Considerar os avanços tecnológicos como aliados na busca por melhorias no setor hospitalar e na ampliação da assistência, seja em termos de qualidade ou em oportunidades de acesso, está entre os principais focos das organizações de saúde da atualidade. O tema foi pauta da mesa redonda que aconteceu nesta quarta-feira (9) durante o Conahp 2022.

Mediados pelo CEO da Expirie Solutions, Erickson Blun, especialistas compartilharam experiências e desafios enfrentados pelas instituições para implementar projetos de saúde integrada e descentralização hospitalar de forma robusta e sustentável frente às barreiras sociais, econômicas, geográficas e políticas do país.

O debate teve início com a apresentação do case da Kaiser Permanente pela diretora da companhia, Karin C. Cooke. Através de sua experiência no contexto da pandemia da Covid-19 nos EUA, ela abordou a necessidade de se promover uma mudança cultural, tanto nas organizações como na população. “Nós precisamos parar de cuidar da doença e passar a cuidar da saúde. Queremos manter nossos pacientes saudáveis para que eles não necessitem dos hospitais”, afirmou.

Segundo ela, a tecnologia tem um papel importante no avanço de projetos como plataformas de telemedicina, redução do tempo de internação e promoção à saúde por meio da prevenção, entre outros. No entanto, é preciso observar o comportamento do paciente e propor mudanças profundas nos modelos de gestão das empresas, a fim de engajar todas as partes em um mesmo objetivo.

A diretora destacou que as inovações desenvolvidas pela companhia partem de uma missão consistente de fornecer tratamentos médicos acessíveis à comunidade, garantindo a sustentabilidade do negócio. Para isso, integram hospitais e grupos de médicos, bem como laboratórios, farmácias e outros agentes da saúde, para fornecer a cobertura completa ao paciente.

“Nossos médicos ganham salário fixo, sendo assim, não recebem mais ou menos conforme o número de atendimentos realizados ou exames solicitados. Não é benéfico para nós, por exemplo, que o paciente fique no hospital por mais tempo do que o necessário para seu tratamento”, reiterou.

Desenvolvendo estratégias para levar o cuidado para a casa do paciente, reduzindo o tempo de internação e propiciando mais conforto e bem-estar, a empresa criou um modelo que visa projetar a assistência para um cenário futuro, repensando a forma como as pessoas se relacionam com a saúde.

Para Chao Lung Wen, chefe da disciplina de Telemedicina da FMUSP e presidente da ABTms e CBTms, é necessário que se promova a fusão entre hospitais e expansão da conectividade para o paciente. “Nós temos, no Brasil, uma resolução sobre a telemedicina muito bem construída. O que precisamos fazer é difundir o tema, além de aperfeiçoar a formação de todos os médicos e profissionais da saúde para melhor aproveitamento dessas ferramentas.”

Ele explicou que a telemedicina engloba uma série de serviços que visam gerar eficiência no processo. Para Wen, os hospitais brasileiros precisam se adaptar a uma nova realidade tecnológica, institucionalizar o serviço conectado do pós-operatório e promover a integração dos atendimentos entre hospitais.
“Se pensarmos em programas de tele-homecare, de multicuidados domiciliares, vamos reduzir tempo de internação, diminuir o desperdício e ampliar a eficiência e sustentabilidade”, completou.

A fala do especialista é complementada também pelo participante Diogo Porto Dias, diretor de Operações da Regional Norte na Rede Mater Dei de Saúde. Segundo ele, as empresas de saúde que mais cresceram em 2021 compartilharam a ideia do hospital como um hub.

O especialista frisou que os hospitais, como centros que agregam todo o ecossistema da saúde se relacionando com diversos atores e concentrando as maiores estruturas de assistência, precisam evoluir para a promoção de uma efetiva integração entre todos os níveis de cuidado, incluindo atenção primária, secundária, pós-agudo etc.

“Na Mater Dei, temos o projeto de construir produtos em parcerias com as operadoras de saúde, por exemplo, no intuito de promover uma espécie de verticalização virtual do atendimento com foco na atenção primária. Acreditamos que, se formos bem-sucedidos em promover a cultura da prevenção lá no começo do processo, que é antes do paciente adoecer, então todo o resto da cadeia será beneficiada.”

Esse é também o objetivo da Rede D’Or São Luiz, representada no debate pelo vice-presidente executivo, Maurício Lopes. De acordo com ele, o Brasil ainda enfrenta dificuldades no avanço de estratégias como estas, sobretudo pela cultura “hospitalocêntrica”, ou seja, que tem na instituição hospitalar a referência do cuidado e segurança que o paciente busca.

A partir daí, o executivo acredita que o caminho seja por meio do alinhamento de incentivos entre todos os agentes. “Temos que encontrar uma forma de garantir que todas as frentes do cuidado tenham o incentivo adequado para que se comprometam com a evolução do sistema de forma geral.”

Outro obstáculo destacado por Maurício é o cenário de desigualdade do país. Ele apontou que, mesmo que hoje ocorra uma evolução do hub, quando se pensa no Brasil em toda a sua dimensão e particularidades regionais, ainda se mostra mais seguro manter o tratamento do paciente em um hospital, onde ele vai ter acesso ao que precisa.

De acordo com ele, deslocar serviços para a casa do paciente, por exemplo, é uma ação que enfrenta alguns problemas no Brasil, considerando a desigualdade social, as condições de moradia tão diversas e, em muitos casos, a falta de estrutura e espaço, além da falta de acesso à água tratada ou a uma alimentação de qualidade. “Como conseguiremos levar essa população para casa? Os vários ‘Brasis’ aparecem aqui. Mas acreditamos que esse é o caminho para o futuro, portanto, vamos continuar insistindo para descobrir de que forma resolver esse impasse”, finalizou.

Fonte: Anahp