A primeira palestra da sala temática sobre Gestão Hospitalar ficou por conta do consultor Roberto Gordilho, que abordou o tema “Saúde 4.0 – uma transformação de tecnologia e gestão”. Para explicar o tema, ele afirmou que a Saúde vive um momento de “tempestade”, causada por fatores externos e problemas internos de gestão, e disse que não há como fugir desta tempestade, apenas entender como superá-la.

Dentre os fatores externos apontados pelo palestrante, estão falta de atualização da tabela SUS; mudança no modelo de monetização; geração Y chegando à liderança das organizações; transformação digital, que afeta fortemente o processo de gestão; verticalização das operadoras de saúde; e processo de consolidação da saúde, que está a todo vapor com as grandes redes comprando tudo.

Detalhando melhor cada um desses fatores, Gordilho explicou que há uma tendência cada vez maior na mudança do modelo de remuneração dos hospitais pelas operadores de saúde. A proposta é acabar com o pagamento por serviço e migrar para o pagamento por performance, com o pagamento por pacote sendo um passo intermediário deste processo. Com relação à tabela do Sistema Único de Saúde (SUS), os valores de serviços não são atualizados há mais de 10 anos, enquanto que, neste mesmo período, a inflação acumulada pelo IPCA foi de 88%.

Outra mudança apontada pelo palestrante é a do modelo de monetização. Ele citou, por exemplo, que, atualmente, a grande maioria dos hospitais obtém seus resultados da venda de materiais e medicamentos e órteses, próteses e materiais especiais. “Todos sabem disso, inclusive as operadoras, que ano a ano vêm apertando as negociações e criando formas de pagamento direto aos fornecedores. Ou seja, os hospitais precisarão aprender uma nova forma de monetizar com o serviço”, destacou.

Sobre a verticalização, o consultor comentou que as operadoras estão investindo cada vez mais em rede própria, o que, automaticamente, reflete em menor demanda para os hospitais. Dessa forma, elas encontraram uma forma de controlar os custos e ter alguma previsibilidade, e a rede própria tem sido utilizada também para balizar os valores da rede credenciada. Além disso, Gordilho lembrou que as operadoras estão começando a acordar para a importância da atenção primaria, serviço não oferecido pela saúde ainda.

O último fator externo apresentado pelo palestrante foi a transformação digital. Ele citou que é necessário repensar o modelo à luz das novas tecnologias, colocando o cliente no centro do processo. Na avaliação dele, a Saúde vai ficar mais barata, porque vai viver uma mudança completa de paradigma, utilizando essas novas tecnologias.

“Mudança de paradigma é entender que o modelo é de Saúde, não de doença. Muitas tecnologias já existem, mas estão desconectadas. O 5G, internet de altíssima velocidade, é que vai integrar todas elas. O foco vai deixar de ser apenas tratamento e cura da doença e passará a ser prevenção e promoção à saúde. E como nós vamos capturar valor dessa transformação?  Ofertando prevenção”, reforçou.

Com relação aos problemas internos, Gordilho elencou os mais comuns: rígida estrutura hierárquica vertical; áreas internas não conversam entre si; existência de feudos; ineficiência; baixa produtividade; muito desperdício; um setor que não coopera entre si; alto índice de endividamento; baixo poder de negociação com operadoras; baixo índice de profissionalização da gestão; baixo índice de informatização; e um setor que não se conhece, não tem número, não conhece seus custos. Isso tudo, segundo ele, reflete em baixa maturidade de gestão.

“Fizemos uma pesquisa no ano passado com 18 hospitais, recolhendo uma série de informações sobre eles, e percebemos que entre 8 e 15% do faturamento se perde mensalmente em ineficiência de processos. Então, a grande questão é como se preparar para esse futuro. A transformação tecnológica não é opção, pois já está acontecendo. Isso quer dizer que a única opção é aumentar a maturidade de gestão”, afirmou.

Conforme o palestrante explicou, maturidade de gestão é muito mais do que estar informatizado; é ter pessoas qualificadas e capacitadas para utilizar a tecnologia, com bons e sólidos processos para execução da estratégia definida e um sistema de governança que permita o acompanhamento e controle da organização e dos projetos definidos. Tudo isso, segundo ele, passa por cinco elementos: governança, estratégia, pessoas, processos e tecnologia.

“Investimos somente em tecnologia, mas as outras dimensões ficaram pelo caminho. Colocamos todos os ovos em uma cesta só, agora precisamos desenvolver todo o resto. Para aumentar a maturidade, é preciso investir em um modelo de gestão baseado nos cinco elementos, equilibrando os ovos em todas as cestas. Os processos não foram pensados para a tecnologia. Informatizamos o mesmo modelo passado. E agora vamos ter que repensar processos, para que esses processos sejam centrados no cliente (paciente). É preciso cuidar da experiência do cliente na instituição como um todo”, garantiu.

O consultor elencou, ainda, alguns fundamentos que devem estar no processo para se chegar à maturidade: visão sistêmica; liderança; trabalho em equipe; orientação por processos; desenvolvimento de pessoas; foco no cliente; foco na segurança; foco na prevenção; melhoria contínua; e resultados em saúde.

Por fim, Gordilho falou sobre os desafios que os hospitais terão pela frente. O primeiro é entender que o hospital é um negócio, e entender que negócio precisa de lucro, para reinvesti-lo e trazer mais retorno à sociedade. Também é preciso compreender que o mundo da Saúde está mudando, e que não é possível manter a gestão com os mesmos paradigmas do século XIX. Ele também apontou que é necessário horizontalizar uma rígida estrutura vertical de operação; entender que o paciente não é apenas paciente, é um cliente; repensar os processos como um todo com foco no cliente; entender que a geração Y não é igual à geração X; pensar em eficiência, economicidade e resultado; e parar de pensar que vai o hospital vai sobreviver e crescer sozinho.

“É preciso compartilhar ideias e experiências para construir um modelo mais forte de saúde e de gestão no seu hospital e na sua região. A forma de implementar esses desafios é melhorar a maturidade de gestão, entender que tudo isso está mudando e não tem volta. É só para frente”, completou.

Fonte: Assessoria de imprensa Femipa - Interact Comunicação - Maureen Bertol