Dos 399 municípios do Paraná, 125 não possuem sequer um hospital geral, número que equivale a 31% das cidades do Estado. Os dados são do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (Cnes), ligado ao Ministério da Saúde. Mais de 900 mil paranaenses precisam se deslocar para outras localidades quando necessitam de atendimento hospitalar.
O levantamento feito pela FOLHA mostra que do total, 104 municípios têm menos de 10 mil habitantes (83,2%). Apesar da grande maioria das cidades ser pequena, há exceções como Almirante Tamandaré, na Região Metropolitana de Curitiba, que tem mais de 100 mil habitantes.
As localidades sem hospitais se espalham por todas as regiões do Estado. No Norte do Paraná aparecem municípios como Barra do Jacaré, Cafeara, Leópolis, Mauá da Serra, Nova América da Colina, Nova Santa Bárbara, Pitangueiras e Sabáudia.
Segundo a Federação dos Hospitais e Estabelecimentos de Serviços de Saúde no Estado do Paraná (Fehospar), 150 instituições hospitalares foram fechadas nos últimos dez anos no Estado, sendo 40 após 2010, a maioria de pequeno e médio portes.
O Paraná possui atualmente 429 hospitais. O último a deixar de funcionar foi o Hospital Metropolitano de Marialva (Região Metropolitana de Maringá) no dia 28 de junho. O estabelecimento, que funcionava há mais de 50 anos, era o único do município de 32 mil habitantes (leia mais nesta edição).
“O mais importante é garantir o acesso de atendimento à população em leitos qualificados para urgência e parto, através de uma boa regulação do serviço e de transporte eficiente”, afirma Paulo Almeida, superintendente de Gestão de Sistemas de Saúde da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa).
O Ministério da Saúde (MS) recomenda que o ideal é que existam entre dois e três leitos para cada mil habitantes. A média brasileira é de 1,8 e a paranaense alcança 2,08. “Temos regiões no Estado com grandes concentrações de leitos e outras com déficits, sobretudo na região Oeste. Os estudos mostram que um hospital de média complexidade se torna viável em cidades com mais de 30 mil habitantes”, aponta Almeida.
O presidente da Associação dos Hospitais do Paraná, Benno Kreisel, acredita que o grande número de fechamentos das pequenas instituições é pelo baixo valor que recebem através do Sistema Único de Saúde (SUS). “Os de baixa complexidade recebem ainda menos que os que atendem alta complexidade. E têm mais dificuldades que os filantrópicos porque precisam pagar impostos”, frisa. “Os municípios que não têm hospitais possuem um problema populacional, já que sem maternidade ninguém acaba nascendo nestas cidades”, ressalta Kreisel.
Para o presidente da Fehospar, Renato Merolli, a rede hospitalar existente no Paraná é suficiente para atender a população. Ele ressalta, porém, que é preciso que ela funcione de forma adequada e na sua capacidade total. “A regionalização do atendimento em hospitais de referência é uma tendência. Até porque é inviável manter hospitais com baixo grau de resolutividade. O grande problema é que temos sistemas viários ruins e transporte precário, o que dificulta a chegada dos pacientes”, afirma Merolli.
Falta de recursos
Para o presidente da Associação dos Municípios do Paraná (AMP), Luiz Lázaro Sorvos, a falta de recursos é a maior dificuldade para a manutenção de hospitais de pequeno porte. Ele aponta a regionalização como a melhor alternativa. “Nestes municípios o importante é ter o atendimento básico. Se houver um bom hospital de referência na cidade polo da região já é o suficiente”, acredita Sorvos.
Segundo o superintende da Sesa, no Paraná existem 291 hospitais com menos de 50 leitos, que são considerados leitos não qualificados. “Nestas instituições a resolutividade é baixa, há poucos equipamentos, as condições sanitárias não são as ideais e o custo é alto”, explica Paulo Almeida. “Há uma tendência de que no futuro estes hospitais sejam transformados em uma unidade de pronto-atendimento”.
