Com o maior investimento no setor hospitalar das últimas duas décadas, Curitiba quer entrar no mapa do chamado “turismo de saúde”, segmento que movimenta cerca de US$ 60 bilhões em todo o mundo e que deve crescer, em média, 35% ao ano no Brasil nos próximos anos.

Previsto para ser inaugurado na próxima quinta-feira, o Hos­pital Marcelino Champag­­­nat, do grupo Aliança Saúde – que administra também o Cajuru e a Santa Casa – será o primeiro do Paraná voltado exclusivamente para pacientes particulares e de convênio de alta renda.

Com um investimento total de R$ 75 milhões – o que equivale a três hipermercados de grande porte –, o Marcelino Champagnat terá como objetivo concorrer com hospitais de referência em atendimentos de alta complexidade, como o Sírio-Libanês e o Albert Einstein, ambos em São Paulo.

Procedimentos cirúrgicos de alta complexidade em pacientes adultos nas áreas de ortopedia, neurocirurgia, cirurgias cardíaca e geral, incluindo bariátrica, serão o foco do novo hospital. “A estrutura hospitalar de Curitiba não é condizente com o porte da cidade. Temos aqui excelentes médicos, mas hospitais que são ‘apenas bons’ em termos de tecnologia, equipamentos e atendimento”, diz o superintendente-executivo da Associação Paranaense de Cultura (APC), mantenedora do grupo Aliança Saúde, Marco Antônio Barbosa Cândido. Segundo ele, uma parte da demanda local acaba buscando tratamento em cidades como São Paulo, Porto Alegre ou Rio de Janeiro.

O hospital, que terá cerca de 400 médicos, quer trazer para o Paraná o conceito de “spa hospital”, e vai oferecer atendimento bilíngue em todas as áreas (português e inglês), concierge, hotelaria e gastronomia, o que inclui cardápio para os pacientes com assinatura do chef Celso Freire.

“Queremos ser um hospital de referência no Sul do país e em países da América do Sul. Não perdemos em nada em termos de assistência clínica e tecnologia de equipamentos para os melhores hospitais do país e do mundo”, garante o diretor geral do Mar­celino Champagnat, Claudio Lubascher.

O hospital vai funcionar em uma área de 27,5 mil metros quadrados em um prédio de dez andares no bairro Cristo Rei, em Curitiba. Serão 118 leitos, dos quais 31 de UTI, e sete salas cirúrgicas “inteligentes” – duas delas com equipamentos de telemedicina, que permitem videoconferências com outros hospitais em qualquer parte do mundo, e uma sala hemodinâmica, para procedimentos de cateterismo.

Apenas a fase de estudos e projetos da unidade levou cerca de dois anos, envolvendo 13 equipes multidisciplinares. A obra durou 18 meses.

Do investimento total, R$ 66 milhões vêm da APC, entidade que mantém a Pontifícia Uni­­­versidade Católica do Paraná (PUCPR), o Grupo Lúmen de Comunicação e a Aliança Saúde, formada pelo Hospital Cajuru, Santa Casa de Misericórdia, Hos­­­pital Nossa Senhora da Luz, Maternidade Alto Maracanã e o plano de saúde Ideal. O restante do valor vem de empresas de diagnóstico por imagem que atuarão no prédio.

O hospital vai gerar 330 em­­­pregos diretos na área assistencial. Dentro do hospital ainda funcionarão 72 clínicas médicas, com equipes 24 horas de geriatria, neurologia, cardiologia, cirurgia geral, ortopedia e anestesiologia.

Retorno esperado é de até 15% ao ano

Nos últimos dois anos, o investimento de empresas no setor hospitalar no Paraná movimentou mais de R$ 130 milhões em projetos de ampliação e reforma de hospitais existentes e na criação de novas unidades.

Para os grupos filantrópicos, o investimento em unidades particulares ajuda a diminuir o “rombo” provocado pelo atendimento ao Sistema Único de Saúde (SUS). Segundo dados do setor, de cada R$ 100 em atendimentos, o SUS reembolsa R$ 60 aos hospitais. “Nossa atuação em saúde dedica mais de 80% ao atendimento público pelo SUS. Não é segredo para ninguém que o pagamento da tabela do governo gera um déficit crônico”, diz Marco Antônio Barbosa Cândido, superintendente-executivo do grupo que controla os hospitais da Aliança Saúde.

Segundo ele, a criação do Hospital Marcelino Champag­­­nat, voltada exclusivamente ao atendimento particular e de convênios, visa justamente dar um fôlego financeiro ao grupo. “O objetivo é trazer uma perspectiva de equilíbrio econômico e sustentabilidade ao sistema”, afirma.

De acordo com Cândido, a taxa interna de retorno para o investimento de R$ 66 milhões foi calculada entre 10% e 15% em termos reais (descontada a inflação) ao ano. “Como entidade filantrópica, não distribuímos lucros e reinvestimos tudo nas atividades assistenciais”, explica.

Na última semana, um seminário promovido pela Federação das Santas Casas de Misericórdia e Hospitais Beneficentes do Estado do Paraná (Femipa) debateu o futuro do setor.

Presente no encontro, o secretário de Estado de Saúde, Michele Caputo Neto, informou que o orçamento do próximo ano prevê R$ 340 milhões para investimentos na área da saúde.

Além das críticas ao modelo de financiamento do SUS, o encontro apontou a necessidade de “mudanças urgentes” no modelo de remuneração dos convênios com planos de saúde.

Hoje os hospitais são remunerados em razão de “pacotes fechados” de procedimentos, sem contar com uso de outros recursos especiais de tratamentos ou procedimentos. A previsão da Agência Nacional de Saúde Suplementar é de que uma câmara técnica formule um novo modelo até dezembro de 2012.

Fonte: Gazeta do Povo