Conhecida como Síndrome de Ménière, a doença é um distúrbio no ouvido interno que causa episódios de tontura, zumbido e perda de audição. Procedimento foi o primeiro realizado no hospital

Helena Papa é uma entusiasta musical. A colaboradora do Hospital Santa Casa de Curitiba ama cantar, afinal, participava de uma banda musical da Igreja desde os nove anos e a música sempre fez parte da sua vida. No entanto, a paixão de Helena teve que ser interrompida por problemas de saúde: ela já não escutava como antes.

O diagnóstico veio anos depois. Após diversos exames e testes realizados, os médicos chegaram à conclusão de que tudo apontava para a Síndrome de Ménière, um distúrbio do ouvido interno que causa a perda de audição. “Foram anos de exames para tentar identificar a doença, senti muitas dores de cabeça e tive que me adaptar com aparelhos, mas não funcionava”, desabafa Helena. Nesse meio tempo, a adaptação com a sua condição a obrigou a largar muitas das atividades que gostava de fazer, incluindo a música, a faculdade de Serviço Social bem como seu trabalho com o público.

Porém, o tratamento uma hora veio. Após uma consulta com o otorrinolaringologista da Santa Casa de Curitiba, Dr. Gabriel Murara, a paciente, que também é colaboradora do hospital, teve sua esperança renovada: iria fazer o implante coclear. No procedimento, ela implantou um equipamento de alta complexidade, que é utilizado para restaurar a função auditiva dos pacientes que já não se beneficiam com os aparelhos convencionais. Essa foi a chance de Helena poder ouvir novamente.

O primeiro implante do tipo a ser realizado na Santa Casa de Curitiba

O implante coclear é uma prótese auditiva cirurgicamente implantada no ouvido interno do paciente. Ele é popularmente chamado de ouvido biônico. A técnica usa estimulação elétrica para gerar sensação auditiva.

Ele possui duas partes: uma que é inserida cirurgicamente e fica por baixo da pele atrás da orelha, e a segunda parte que é o processador de fala que fica por fora da pele, e se prende com a parte interna por magnetismo. É através desse equipamento que as informações sonoras captadas no ambiente são transformadas em sinal elétrico e enviado à parte interna para o ouvido.

“Essa é um grande avanço da Santa Casa expandindo assim o leque de serviços que podemos oferecer na instituição”, explica o Dr. Murara. A cirurgia é realizada sob anestesia geral, com duração de duas horas, e a ativação do implante é feita após 30 dias da cirurgia. Após a ativação, o paciente precisa seguir com as regulagens do aparelho (mapeamentos) pela fonoaudióloga, e sessões de reabilitação auditiva para aprender a ouvir novamente e se adaptar com o implante.

Foi o que Helena fez. Realizou um acompanhamento com fonoaudiólogo, além de passar por uma equipe multidisciplinar. Afinal, quando se fica muito tempo com perda auditiva, o cérebro “desaprende” a exercer essa função que para muitos é algo básico. Por isso, grande parte do tratamento pós-operatório é a reabilitação do paciente e proporcionar novamente esse sentido o prazer da escuta.

No final de 2019, ela começou os procedimentos para realizar o implante coclear, que foi realizada pelo Dr. Gabriel Murara, otorrinolaringologista no Hospital Santa Casa de Curitiba. A cirurgia foi um sucesso e hoje Helena consegue viver uma vida com uma audição muito melhor.

Todo processo requer uma equipe multidisciplinar onde o paciente precisa reaprender a falar, como se fosse uma criança. Uma lição de vida que ela levará para sempre. “Hoje estou muito melhor, já consigo sair com amigos, por exemplo, e com treinamentos e exercícios vou voltando a ter uma vida como antes e poder voltar a aproveitar minha grande paixão que é a música”, finaliza.

“Eu sou muito grata por todo cuidado que tive da equipe, ainda mais por ser o primeiro implante feito pela Santa Casa”, conta. A cirurgia realizada foi a primeira no hospital e deu uma segunda chance para Helena, que pode voltar a ouvir novamente.

Afinal, o que é a doença de ménière?

A Doença de Ménière é uma síndrome do ouvido interno que pode causar vertigem episódica, zumbido, perda de audição flutuante e plenitude auricular (sensação de ouvido tampado).

