadas, atentar-se para as suspeitas de violência contra a criança. A comunicação deve ser realizada conforme as orientações das legislações vigentes. Os maus-tratos e abusos contra crianças se tornaram problema de saúde pública, além de serem crimes previstos no Código Penal e no Estatuto da Criança e do Adolescente.

“Por serem indivíduos praticamente indefesos, na maioria das vezes é muito difícil identificarmos os casos apenas através da história clínica, é necessário observar manchas suspeitas no corpo e o comportamento da criança durante o atendimento (normalmente inibição, pouca fala, sensação de intimidação, choro inconsolável)”, explica Gabriel Farias da Cruz, gerente da unidade de terapia intensiva pediátrica do Hospital Icaraí, de Niterói (RJ), e membro titular da Sociedade Brasileira de Pediatria.

O médico ressalta ainda que um grande percentual dos casos não chega às unidades de saúde. Quando chegam, podem ser omitidos, pois a maioria dos atos é cometida por pessoas da própria família. Ele cita como exemplo o caso do menino Henry Borel, de 4 anos, que morreu em março. Foi no hospital que se levantou a suspeita de que a criança foi vítima de violência. “Muitas outras crianças podem precisar de socorro urgente. Devemos proteger sempre as nossas crianças”, alerta Cruz, o que reforça a necessidade de casos de maus-tratos e abusos contra crianças serem observados por profissionais da saúde.

Para Ana Regina Caminha Braga, psicopedagoga especialista em Gestão Escolar e Educação Inclusiva, essa situação traz à tona uma discussão que precisa ser abordada de forma categórica pela sociedade: como os professores e adultos que convivem com crianças podem identificar indícios de abuso? “Todo episódio ou circunstância de maus-tratos causa efeitos comportamentais. Nós adultos, como únicos elementos capazes de livrar a criança deste tipo de situação, precisamos estar atentos às alterações de conduta em todos os ambientes sociais”, aponta.

De acordo com ela, a condição de abuso causa medo e insegurança na criança, gerando dificuldade em falar sobre o assunto. Portanto, em geral, elas acabam manifestando de maneira implícita. “Nesses contextos, o mais importante é observar e conhecer muito bem a criança pelo qual se é responsável. É necessário perceber, por exemplo, se repentinamente ela começa apresentar uma agressividade ou sensibilidade fora do normal, se a criança é agitada e passou a ficar muito silenciosa e, até mesmo, se ela apresentou queda no desempenho escolar. Sempre há indicativos de que há algo errado”, alerta a especialista.

De acordo com a psicopedagoga, os sinais mais comuns são: falta de apetite; agressividade; choros fora do normal; não querer ficar sozinho; no caso de crianças maiores, voltar a fazer xixi na cama ou as necessidades nas roupas; pesadelos; passar a roer unhas; apatia; e sintomas físicos frequentes ligados a stress e ansiedade, entre eles diarreia, dor de estômago, tontura, náusea, vômito, taquicardia, alergias e dermatites. Além disso, é imprescindível ouvir, respeitar e investigar as vontades ou recusas da criança. “É preciso estar atento se a criança repete muito que não quer ir à escola, ou a casa de alguém, ou estar em determinado lugar. Se não gosta de estar perto de certo adulto, se desvia o olhar dessa pessoa ou se passa a mentir para evitar ir a lugares ou conviver com a pessoa. Crianças são imaturas e têm total confiança nos adultos. Ela busca acolhimento no adulto com o qual se sente segura, e se isso não é ouvido, vai demonstrar de outras formas. Crianças replicam exemplos e sentimentos que vivenciam. Se ela passa a morder e beliscar os colegas na escola, pode estar acontecendo algo”, explica.

Ainda segundo a especialista, outra atitude bem importante é não duvidar dos sentimentos da criança, do que ela fala ou demonstra. “Precisamos deixar o termo ‘geração mimimi’ de lado. É muito preocupante ver pais e responsáveis dizendo que não se pode falar mais nada e denominando determinadas reações e comportamentos infantis como bobagens, sendo que muitas vezes pode ser um pedido de ajuda que está sendo negligenciado por quem deveria promover a proteção dessa criança”, completa.

* Com informações das assessorias de imprensa

Fonte: Saúde Debate