Atualmente, estão em construção no Paraná um hospital em Telêmaco Borba (Campos Gerais) e um Umuarama (Noroeste). Existe ainda projeto para um novo hospital, de urgência e emergência em trauma de ortopedia, em Guarapuava (Centro) e um em Curitiba. “Em Campo Largo a iniciativa privada vai construir o maior hospital do Estado, que destinará 90% dos leitos para o SUS, além de ampliações e adequações que estamos fazendo em hospitais de várias regiões”, garante Almeida.
Marialva busca alternativas de atendimento
Com fechamento de instituição, cidade encaminha pacientes para região; prefeitura estaria disposta a ajudar grupo que queira assumir antigas instalações.
O fechamento do Hospital Metropolitano em Marialva (Região Metropolitana de Maringá) obrigou a administração municipal a buscar outras alternativas para o atendimento da população de 32 mil habitantes. A instituição, que funcionava há 50 anos e tinha 36 leitos, deixou de funcionar há pouco mais de uma semana. Segundo o secretário municipal de Saúde, Luiz Carlos Stéfano, 200 autorizações de internações são expedidas por mês na cidade. Deste total, 124 eram realizadas no Metropolitano.
As demais, de alta complexidade, são feitas em hospitais de Maringá que possuem convênios com o município. Com o fechamento do hospital, 84 internações acontecem em Sarandi e 40 em Mandaguari. “Sem o hospital temos enfrentado três grandes dificuldades.
Aumentou o tempo de permanência no nosso pronto-atendimento, há um desconforto grande para a família, que muitas vezes não pode ficar ao lado do paciente, e como a demanda cresceu em Sarandi e Mandaguari chegamos a aguardar por três dias um leito vago”, garante Stéfano. Marialva possui três unidades básicas de saúde (UBS), sete postos de Saúde da Família (PSF) e um pronto-atendimento 24 horas, com médico de plantão permanente. De acordo com o secretário, o município está buscando alternativas para recolocar o hospital em funcionamento ou até mesmo construir um novo.
“A prefeitura está disposta a ajudar financeiramente se algum grupo quiser assumir as antigas instalações. Ou até mesmo doar uma área para a construção de um hospital maior. Já que a reclamação da direção do Hospital Metropolitano é que como o hospital tinha poucos leitos era inviável economicamente mantê-lo aberto”, relata Stéfano.
Programa estadual busca qualidade
Através do Programa de Apoio e Qualificação de Hospitais Públicos e Filantrópicos do SUS Paraná (Hospsus), a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) pretende proporcionar à população paranaense atendimento hospitalar de qualidade e com resolutividade o mais próximo possível de sua residência.
Nas duas primeiras fases o programa atendeu mais de 100 hospitais públicos e filantrópicos, referências em várias regiões do Paraná, que são retaguardas para a Rede Mãe Paranaense e a Rede Estadual de Urgência e Emergência. “Na terceira fase vamos levar o programa para os hospitais com menos de 50 leitos, capacitando os gestores hospitalares, além de auxiliar no custeio e na aquisição de equipamentos”, afirma o superintendente de Gestão de Sistemas de Saúde da Sesa, Paulo Almeida.
O Hospsus busca qualificar o atendimento nos hospitais do Estado para reduzir os anos de vida perdidos por incapacidade, o tempo de resposta nos serviços de urgência, os índices de mortalidade por causas externas e doenças cardiovasculares por faixa etária e a mortalidade materna e perinatal. “O objetivo é fazer com que os hospitais trabalhem em rede, além de melhorar a estrutura daqueles que possuem capacidade ociosa”, relata Almeida.
Em Sabáudia, atendimento é feito em posto 24 horas
Em Sabáudia (Região Metropolitana de Londrina), os poucos mais de seis mil moradores recebem atendimento médico em uma unidade central que funciona 24 horas por dia e por um Posto da Saúde da Família (PSF). “Na unidade do Centro temos médicos a qualquer hora e no PSF temos um clínico geral, um geriatra e três dentistas”, afirma o secretário municipal de Saúde, Vilson Garbin.
No município, que faz parte da 16ª Regional de Saúde, são realizados, em média, 1,8 mil consultas e 1,4 mil exames laboratoriais por mês. Para suprir a falta de um hospital, Sabáudia encaminha os pacientes, em ambulâncias do município, para atendimentos de urgência e emergência nos hospitais Santa Casa e João de Freitas, de Arapongas (Norte).
