Nas últimas semanas, cada município brasileiro está adotando medidas diferentes sobre o atual enfrentamento da Covid-19. Isto inclui até mesmo a permissão para a retirada das máscaras em espaços ao ar livre, como aconteceu em Brasília (DF). Nesta quinta-feira (4), Curitiba divulgou um novo decreto municipal com medidas de enfrentamento à pandemia e que deixam a cidade com o menor nível de restrição em atividades e serviços. Estabelecimentos podem voltar a atender com 100% da capacidade, em todos os setores, mas a população deve manter o uso da máscara em todos os locais.

As justificativas para a adoção dessas medidas é a redução dos números de casos positivos, internamentos e mortes por Covid-19, em função do avanço da vacinação. No entanto, especialistas alertam sobre a importância da manutenção das medidas de prevenção, pois o coronavírus ainda circula e há transmissão comunitária.

Além disto, há preocupação com as mensagens “desencontradas” neste momento, com as diferentes posições que municípios e estados estão tomando. O que vale para um local não vale para outro. Então, o que acaba acontecendo é que a população fica perdida. Tem cidade que está agora permitindo tirar a máscara em ambientes externos, mas tem que usar em ambiente interno; tem cidade que mantém normas para os distanciamentos, outros já flexibilizaram em ambientes fechados. Isso deixa a população confusa, é muito difícil nos comunicarmos com a população diante de uma falta de coordenação nacional ou de alinhamento e parcerias na condução da pandemia”, analisa a Profª Dra. Soraya Smaili, farmacologista da Escola Paulista de Medicina, que foi Reitora da Unifesp no período 2013-2021 e é coordenadora adjunta do Centro de Saúde Global (CSG) da universidade e do Centro SOU Ciência, lançado em julho.

De acordo com ela, a falta de padronização dos protocolos sanitários está confundindo a população e pode adiar o da pandemia de covid-19. “A situação mais preocupante para nós agora é a falta de coordenação nacional de todas as ações. Vemos cada cidade e cada estado fazendo regras diferentes e não temos uma coordenação nacional que orquestre isso, que dê coordenadas firmes, precisas, corretas, baseadas em evidências científicas”, afirma.

A especialista lembra que este problema afeta, por exemplo as regiões metropolitanas, onde a comunicação e trânsito de pessoas entre cidades é enorme. “O ideal seria que nós adotássemos as evidências científicas para alinhar regras e diretrizes claras entre todos os municípios e assim podermos fazer a remoção da máscara de maneira segura e no momento adequado”, pondera.

Com relação à vacinação, também há certa confusão, de acordo com a Profª Dra. Isso porque cada cidade está estabelecendo o seu esquema vacinal e cada estado determina intervalos diferentes entre a primeira e a segunda dose.

Cuidados devem ser mantidos

A Profª Dra. também aponta que está havendo uma diminuição no número de casos de Covid-19 e de óbitos pela doença. “É importante notar que a queda no número de casos está acontecendo, nós estamos chegando aos números de abril de 2020, mas é preciso continuar a vacinação e principalmente a utilização das máscaras e as medidas de distanciamento de segurança e de controle com as testagens. Tudo isso faz parte de um contexto para chegarmos ao objetivo e ultrapassarmos a pandemia”, alerta.

De acordo com a farmacologista, os números são importantes e o momento é favorável, mas não é hora para descuidar. “Temos que continuar a vacinação, porque o Brasil atingiu pouco mais da metade da população com o esquema vacinal completo. Quando chegarmos a mais de 80-90% da população com as duas doses, com esquema vacinal completo, teremos um panorama um pouco mais sedimentado em relação ao momento epidemiológico e à proximidade da superação da pandemia”, avalia.

“No entanto, nós não estamos ainda neste lugar. Temos que continuar avançando e a vacinação precisa avançar. As pessoas que não tomaram a vacina devem procurar a vacinação e as pessoas que não tomaram a segunda dose devem observar seus esquemas vacinais. Há também aqueles que precisam tomar o reforço, com a terceira dose para idosos, profissionais de saúde e as pessoas imunodeficiências. Isso precisa continuar junto com o uso da máscara”, reforça a Dra Smaili.

Com base neste cenário, a farmacologista considera que anúncios de alguns governantes sobre a retirada do uso obrigatório de máscaras são temerários, porque as pessoas podem entender isso como um relaxamento e como o fim da pandemia, quando a pandemia ainda não terminou. É possível inclusive que o coronavírus permaneça por um tempo circulando. Assim, o uso de máscara é fundamental até que haja a certeza de que não surgirão novas variantes.

“Então, a recomendação é vacinação completa e uso de máscaras, além de evitar ao máximo aglomerações. Nós não podemos permitir ou participar de aglomerações, ainda mais em um contexto que não é ideal para a retirada das máscaras. Temos muitos eventos acontecendo e temos que ter muito cuidado com isso. Uma coisa que é muito importante neste momento é todos cuidarmos uns dos outros, com bom-senso, na também com firmeza para continuar”, finaliza a professora.

* Com informações da assessoria de imprensa

Fonte: Saúde Debate