“Nós precisamos ter orgulho do avanço dos 30 anos, mas não podemos manter as estratégias no mundo que mudou. O que vai assegurar e pagar as contas é olhar para dentro das operações”. Essa foi a avaliação do ex-governador do Rio Grande do Sul, Antônio Britto Filho, que também foi ministro da Previdência Social no governo Itamar Franco, deputado federal por dois mandatos e, atualmente, é diretor executivo da Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp), durante a palestra “A evolução do setor de saúde nos últimos anos”, realizada no 17º Seminário FEMIPA.

Em entrevista exclusiva à FEMIPA, ele destacou que, apesar de todos os desafios enfrentados pelo setor de saúde nessas últimas três décadas, o sistema ainda tem muito mais vantagens e resultados do que problemas. Porém, Britto reforça que esses problemas vêm aumentando e as análises sobre o futuro mostram que vão aumentar ainda mais, por isso é preciso estar de olho.

“Novas tecnologias cada vez mais caras, população envelhecendo mal, dificuldades de emprego e renda. Então, eventos como o Seminário FEMIPA são fundamentais para que os hospitais, sem perderem o orgulho pelo que já fizeram, se provoquem, discutam e decidam novas estratégias. Assim, se Deus quiser, daqui a 30 anos, poderemos dizer que a saúde seguiu avançando”, apontou.

O diretor executivo da Anahp também garantiu que seria impossível pensar o Sistema Único de Saúde sem a rede de hospitais filantrópicos e santas casas, já que criou-se uma situação no Brasil em que a maior parte do atendimento SUS, especialmente na média e alta complexidade, é feita nessas instituições. “Se amanhã eles não prestassem esses serviços, desapareceria grande parte do que o SUS oferece”, reforçou. Mas é preciso haver sinergia, e a avaliação dele é que “o setor de saúde conversa mal com o setor de saúde”.

“Os pontos comuns entre SUS, filantropia e setor privado são muito maiores do que os pontos diferentes ou divergentes, mas eu fico um pouco frustrado, porque, como disse, eu acho que o setor de saúde conversa pouco com o próprio setor de saúde. E existe alguma fórmula para melhorar isso? É se dar conta. O brasileiro é um só. Ele não está acompanhando se foi no SUS, se o mandaram para um filantrópico, se o filantrópico tem convênio com o privado. Nós temos um problema comum, que é a saúde no Brasil. Nós temos uma obrigação comum, que é oferecer o melhor atendimento para esses 216 milhões de brasileiros. Eu acho que quem veio para o setor de saúde tem a obrigação de colocar as questões do sistema de saúde até acima das questões específicas de cada subsetor”, avaliou.

Dentro da visão dele e da Anahp, os hospitais entenderam que o que vai decidir a sobrevivência é o trabalho da porteira para dentro. “Claro que esbarra na cultura e na realidade. Exige revisar estratégias. E necessita fortalecer enormemente a agenda de processos e procedimentos. Na Anahp, criamos um produto que promove cursos regularmente. Qual é hoje o conjunto de situação que leva o hospital a sofrer processos? Como atacar isso? Preparamos essas respostas com cases”, descreveu.

Outro ponto que merece atenção, segundo Antônio Britto, é o envelhecimento da população versus a assistência e a falta de incentivo ao médico generalista. “O nosso problema não é receber pessoas com 80 anos, mas aquelas com 60 anos e com três ou mais comorbidades, porque, no caminho, abandonaram algo. Esse é um país que não estimula o médico generalista, é um país que está dizendo para a meninada ‘vai ser especialista’. Temos um problema também estrutural”, avaliou.

Para finalizar, ele ressaltou, mais uma vez, que é preciso olhar para o futuro, já que a saúde tem muitos desafios vindo pela frente. Ao ser perguntado sobre qual ponto principal ele indicaria aos hospitais para manterem no radar, ele foi categórico: qualidade.

“No Brasil, ainda temos muita dificuldade de acesso, pelo tamanho do país, pelas dificuldades. Mas o acesso está avançando. A minha preocupação é que avance com qualidade.  Eu penso muito no exemplo da educação. Não adianta colocar todo mundo na sala de aula se, dentro da sala de aula, não há um ensino competente. Não adianta colocar todo mundo num posto de saúde, num hospital, se, lá dentro, esse paciente não for atendido. Isso exige reorganizar a formação dos médicos. Isso exige discutir quais tecnologias devem ser incorporadas. Isso exige fixar protocolos para cada atendimento. Acho que a questão fundamental para o futuro é seguir avançando em acesso, mas entender que não basta colocar a pessoa, como eu disse, dentro da sala de aula. Tem que saber o que fazer dentro da sala de aula”, completou.

Fonte: Assessoria de imprensa Femipa - Maureen Bertol e Magaléa Mazziotti