“Os agendamentos das consultas e dos exames mais complexos são feitos através do Consórcio Intermunicipal de Saúde do Vale do Ivaí e Região (Cisvir) e são realizados em Apucarana e Arapongas”, explica Garbin. “Pretendemos ainda este ano contratar mais um pediatra, um ortopedista e um cardiologista.”
Todos os médicos que trabalham em Sabáudia moram em Arapongas e contrataram os plantões através de licitação pública. Segundo a Federação dos Hospitais e Estabelecimentos de Serviços de Saúde no Estado do Paraná (Fehospar), 75 municípios não possuem médicos residentes.
“Faz falta um hospital aqui na cidade. Se a gente precisa de um raio-X no dedo, por exemplo, tem que ir para Apucarana. Seria muito bom um hospital bem equipado. Ajudaria bastante”, acredita a aposentada Adelaide Turati, de 63 anos.
A estudante Naira Thaisa Lopes, de 17, precisou recentemente de um atendimento hospitalar ao se sentir mal em virtude de pressão baixa. “Cheguei no posto durante a noite e estava lotado. Fiquei muito tempo esperando para ser atendida”, garante. “Tenho uma prima que está grávida e ela teve que ir para Arapongas porque precisava ficar internada e aqui não tem hospital”.
Confira a lista dos municípios paranaenses sem hospitais
Adrianópolis
Guaporema
Pien
Agudos do Sul
Guaraci
Pinhal de São Bento
Almirante Tamandaré
Honório Serpa
Pitangueiras
Alto Piquiri
Icaraíma
Pontal do Paraná
Anahy
Iguaraçu
Porto Amazonas
Ângulo
Iguatu
Porto Barreiro
Antônio Olinto
Imbaú
Porto Vitória
Arapuã
Imbituva
Quarto Centenário
Ariranha do Ivaí
Inácio Martins
Quatro Barras
Barra do Jacaré
Iracema do Oeste
Quinta do Sol
Bela Vista do Caroba
Itapejara D’Oeste
Ramilândia
Boa Esperança do Iguaçu
Itaúna do Sul
Rancho Alegre D’Oeste
Boa Ventura de São Roque
Ivaté
Renascença
Bom Jesus do Sul
Japira
Reserva do Iguaçu
Bom Sucesso do Sul
Jardim Olinda
Rio Bom
Braganey
Laranjal
Rio Bonito do Iguaçu
Brasilândia do Sul
Leópolis
Rio Branco do Ivaí
Cafeara
Lidianópolis
Sabáudia
Cafeara do Sul
Lobato
Salgado Filho
Califórnia
Luiziânia
Santa Cecília do Pavão
Cambira
Mamborê
Santa Inês
Campina do Simão
Manfrinópolis
Santa Mariana
Campo Bonito
Maria Helena
Santa Mônica
Campo Magro
Marilândia do Sul
Santa Tereza do Oeste
Carambeí
Mariluz
São Manoel do Paraná
Coronel Domingos Soares
Marquinho
São Miguel do Iguaçu
Corumbataí do Sul
Mato Rico
São Pedro do Paraná
Cruzeiro do Iguaçu
Mauá da Serra
São Tomé
Cruzmaltina
Mercedes
Saudade do Iguaçu
Diamante do Sul
Mirador
Serrana do Iguaçu
Doutro Ulysses
Nova Aliança do Ivaí
Sulina
Enéas Marques
Nova América da Colina
Tapejara
Esperança Nova
Nova Laranjeiras
Tapira
Espigão Alto do Iguaçu
Nova Santa Bárbara
Terra Roxa
Farol
Novo Itacolomi
Tunas do Paraná
Fênix
Ouro Verde do Oeste
Uniflor
Fernandes Pinheiro
Palmital
Ventania
Flor da Serra do Sul
Paranapoema
Vila Alta
Flórida
Paula Freitas
Virmond
Foz do Jordão
Peabiru
Vitorino
Goioxim
Perobal
Xambrê
Guamiranga
Pérola D’Oeste
Fonte: Folha de Londrina