Somente em 2018, o Paraná registrou 498 transplantes de órgãos e tecidos, a partir de doadores falecidos e vivos. Deste total, 348 procedimentos foram realizados em hospitais beneficentes e santas casas, em todas as regiões do Estado. Isso representa 69,87% dos transplantes no Paraná. Os dados são do Sistema Estadual de Transplantes, coordenado pela Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), verificados de janeiro a abril deste ano. O número já é superior ao registrado no mesmo período de 2017, quando 263 transplantes foram realizados no Paraná.

Os dados não são positivos apenas nesta parte da “engrenagem” do sistema de transplante de órgãos e tecidos. Entre janeiro e abril, o Paraná realizou 405 notificações de possíveis doadores de órgãos, sendo que 125 delas foram efetivadas. Em relação ao mesmo intervalo, no ano passado, houve crescimento de 54% no resultado, quando foram registradas 261 notificações e 81 doações efetivas.

Conforme divulgação do governo estadualdurante o mês de junho, o Paraná ocupa o primeiro lugar em doação de órgãos para transplantes no Brasil no ranking da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO). O índice de doações chegou a 44,2% por milhão de população, entre janeiro e março de 2018. Na mesma lista, o Estado de Santa Catarina aparece em segundo lugar (33,7%); logo atrás, o Ceará (29,7%).

Atualmente, o Paraná conta com quatro Organizações de Procura de Órgãos (OPOS) e 67 Comissões Intra-Hospitalares de Doações de Órgãos e Tecidos para Transplantes (CIHDDOT’s). Os integrantes destes grupos são os responsáveis, de acordo com o Ministério da Saúde, por organizar o hospital para que seja possível a identificação de possíveis doadores de órgãos e tecidos, além de viabilizar o diagnóstico de morte encefálica. Outras funções da comissão são o acolhimento das famílias dos pacientes falecidos e a articulação com a central de transplantes para o processo de doação e captação.

A coordenadora do Sistema Estadual de Transplantes, ArleneBadoch, classifica os resultados obtidos pelo Paraná como frutos de um somatório de fatores. “Entre eles está a educação continuada junto às unidades hospitalares. São profissionais excepcionais, que precisam estar adaptados e ter muita sensibilidade, além de disponibilidade de horário. Este é um processo extremamente delicado, que exige sensibilidade e tempo”, afirma.

Quando acontece a morte encefálica

A equipe da Unidade de Terapia Intensiva de um hospital participa ativamente deste processo. Quando há a identificação de que um determinado paciente está caminhando para a morte encefálica, a CIHDDOT é acionada. “A comissão, os enfermeiros e médicos fazem o acolhimento da família deste paciente, um acolhimento ainda mais humanizado do que já normalmente ocorre. E chamamos os familiares para participarem de cada etapa do diagnóstico de morte encefálica, de cada exame, sempre explicando o que está acontecendo. O processo acontece de uma maneira totalmente transparente”, explica Jaqueline Nascimento, coordenadora da CIHDDOT e do setor de enfermagem da UTI do Hospital São Vicente, em Curitiba. “Para um leigo, é difícil entender o que está acontecendo. A pessoa está ligada a uma máquina, os médicos falam que não há mais atividade cerebral, mas a pele dela está quentinha. Neste momento, inserimos a família, diante de tanta dor e sofrimento. E todo o protocolo para o diagnóstico da morte cerebral ultrapassa dois dias”, enfatiza.

Quando é fechado o diagnóstico, os membros da comissão, equipe médica e psicólogos se reúnem para verificar se a família tem condição de passar por uma entrevista sobre a doação de órgãos. Muitas vezes, os parentes não conseguem tomar uma decisão imediata. No entanto, a resposta “corre contra o relógio”, pois existe uma dependência direta de como os órgãos podem ser mantidos para um transplante.

