A pandemia da covid-19 não provocou até o momento prejuízos financeiros às operadoras de planos de saúde, de acordo com estudo realizado pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), que coletou dados sobre taxa de sinistralidade, fluxo de caixa e inadimplência de cerca de 100 operadoras, que juntas representam 72% do setor. O levantamento também traz informações sobre a ocupação de leitos de 45 operadoras que possuem hospitais próprios.

A taxa média de sinistralidade em abril ficou em 77%, entre um ou dois pontos percentuais abaixo do registrado no mesmo período do ano passado. Os procedimentos médicos eletivos foram cancelados nos últimos meses para que os leitos dos hospitais fossem liberados para pacientes infectados ou com suspeita de covid-19. Com isso, em abril, muitos hospitais estavam com capacidade ociosa, uma vez que havia menos casos do novo coronavírus e pacientes de outras enfermidades adiaram ou cancelaram seus procedimentos.

A taxa média de ocupação dos leitos dos hospitais das operadoras verticalizadas vem caindo. Em fevereiro, era de 66%; em março ficou em 58% e atingiu 50% em abril. No mesmo período do ano passado, esse percentual girou na casa dos 68%.

O boletim da ANS traz ainda os custos de internação hospitalar entre os hospitais que pertencem às operadoras. O levantamento mostra que apesar do valor da diária de pacientes covid-19 ser menor em relação a outros procedimentos, o montante total acaba sendo maior porque o tempo de internação para aqueles acometidos pelo novo coronavírus é muito maior.

O custo médio de uma diária em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para paciente com covid-19 é de R$ 4 mil, sendo que o tempo de internação é de 11,5 dias, o que uma despesa total de R$ 45,5 mil. Já no caso de uma cirurgia com internação em leito de UTI, o preço médio cobrado é de R$ 4,1 mil, mas o tempo que o paciente fica no hospital é de uma semana, o que faz a despesa total ser de R$ 30,7 mil.

Em relação à taxa de inadimplência dos planos de saúde (empresarial e individual), em março e abril ficou em 13% – patamar semelhante ao do mesmo período de 2019. Entre os planos coletivos empresariais, que representam quase 80% do setor, o percentual manteve-se na casa dos 10% tanto em abril deste ano como do ano passado.

Uma das principais queixas das operadoras é o risco do aumento na inadimplência, o que não ocorre até o momento. Entre aquelas empresas (que concedem o convênio médico a seus funcionários), uma parte está negociando descontos e pedindo adiamento no prazo de pagamento, segundo Marcos Novais, economista-chefe da Abramge, associação das operadoras de planos de saúde, em entrevista concedida ao mês passado. De acordo com a Central Nacional Unimed (CNU), que tem 1,7 milhão de usuários, 70 empresas que reúnem 300 mil vidas, pediram algum tipo de negociação até abril.

“Não vemos nenhuma pressão de margem no curto prazo para as operadoras de planos de saúde, pois os hospitais privados enfrentaram alta capacidade ociosa em abril, enquanto os níveis de inadimplência permanecem praticamente estáveis”, informa relatório, com o título “so far, so good”, do banco BTG, assinado por Samuel Alves e Yan Cesquim.

“As informações ainda são preliminares e, portanto, inconclusivas, já que podem refletir situações anteriores à pandemia, como no caso dos dados econômico-financeiros”, segundo Vera Valente, diretora executiva da Fenasaúde, federação do setor.

Fonte: Valor Econômico