energiaDurante o blecaute que atingiu nove estados da região nordeste e potencialmente 16 milhões de pessoas, a imprensa também cobriu a dificuldade enfrentada pelos hospitais, que se viram obrigados a suspender atendimentos agendados ao público e a utilizar geradores para manter o serviço em áreas mais críticas, como setores cirúrgicos e equipamentos utilizados na emergência e Unidades de Terapia Intensiva (UTI). A operação de equipamentos mais sensíveis, como tomógrafos, ultrassons, ressonâncias e aparelhos de hemodinâmica, exigiu ainda mais tempo para voltar a funcionar plenamente. A situação dispara um alerta: instituições públicas e privadas estão investindo corretamente na proteção de suas operações?

No mundo digital em que vivemos hoje, quando há interrupções de energia, pensamos imediatamente no impacto em computadores domésticos, modems, servidores de bancos e salas de refrigeração que mantém funcionando data centers e alimentam a computação em nuvem. Porém, quando olhamos além do domínio de TI em hospitais, existe toda uma gama de sistemas de missão crítica e de suporte à vida, bem como infraestruturas auxiliares, como operações de climatização, comunicações e o gerenciamento de registros e de segurança, que devem permanecer em funcionamento durante uma interrupção de energia.

Se a energia não é confiável ou não está disponível para alimentar os sistemas, cresce o risco de uma ruptura, que pode resultar em uma situação de vida ou morte. Não podemos esquecer que os hospitais são, muitas vezes, chamados para fornecer serviços durante situações de emergência ou desastre. Por isso, é fundamental que os sistemas de energia sejam projetados para suportar as operações altamente críticas por longos períodos e em circunstâncias muitas vezes difíceis.

Calcula-se que no apagão de 2003, que afetou 45 milhões de pessoas em oito estados dos Estados Unidos e 10 milhões de pessoas em partes do Canadá, centenas de milhões de dólares em receitas foram perdidos com serviços cancelados e passivo judicial, sem contar o dano à reputação. Seis hospitais entraram em falência um ano depois.

A Schneider Electric conduziu, lá fora, uma pesquisa com 100 executivos do setor que gerenciam serviços de saúde em hospitais com mais de 100 leitos. Foram consideradas instituições públicas e privadas, além de entrevistas com executivos financeiros provenientes de 15 hospitais com mais de 100 leitos e dados existentes de fornecedores, analistas e empresas de consultoria.

O estudo aponta que:

Gestores vêem a confiabilidade da rede elétrica como uma necessidade absoluta para garantir cuidados de qualidade. Confirmam também a preocupação com o impacto que o custo das interrupções provoca na receita.
Executivos financeiros esperam ter energia, exceto em desastre natural e, ainda assim, no máximo de 4 a 12 dias, para tratar as emergências e transferir com segurança os demais pacientes.
Percepção negativa do consumidor, acreditações e doações estão entre as áreas de risco, normalmente com instalações críticas sem alimentação adequada para fornecer níveis de serviço consistentes.
Financeiramente, a falta de energia pode custar aos hospitais milhões de dólares por dia. Interrupções de curta duração (menos de uma hora) podem descontinuar temporariamente serviços que custam dezenas de milhares de dólares por hora.
Quando os gestores foram solicitados a estimar o impacto financeiro de uma queda de energia, a resposta média foi de 900 mil dólares por ocorrência. Os especialistas financeiros foram convidados a estimar o custo por um dia inteiro. Também foram questionados sobre o impacto potencial de interrupções de energia ocasionais fossem endêmicas para a instalação. Em média, o cálculo estimado foi de 700 mil a 4 milhões de dólares por dia, dependendo do tamanho do hospital.

É importante destacar que potência crítica envolve mais do que um simples backup caso a energia da rede sofra interrupção. Quando falamos em energia segura, falamos também sobre energia limpa e confiável em todos os momentos. A maioria dessas cargas de infraestrutura são ativos sensíveis, que necessitam de energia de alta qualidade, e muitas vezes na mesma rede elétrica existem outros componentes, como motores, bombas, que prejudicam a qualidade da fonte de alimentação. Considerando todos esses fatores juntos, é fácil perceber a importância do equipamento de energia para o funcionamento correto e eficiente destas cargas.

Estamos, portanto, falando de proteção a equipamentos e sistemas que precisam de confiança, qualidade de energia de missão crítica e que não são os ativos de TI em data centers. Garantir energia segura para estas aplicações pode envolver uma abordagem integrada que abrange vários domínios de especialização e ampla visão do negócio. Sob esta abordagem integrada, o monitoramento de soluções de energia segura deve estar ligado a outros sistemas de gestão de edifícios, automação de fábrica ou controle de processo.

Em novos hospitais, a arquitetura de distribuição da energia pode ser projetada visando à eficiência energética e o custo eficaz, além de torná-la flexível para acomodar futuras expansões. Em instalações hospitalares existentes, é necessário fazer uma auditoria completa para identificar pontos sensíveis e de melhoria. Na configuração de soluções de energia segura, é preciso levar em consideração cinco áreas-chave: gestão da infraestrutura de energia, automação, gestão da infraestrutura de TI, gestão de edifícios e segurança física.

O apagão no nordeste no final de agosto foi somente uma amostra dos transtornos que a interrupção de energia pode causar. Além do verão, período em que há maior incidência de raios e tempestades, o Brasil terá um grande desafio com as Olimpíadas, Copa do Mundo e o aumento significativo da sua população. Com o investimento correto, os serviços de saúde podem garantir um atendimento eficiente e seguro para a população mesmo em situações críticas de falta de energia.

* Adriano Hada é diretor de Secure Power da Schneider Electric, especialista global em gestão de energia

Fonte: Saúde Web