Um estudo publicado na revista Nature Scientific Reports em fevereiro de 2024 revela uma realidade preocupante sobre o tratamento de doenças cardiológicas no Brasil. A pesquisa analisou 2005 pacientes em 25 centros do país entre os anos de 2020 e 2022, focando em indivíduos portadores de doença aterosclerótica, uma doença cardíaca caracterizada pela obstrução das artérias coronárias.
Os resultados do estudo são alarmantes. Cerca de 84% dos pacientes eram hipertensos e 62% apresentavam dislipidemia, ou seja, um aumento nos níveis de colesterol que pode levar a graves complicações cardíacas. Apenas 8,6% dos pacientes conseguiram atingir a meta ideal de LDL, o chamado “colesterol ruim”, evidenciando que 91,4% dos pacientes não estavam seguindo os tratamentos sugeridos de forma ideal.
O estudo também destaca a importância da atividade física no manejo das doenças cardíacas. No entanto, apenas 12,5% dos pacientes praticavam a quantidade ideal de atividade física, definida como caminhada acima de 150 minutos por semana. Além disso, a diabetes estava adequadamente controlada em apenas 20% dos pacientes, e somente 34% estavam com o peso ideal.
“O estudo conclui que há uma falha significativa na adesão ao tratamento e na mudança do estilo de vida entre os pacientes com doença aterosclerótica no Brasil. Por isso é tão importante a conscientização sobre a adesão ao tratamento e a adoção de um estilo de vida saudável para prevenir complicações cardíacas”, explica o coordenador do Departamento de Ensino e Pesquisa do Hospital Angelina Caron, e um dos autores do estudo, Dalton Precoma.
O cardiologista afirma que a pesquisa serve como ponto de atenção para profissionais de saúde, pacientes e formuladores de políticas de saúde. “Para melhorar os dados da pesquisa serão necessários esforços coordenados e uma abordagem ampliada entre diferentes áreas da saúde. Só assim é possível avançar na prevenção e no tratamento dessas condições, levando a uma população mais saudável e a uma redução na carga das doenças cardiológicas no Brasil.”
A realidade das doenças cardíacas no Brasil
As doenças cardíacas representam uma das principais causas de mortalidade no Brasil e no mundo. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), as doenças cardiovasculares são responsáveis por aproximadamente 31% de todas as mortes globais, com um impacto significativo na qualidade de vida e na saúde pública. No Brasil, o cenário não é diferente. Dados do Ministério da Saúde indicam que as doenças do aparelho circulatório foram responsáveis por cerca de 28% do total de óbitos registrados no país em 2019.
A hipertensão arterial e a dislipidemia são fatores de risco mais percebidos na população brasileira, contribuindo para o desenvolvimento de complicações cardíacas, como infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral (AVC). Apesar da oferta de tratamentos eficazes, a adesão aos cuidados recomendados continua sendo um desafio. Estilos de vida sedentários, alimentação inadequada e o uso de tabaco e álcool são hábitos comuns que exacerbam o risco de doenças cardíacas.
O controle adequado desses fatores de risco é fundamental para a prevenção e o manejo das doenças cardíacas. Diante dessa realidade, o especialista enfatiza a importância de um acompanhamento integrado para combater as doenças cardíacas no Brasil. “É essencial fortalecer a importância de ações voltadas para a prevenção e o controle dos fatores de risco como, por exemplo, a integração entre diferentes especialidades.. A conscientização da população sobre a importância de hábitos saudáveis e a adesão ao tratamento são fundamentais para reduzir a incidência das doenças cardíacas no país.”
Estudos internacionais
Criado há 22 anos, o Departamento de Ensino e Pesquisa do Hospital Angelina Caron tem participação ativa em dezenas de estudos nacionais e internacionais. Desde 2002, prêmios importantes foram conquistados pelos protocolos e projetos de pesquisa realizados pelo núcleo.
“Os números impressionam pela capacidade de contribuição do HAC para com o tratamento e a cura de doenças em áreas como a cardiologia. O hospital integra grupos de pesquisas de novos medicamentos realizadas em diversos países, regulamentadas por agências como a Anvisa e a norte-americana Food and Drug Administration (FDA)”, destaca Precoma.
*Informações Assessoria de Imprensa
Fonte: Saúde Debate