A Anvisa aprovou, no dia 3 de dezembro, a criação de uma nova categoria de produtos derivados de Cannabis. A medida busca atender pacientes que possam se beneficiar desse tipo de produtos e que, atualmente, não estão disponíveis no mercado nacional. O texto aprovado prevê que o comércio seja feito exclusivamente por farmácias e mediante receita médica de controle especial. A informação foi discutida durante o Congresso Brasileiro do Sono, que ocorreu em Foz do Iguaçu, de 4 a 7 de dezembro.

A Dra. Danielle Salvati de Campos Malaquias, otorrinolaringologista do Hospital São Vicente, participou do Congresso e está atenta às novidades. A cannabis sativa (maconha ou marijuana) é a droga ilícita mais consumida no mundo desde 1960. O princípio ativo fitocanabinoide mais conhecido é o D-tetra-hidrocanabinol (THC), que foi isolado em 1964.

E então surge uma enorme descoberta: o sistema endocanabinoide. “Assim como o sistema circulatório, sistema respiratório, sistema linfático, o sistema endocanabinoide encontra-se amplamente relacionado ao bom funcionamento do corpo humano. Em 1988, o primeiro receptor canabinoide foi identificado – CB1 – e, em 1993, um segundo receptor – CB2. Os ligantes endógenos dos receptores canabinoides – os endocanabinoides – foram isolados em 1992. Nos dias atuais, anandamida e o 2-araquidonoil glicerol são os mais estudados”, afirma.

Atualmente, inúmeros análogos sintéticos – nabiximol (mevatyl), nabilona, dronabinol – da Cannabis sativa têm sido prescritos como antiemeticos e estimulantes de apetite no tratamento da dor crônica ou anorexia/caquexia, em pacientes com doenças oncológicas em tratamento quimioterápico ou fases avançadas de AIDS. Outro fitocanabinoide é o CBD, que apresenta efeito analgésico, anti-inflamatório, antioxidante, ansiolítico, antidepressivo, neuroprotetor, imunomodulador, entre outros.

O CBD, diferente do THC, mostrou ter efeito ansiolítico. Em indivíduos com ansiedade generalizada, mostrou considerável melhora quando comparado ao efeito placebo, e apresentou efeito benéfico no sono.

“Assim, diferentes canabinoides parecem ter efeitos diversos no sono. O uso regular da maconha, assim como o uso de dronabinol e nabilone, podem ter um efeito negativo no sono, inclusive reduzindo a quantidade de ondas lentas. Do outro lado, o uso de CBD, quando usado em médias a altas doses, apresentou efeito sedativo e melhora da qualidade do sono. Então, esperamos que novos estudos possam esclarecer se poderemos contar com tal fitocanabinoide no futuro tratamento da insônia”, complementa a especialista.

A Anvisa publicou, no Diário Oficial da União de 11/12, a Resolução da Diretoria Colegiada 327/2019, que elenca os requisitos necessários para a regularização de produtos derivados de Cannabis. A regulamentação entra em vigor em 90 dias e deverá ser revisada em até três anos, em razão do estágio técnico-científico em que se encontram produtos à base de Cannabis mundialmente.

Fonte: Hospital São Vicente