Cem por cento das pessoas terão no mínimo um atraso ou erro de diagnóstico ao longo da vida. A informação foi trazida pelo coordenador geral do Proqualis/Ensp/Fiocruz, o médico sanitarista Victor Grabois, durante o painel “Relatório Global de Segurança do Paciente: Diagnóstico Seguro, Paciente Protegido!”, na sala temática Gestão de Assistência e Segurança do Paciente, durante o 17º. Seminário Femipa. O evento acontece na Associação Médica do Paraná (AMP), em Curitiba.

Segundo o palestrante, os erros de diagnóstico afetam 5% dos pacientes adultos que buscam atendimento na área de saúde a cada ano e são responsáveis por taxas entre 6% e 17% dos eventos adversos que acontecem em hospitais. Por envolver questões ligadas à culpa, o assunto nunca foi muito explorado. Porém, nos últimos anos, tem ganhado cada vez mais visibilidade.

“É muito difícil falar sobre erro de diagnóstico, pois existe a cultura da culpa e da defesa”, diz Victor. “O tema precisa estar relacionado com o da segurança psicológica, que é a possibilidade de uma pessoa poder errar e falar sobre suas dúvidas e seus erros sem ser prejudicada ou punida. Isso não acontece na maioria das vezes. O que se observa é que a culpa é muito forte dentro das instituições, assim como a preocupação em relação à visão dos demais profissionais sobre a questão”, diz Victor.

De acordo com o médico, o diagnóstico não é um evento em si, mas uma trajetória. Desta forma, existem diversos fatores que contribuem para que as falhas aconteçam. Entre eles: falta de padrões ou mesmo a própria padronização de alguns testes, ausência de treinamentos, má interpretações, limitação de acesso a meios de diagnóstico, falhas de processo, aplicação de automatismos e divergências entre pares.

Outra questão muito importante diz respeito à relação com o paciente. Em muitas situações, a capacidade dele em relatar sintomas pode ser limitada. Entretanto, as informações passadas por ele também não podem ser subestimadas ou ignoradas. “Não é apenas o paciente que deve confiar no médico. O médico também deve confiar no paciente, ouvindo, aprendendo e dando importância a sua narrativa. Também é fundamental que o paciente tenha a mente aberta, sendo conscientizado de que o diagnóstico evolui e muda com o tempo. Ele não é um decreto. É uma coisa incerta e que requer participação”.

Como estratégias de prevenção ao erro, Victor cita ações recomendadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS): criar cultura institucional de segurança e aprendizado; estabelecer linhas de cuidado diagnósticas; promover notificação de erros diagnósticos; incluir segurança diagnóstica nas políticas nacionais de saúde; educação permanente em raciocínio clínico e segurança; ferramentas de apoio à decisão diagnóstica; checklist e protocolos diagnósticos; e revisões de caso e feedback.

Sobre medir a quantidade e a gravidade dos erros diagnósticos, o palestrante explica que geralmente é muito difícil. Existem problemas na coleta de dados confiáveis, faltam instituições que realizem estudos sistemáticos e ocorre dificuldade de definição operacional. Mesmo assim, os dados são necessários para que haja compreensão e redução de falhas. “Eles não podem vir somente das poucas instituições que contribuíram até agora para a crescente base de evidências. Temos que expandir a comunidade de pesquisadores que trabalham com a ciência da medição”.

Durante a palestra foi apresentado um slide com as falhas de diagnósticos mais frequentes entre 583 casos de erros relatados por médicos no mundo. Os maiores equívocos aconteceram em relação a embolia pulmonar (26 casos notificados), reação medicamentosa ou overdose (26 casos), cancro do pulmão (23), câncer colorretal (19), síndrome coronariana aguda (18), câncer de mama (18), derrame (15), insuficiência cardíaca congestiva (13), fratura (13), abcesso (11) e pneumonia (10).

Fonte: Assessoria de imprensa Femipa - Cintia Vegas