Sensibilização

ArleneBadoch, coordenadora do Sistema Estadual de Transplantes, destaca ainda outros fatores para o crescimento na quantidade de doações de órgãos e técnicos e transplantes realizados no Paraná. “Melhoramos a nossa logística aérea e terrestre, além de intensificar as campanhas junto à população. A sensibilização está cada vez maior e isso está fazendo com que se discuta mais sobre doação de órgãos. Atualmente, as negativas não passam de 28%; já chegaram a 60%”, relembra.

O Hospital Universitário Cajuru, de Curitiba, foi o que mais obteve autorizações familiares para doações de órgãos neste ano – entre janeiro e abril -, conforme dados do Sistema Estadual de Transplantes, em números absolutos. Especializado em traumas, o hospital fez 26 notificações de possíveis doadores e conseguiu efetivar 20 doações.

Assim como acontece quanto ao número de transplantes realizados no Paraná, os hospitais filantrópicos também têm uma parcela muito importante nas notificações de possíveis doadores de órgãos e tecidos. Arlene lembra que todos os estabelecimentos atendidos pelo Programa de Apoio e Qualificação de Hospitais Públicos e Filantrópicos do SUS Paraná (HOSPSUS) têm como meta a formação da CIHDDOT. “As comissões mais efetivas são daqueles hospitais que recebem o HOSPSUS. Quem não tem, tem perda financeira. Infelizmente, a atuação para a captação de órgãos para doação ainda depende muito da gestão dos hospitais, de modo geral”, analisa.

Demanda

Atuando na ponta das instituições que realizam os transplantes, o Hospital Regional São Camilo, de União da Vitória, optou pela junção entre demanda e qualidade de vida dos pacientes para se habilitar para os transplantes ósseos e de enxertos, em 2015. Desde então, já fez mais de 100 procedimentos. “Não existia essa oferta na região e havia essa necessidade”, esclarece Claudemir Andrighi, diretor administrativo do hospital.

A partir do credenciamento, a equipe médica foi capacitada. A rotina para atender os pacientes não é tão frenética como no caso dos estabelecimentos que fazem transplantes de órgãos, pois no caso do transplante ósseo e de enxerto as cirurgias são programadas. “Os riscos para os pacientes com o enxerto ósseo chegam próximas ao zero e melhora muito a qualidade cirúrgica e do próprio paciente. O resultado não poderia ser mais do que positivo”, avalia o diretor do Hospital Regional São Camilo.

Renascimento

“Amor à camisa” não basta para explicar o que aconteceu em uma véspera de Natal no Hospital São Vicente, em Curitiba. No dia 24 de dezembro, a equipe médica fechou um diagnóstico de morte encefálica de um paciente que teve um AVC (acidente vascular cerebral). O clima era dramático não apenas pela data em si, mas porque a família dele havia se reunido toda para o Natal em Curitiba. Parentes haviam viajado até a capital paranaense especialmente para as festas.

“A família estava resistente até mesmo de ouvir falar em doação de órgãos e, por isso e juntamente com a data e pelo significado que tinha para eles, já sabíamos que não daria certo. Os parentes não quiseram nos repassar uma resposta imediata. Voltaram algumas horas depois, dizendo que aceitavam a doação dos órgãos, e isso nos surpreendeu muito. Até mesmo porque a liberação do corpo demora. Mas a família resolveu esperar todo o processo”, conta Jaqueline Nascimento, coordenadora da CIHDDOT do Hospital São Vicente.

A captação dos órgãos foi realizada do dia 24 para o dia 25 de dezembro. A equipe passou o Natal trabalhando; a família, acompanhando tudo o que acontecia. Coincidentemente, o fígado deste homem foi para um paciente que estava internado no mesmo hospital. E que pode receber uma “nova vida” como presente de Natal.

Confira no infográfico abaixo os procedimentos realizados por hospitais filantrópicos e santas casas

Fonte: Assessoria de imprensa Femipa