O Brasil tem o maior sistema público do mundo para transplantes de órgãos, tecidos e células e é o segundo país em número de transplantes, de acordo com a Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO). Ainda assim, dados divulgados pelo Ministério da Saúde mostram que o país tem quase 60 mil pessoas na fila de espera por um órgão. E, conforme a ABTO, no primeiro semestre de 2022, a taxa nacional de negativa da família em doar se manteve em níveis elevados, com 44%, sendo um dos principais motivos de impedimento à doação.

Por isso, neste Dia Nacional de Doação de Órgãos, lembrado em 27 de setembro, o Hospital Pequeno Príncipe, um dos principais centros de transplantes pediátricos do Paraná, reforça a importância desse gesto para salvar e transformar vidas. No caso de crianças, conseguir doadores cardíacos compatíveis, por exemplo, é ainda mais difícil pelas especificidades do procedimento. “A compatibilidade para esse público, em geral, o ideal é que o doador não seja cinco anos mais velho que o receptor, o peso geralmente é o dobro do doador e a estatura também”, explica o cardiologista pediátrico Bruno Hideo Saiki Silva, do Pequeno Príncipe.

Uma das vidas transformadas pelo sim de uma família foi a da pequena Vitoria. Diagnosticada com uma doença rara – acidúria argininosuccínica – que faz a amônia acumular-se no sangue, tornando-o tóxico e provocando hemorragias em diversas partes do corpo, ela precisava de um transplante hepático para se salvar. “Ela estava com 7 meses quando a equipe do transplante de fígado decidiu colocar ela na lista. Como é uma doença genética, nós não podíamos ser os doadores, e então ela foi colocada em segundo lugar na lista de espera do Paraná e em quarto lugar na lista brasileira. Em cerca de dois meses surgiu o órgão para transplantá-la”, conta a mãe, Inocência Dalbosco.

Hoje Vitória está com 1 ano e já pode retornar para sua cidade natal, Chapecó (SC). “Minha filha era uma aposta. Hoje ela está totalmente curada, sem nenhuma sequela, comendo de tudo, se desenvolvendo e ganhando peso”, comemora a mãe.

Para quem deseja ser um doador, vale avisar seus familiares de primeiro e segundo grau (pais, filhos, irmãos, avós e cônjuges) sobre essa disposição. Essa conversa pode fazer com que tenham força e motivação para assinar os documentos necessários, mesmo em um momento difícil. O adulto também pode deixar registrado a sua vontade de ser doador com uma identificação em sua carteira de identidade. “Por mais que a doação comece em um momento de sofrimento, ela também é um término de sofrimento para quem aguarda por um doador. Isso pode ser uma pontinha de alívio para as famílias que passam por uma perda tão dolorida”, diz o cirurgião do Serviço de Transplante Hepático do maior hospital exclusivamente pediátrico do país, José Sampaio.

Já no caso de crianças e adolescentes, a doação depende da decisão de seus responsáveis. Um único doador pode salvar a vida de várias pessoas, pois é possível doar mais de um órgão e tecidos. “Grande parte das recusas familiares acontecem pela dúvida em saber se algo ainda pode ser feito ou não. Por isso é importante explicar que o processo de doação de órgãos no Brasil é um dos mais seguros do mundo. Para atestar a morte encefálica, o teste clínico é feito duas vezes com várias provas de testagem neurológica de maneira bastante criteriosa, sempre nos ambientes de UTI. Os profissionais fazem ainda exames complementares de comprovação de ausência de atividade cerebral ou de fluxo cerebral sanguíneo. Isso traz uma tranquilidade adicional em aceitar o processo de doação, pois ele começa no entendimento da família de que a morte encefálica aconteceu”, finaliza Sampaio.

Referência

Há 33 anos, o Pequeno Príncipe realiza transplante de órgãos (coração, fígado e rim) e tecidos pediátricos. Maior hospital exclusivamente pediátrico do Brasil, a instituição superou a previsão do número de transplantes que realizaria no segundo ano de pandemia de coronavírus. Em 2021, foram realizados 282 procedimentos, oito a mais do que em 2019. Ao todo, foram 43 de órgãos sólidos (coração, rim e fígado), 74 de medula óssea, 43 de válvula cardíaca e mais 122 transplantes de tecido ósseo. Neste ano, até agosto, o Pequeno Príncipe já realizou 183 procedimentos, consolidando a organização como um dos centros de referência para esse tipo de procedimento no país.

A instituição conta com a Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante (CIHDOTT), responsável por organizar rotinas e protocolos institucionais para viabilizar o processo de doação. Composta por uma equipe multiprofissional, a comissão atua para garantir agilidade e eficiência na doação de órgãos e tecidos, além de seguir os parâmetros éticos e morais que o processo requer.

“A doação de órgãos é um ato de amor ao próximo! Representa a vontade de doar parte de si, de forma incondicional. Todos os programas de transplantes do Pequeno Príncipe cumprem os valores éticos e morais estabelecidos pela instituição e corpo clínico. A cultura de doação de órgãos e tecidos deve estar presente na consciência da sociedade e, para tal, é fundamental a confiança nos serviços médicos transplantadores”, reitera o diretor-técnico do Pequeno Príncipe, o médico Donizetti Dimer Giamberardino Filho.

Sobre o Pequeno Príncipe

Com sede em Curitiba (PR), o Pequeno Príncipe é uma instituição filantrópica, sem fins lucrativos, que oferece assistência hospitalar há mais de 100 anos para crianças e adolescentes de todo o país. Disponibiliza desde consultas até tratamentos complexos, como transplantes. Atende em 35 especialidades, com equipes multiprofissionais, e realiza 60% dos atendimentos via Sistema Único de Saúde (SUS). Conta com 378 leitos, 68 de UTI, e em 2021, mesmo com as restrições impostas pela pandemia de coronavírus, foram realizados cerca de 200 mil atendimentos e 14,7 mil cirurgias que beneficiaram pacientes do Brasil inteiro.

Fonte: Hospital Pequeno Príncipe