No mês dedicado à construção de uma cultura da saúde mental na sociedade, o Hospital Pequeno Príncipe, maior exclusivamente pediátrico do país, chama atenção de pais e responsáveis sobre contribuir para o equilíbrio emocional de crianças e adolescentes. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a saúde mental é um estado de bem-estar emocional e psicológico por meio do qual o indivíduo é capaz de fazer uso de suas habilidades emocionais e cognitivas para desenvolver suas funções sociais e de responder às solicitações comuns da vida cotidiana. De acordo com o relatório Situação Mundial da Infância 2021, mesmo antes da pandemia de COVID-19, mais de um em cada sete pessoas com idade entre 10 e 19 anos viva com algum transtorno mental diagnosticado.

A coordenadora do Serviço de Psicologia do Hospital Pequeno Príncipe, Angelita Wisnieski da Silva, lembra que crianças e adolescentes tendem a ser mais vulneráveis ao sofrimento, porque estão em pleno processo de desenvolvimento dos seus recursos internos para lidar com as dificuldades. “Ou seja, ainda estão aprendendo a como ser enquanto humanos no mundo, nas relações e nos conflitos. Por isso, precisam de mais apoio de suas redes familiar, escolar, comunitária e de amigos”, explica.

A psicóloga comenta que, atualmente, em um cenário agravado pela pandemia, a ansiedade tem sido bastante frequente no cotidiano do público infantojuvenil. E para ajudar crianças e adolescentes diante desse desafio, sua sugestão é garantir a inserção, desde cedo, em meios que permitam e exijam a interação social e a convivência com pessoas diferentes. “Esse estímulo pode ajudar no desenvolvimento de repertório para a convivência social. Um meio que protege demais crianças e adolescentes das experiências de conflitos cotidianos, por exemplo, tende a exigir menos amadurecimento das habilidades sociais e gerar sintomas de ansiedade”, diz.

Ainda segundo a especialista, crianças e adolescentes podem apresentar problemas emocionais como ansiedade, depressão, baixa autoestima e insegurança, fobia social, como qualquer adulto. “Mas é preciso atenção para diferenciar um quadro psicopatológico das vivências entendidas como normais da vida. Episódios de tristeza ou a ansiedade frente a algo novo ou desconhecido é diferente de estados intensos e persistentes, que atrapalham ou dificultam a rotina da criança ou do adolescente e podem indicar uma doença mental que exige tratamento profissional”, considera.

Para identificar casos que necessitem de ajuda de especialistas, a psicóloga do Pequeno Príncipe salienta que é preciso que pais e responsáveis observem alterações significativas e que perdurem mais de duas semanas no comportamento e nas emoções da criança ou do adolescente. Manifestações exacerbadas de ansiedade, agitação, irritabilidade, entristecimento, isolamento social, perda de interesses, desinteresse pelo autocuidado, desapego dos vínculos sociais, alterações persistentes no sono e apetite, comentários depreciativos ou destrutivos frequentes, tudo isso intensificado e por um período prolongado pode indicar algum problema.

Além disso, ela ressalta ainda que os adultos precisam também estar atentos em relação à influência que exercem sobre os mais jovens. “Pais e responsáveis são, antes de tudo, referência e modelo para as crianças e adolescentes.” Assim, a profissional indica algumas atitudes que devem ser consideradas por um adulto que podem ajudá-lo a interagir com crianças e adolescentes na busca de equilíbrio para a saúde mental:

– cuidar da própria saúde mental é o básico para conseguir ser uma boa referência de saúde para a criança e para o adolescente;

– estar atento à criança e ao adolescente em relação às suas necessidades de afeto e presença e às particularidades de cada faixa etária;

– mostrar disponibilidade para ajudar quando a criança ou o adolescente demonstrar precisar de ajuda ou quando der sinais de que necessite falar de algo que o incomode;

– ouvir e acolher sem julgamentos e sem repreensão;

– questionar para ajudar a própria criança ou adolescente encontrar estratégias de enfrentamento de seu sofrimento;

– oferecer orientações;

– respeitar o tempo de privacidade e intimidade da criança, especialmente na entrada na adolescência, certificando-se de que está em ambiente seguro;

– evitar sobrecarga de atividades, responsabilidades e cobranças sobre a criança;

– limitar o tempo de uso de telas (celular, computador, televisão…), considerando que essas faixas etárias ainda estão construindo sua capacidade de autorregulação e precisam de ajuda externa para isso;

– admitir que mesmo um adulto não tem respostas e soluções para tudo e que também pede ajuda para não enfrentar todos os problemas sozinho;

– promover acolhimento e investir em vínculos de confiança.

Fonte: Hospital Pequeno Príncipe