O quadro clínico é variável, sendo que alguns pacientes apresentam mais tontura enquanto outros apresentam perda auditiva progressiva. Em casos mais graves é possível ambos os sintomas em igual intensidade.

O diagnóstico é difícil de ser feito dependendo do quadro clínico do paciente. Por isso, é importante investigar e fazer um tratamento contínuo para melhor identificação da doença.

Dores de cabeça e tontura: como tudo começou

Tudo começou em 2011, uma época em que Helena sentia dores de cabeça fortes, além do normal, mas pensava ser devido ao estresse do cotidiano. “Até que um dia eu comprei um fone de ouvido e achei estar estragado, porque não escutava direito”, relata. Ela chegou a trocar de fone, mas o problema persistiu. Até achou mesmo que poderia ser o aparelho celular. Tentou em outros telefones e ainda continuou não ouvindo direito. “Então me veio um pensamento: será que estou perdendo audição? ”. O problema começou a persistir em outras partes da vida. Até mesmo quando tocava ou cantava com a banda, já não conseguia ouvir tão bem as outras vozes.

Na busca por uma explicação, Helena chegou a fazer exames de audiometria, que não apresentaram nenhuma anormalidade, apesar da dor de cabeça e tontura continuarem. Ainda, o uso dos óculos começou a fazer falta em sua vida, visto que ela passou a ter que ler lábios já que não conseguia escutar direito e dependia dos movimentos da boca. Ela atuou fortemente como atendimento ao público e ouvidoria, mas como não conseguia mais ouvir, teve até que pedir as contas.

Ela procurou diversos médicos otorrinos que fossem especialistas em zumbido em diversas instituições em Curitiba. Nessa saga, ela realizou tomografias e até exames em ressonância magnética. “Eram vários exames que fiz muitas vezes, mas nunca entendíamos o que podia ser, uma vez que mostrava que meu ouvido estava normal”, explica Helena. “Até que um dia tive uma crise bem forte no Terminal do Portão, zona sul de Curitiba, com muita dor na cabeça e no ouvido”, conta.

Como é feito o diagnóstico

Helena teve que ser encaminhada para colocar um aparelho auditivo, uma vez que não ouvia quase nada. Na época, ela tinha o ouvido com audição reduzida em 70% em um lado e 55% do outro. Toda essa saga de anos teve diversos estudos realizados, até que os médicos passaram a identificar que poderia ser a doença de Ménière e que perderia a audição. “Você fica desmotivado e sem chão com uma notícia dessas mas existia uma luz no fim do túnel que foi o implante”, explica.

O Dr. Gabriel Murara nos conta que o diagnóstico nem sempre é fácil, devido a variabilidade de quadros clínicos. Ainda, os sintomas podem se confundir com diagnósticos de outras doenças. “Não há um exame específico para identificar a Ménière, porém, para o diagnóstico correto, o paciente precisa se encaixar em critérios clínicos específicos”, explica o doutor.

Entre esses critérios, por exemplo, estão dois episódios de vertigem que durem mais de 20 minutos, perda auditiva documentada por audiometria, sintomas auditivos flutuantes e não ter outro diagnóstico provável para as tonturas. Muitas vezes o diagnóstico mais certo só é feito após meses a anos de evolução da doença, por isso, algumas audiometrias feitas no início podem não identificar especificamente a doença de Ménière.

“Pacientes que durante a evolução da doença apresentam perda de audição que atrapalhe a qualidade de vida, podem usar aparelhos auditivos comuns”, conta o Dr. Murara. No entanto, nem sempre o paciente se adapta ao aparelho, como foi o caso de Helena.

Ela nunca abandonou o tratamento. Mas a adaptação com o aparelho demorou cerca de um ano até que passou a não funcionar mais. As dores de ouvido passaram a não existir quando sua audição ficou perdida em 80% de um lado e 75% do outro, afinal, já não ouvia mais nada.

Nesses contextos, em que a doença se apresenta em grau moderado a severo, e a perda de audição se torne mais importante, não havendo resposta com aparelhos auditivos convencionais, indica-se a cirurgia para implante coclear.

Fonte: Hospital Santa Casa de Curitiba