A alta generalizada do desemprego, impulsionada pela crise do coronavírus, enfraqueceu a carteira de clientes dos planos de saúde em Curitiba. As operadoras da Capital fecharam o período entre abril e junho de 2020 com 8,3 mil usuários a menos, na comparação com o último trimestre do ano passado. O recuo aumentou ainda mais a pressão sobre o Sistema Único de Saúde (SUS) e sobre as projeções já retraídas dos hospitais beneficentes e privados da região.

Os dados são da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e revelam ainda que a redução em Curitiba representa 77% da retração registrada em todo o Paraná no mesmo período. No último trimestre de 2019, 977,7 mil curitibanos tinham acesso à Rede Privada de Saúde por meio de planos. Entre abril e junho deste ano, o total de usuários das operadoras particulares ficou em torno de 969,3 mil.

A gente ainda não consegue prever qual vai ser o impacto em cada hospital, mas essa queda preocupa muito. Com a pandemia, primeiro vimos uma fuga de pacientes com medo de se contaminar. Depois, tivemos o impacto do cancelamento de [consultas e cirurgias] eletivas. Agora, os planos de saúde. São fatores que vêm colocando os hospitais numa dificuldade operacional e, por consequência, financeira muito grandes”, avalia Flaviano Ventorim, presidente da Federação das Santas Casas de Misericórdia e Hospitais Beneficentes do Estado do Paraná (Femipa).

O encolhimento na carteira das operadoras de planos de saúde em Curitiba é reflexo direto do desemprego. Prova são os contratos coletivos empresariais. Foram eles os que mais perderam espaço no segundo trimestre de 2020, com 9.547 usuários a menos. Na outra ponta, um crescimento tímido trouxe 660 novos clientes para planos familiares.

Conforme a ANS, a queda mais significativa foi entre beneficiários de 20 a 24 anos, justamente a fatia da população que mais sentiu o abalo da desocupação crescente durante a pandemia. Ao todo, são menos 1,9 mil jovens curitibanos com planos de saúde – uma redução de 15% de usuários nesta faixa etária.

“Nós temos, no Brasil, o perfil de que quem paga o plano de saúde são os empresários, e o advento da crise tem impacto direto nos planos. Uma porque cresce o número de pessoas desempregadas, e outra porque o plano de saúde, por ser um benefício, pode ser cortado em momentos de crise”, observa Ventorim. “E tem outro viés disso tudo. Esse indivíduo que antes tinha plano vai para o SUS que, em tese, com a queda da economia, tem menos recurso vindo da União. É ainda mais gente para dividir a fatia do bolo.”

Parte do grupo de risco da Covid-19, os idosos estiveram entre os que impediram uma queda mais acentuada do setor. No intervalo de tempo analisado, cerca de 2,6 mil pessoas com mais de 60 anos se tornaram beneficiárias da Rede Privada na Capital paranaense.

Hospitais pedem socorro

A redução de clientes de planos de saúde agrava ainda mais a situação de hospitais particulares e filantrópicos em Curitiba, que dependem em grande parte do serviço das operadoras.

Na semana passada, a Santa Casa de Misericórdia de Curitiba começou uma campanha de arrecadação de fundos para ações de combate ao coronavírus. A proposta é juntar R$ 1,5 milhão em doações. Os recursos serão empenhados na compra de medicamentos, insumos médicos, equipamentos de proteção individual, alimentos não perecíveis e na cobertura de outras despesas decorrentes das ações para enfrentar a disseminação da Covid-19.

“Podemos dizer que os hospitais privados estão sofrendo tanto ou mais do que as filantrópicas, porque não têm nenhum apoio governamental. Esses hospitais, as clínicas, os serviços de exames estão num momento de risco de redução de estrutura, o que nunca tinha acontecido. E quando começar a passar a Covid, se tiver que recuperar ainda usuários de planos de saúde, a recuperação desses hospitais vai ser mais longa”, alerta presidente da Femipa.

Fonte: Plural