O novo ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, afirmou em seu discurso de posse que pretende criar um terceiro turno –no período da noite– para atendimento nos postos de saúde no país. O médico e ex-deputado federal não deu detalhes sobre o programa, mas há duas iniciativas bastante diferentes, já colocadas em prática no país, que podem dar uma ideia de como projetos desse tipo funcionam.

Pelas poucas informações até agora disponíveis, o plano de Mandetta tem como foco a atenção básica –primeiro nível de atendimento, que inclui também a prevenção.

A princípio, trata-se de um sistema parecido com o de atendimento estendido realizado em unidades municipais de saúde em Porto Alegre. Já em São Paulo, o “Corujão da Saúde” ofereceu um serviço também noturno, porém com proposta diferente: no primeiro trimestre de 2017, a gestão do então prefeito João Doria criou um mutirão para agendamento de exames de imagem realizados entre 20h e meia-noite em hospitais filantrópicos.

A julgar pela experiência paulistana, são grandes os desafios. Maurício Faria, conselheiro do Tribunal de Contas do Município de São Paulo e relator de uma auditoria feita no Corujão, apontou quais são a pedido do UOL: gastos necessários para o funcionamento de um terceiro turno (médicos, enfermeiros, equipes de recepção, de limpeza, de manutenção), falta de transporte público nesse período para os pacientes chegarem até o local e também falta de segurança, que pode ser um problema maior durante a noite.

Segundo a Prefeitura de São Paulo, o investimento foi de R$ 17 milhões no programa em esquema de mutirão, que durou 90 dias.

A auditoria do TCM apontou que não houve redução na espera: a fila reduziu, mas voltou a aumentar no mês seguinte ao encerramento do programa.

Na capital gaúcha, o atendimento até as 22h –geralmente as unidades de saúde fecham às 17h– fez parte das promessas de campanha do prefeito Nelson Marchezan (PSDB). O projeto foi colocado em prática em março de 2017 e hoje está disponível em três unidades –até o final do mandato, em 2018, o objetivo é somar oito.

Cerca de 45 mil pacientes passaram por consultas no período noturno -além de médicos e enfermeiros, há também dentistas.

“O número é alto, maior que o esperado. Nossa capacidade é 100% ocupada nesse período. Identificamos um grande número de pessoas que nunca havia se consultado de dia, por causa do horário de trabalho, e agora usa o serviço”, diz Thiago Frank, coordenador da Atenção Primária à Saúde da secretaria de saúde de Porto Alegre.

Para Frank, o principal desafio está justamente em atender à demanda: em alguns casos sem gravidade, o paciente não consegue ser atendido naquela mesma noite.

“Isso nos impulsiona a abrir as cinco outras unidades o mais rápido possível, para dar uma resposta à população. A gente achava que teria dificuldade para captação de profissionais para trabalhar à noite, mas a previsão não se confirmou: muitos já têm emprego durante o dia e se interessam pelo turno estendido.”

Em média, continua o coordenador, o gasto mensal de cada unidade com o atendimento noturno chega a R$ 100 mil –valor que considera proporcional às horas extras de funcionamento.

Quanto aos desafios de transporte e segurança apontados, ele afirma que os postos de Porto Alegre foram selecionados de acordo com sua localização de fácil acesso: uma delas fica dentro de um terminal de ônibus. “Essas áreas com muita circulação de pessoas já criam um ambiente de mais segurança. Não tivemos nenhuma situação mais grave nesse sentido”, afirma o coordenador.

Fonte: UOL Política - Juliana Carpanez - https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2019/01/20/sp-mostrou-que-nao-e-simples-posto-de-saude-a-noite-como-quer-ministro.htm