24.06 2Na teoria, a quantidade de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) via Sistema Único de Saúde no Paraná está dentro do mínimo que solicita o Ministério da Saúde. Mas, na prática, a realidade é outra. Não são raras as reclamações de famílias que lutam por uma vaga. O problema é a alta demanda oriunda de diversos fatores, como a violência e a falta de estrutura na saúde pública, que não prevê a implantação de leitos de reserva.

O parâmetro de necessidade de vagas de UTI varia de 4% a 10% do total dos leitos hospitalares, conforme recomendação do governo federal. Como o estado tem cerca de 20 mil leitos hospitalares pelo sistema público de saúde, seriam necessários pelo menos 800 leitos de UTI. No Paraná, o número é quase o dobro do mínimo, mas não alcança os mais de 2 mil leitos levando em consideração a variação máxima (10%). Hoje o estado possui um total de 1.588 vagas.

Porém, a Organização Mundial de Saúde recomenda que haja 330 leitos para cada grupo de 1 milhão de pessoas. Dessa forma, o estado, que tem quase 11 milhões de habitantes, segundo estimativa do IBGE, precisaria de um total de 3.630 leitos. “Hoje estamos no limite do limite. Segundo o presidente da Associação dos Hospitais do Paraná, Benno Kreisel, a demanda no Brasil por leitos de UTI é elevada. “É um dos países mais violentos do mundo. Assim, a procura é muito maior”, afirma. Soma-se a isso o envelhecimento da população que culmina, por exemplo, em um índice maior de doenças degenerativas.

Outro problema que desafia o poder público é o baixo número de médicos intensivistas. Segundo o Conselho Regional de Medicina do Paraná, são apenas 253 profissionais habilitados no estado. “Isso faz a diferença no atendimento. É um baixo número de profissionais com vivência na área”, ressalta o presidente do CRM-PR, Maurício Ribas.

Ele explica ainda que pode haver má utilização dos leitos de UTI. Ribas esclarece que terapia intensiva não é voltada para o paciente que não possui chances de viver. “Quem está em estágio irreversível, como um câncer extremamente avançado, merece todo cuidado possível para não sofrer, mas a vaga da UTI deve se destinar para quem tem chance de viver”, salienta Ribas.

A superintendente de infraestrutura da Secretaria Estadual da Saúde, Márcia Huçulak, acredita que a resolução do Ministério da Saúde acerca dos leitos de UTI é vaga. “É um número que dá um hiato muito grande. Não pode ser usado como parâmetro para dizer se falta ou não vagas. Acredito que, de forma geral, a nossa sociedade não está preparada para [lidar com] paciente terminal.”

Curitiba absorve “carga” de outras cidades

De acordo com a determinação do Ministério da Saúde, a necessidade de leitos de UTI em Curitiba varia de 222 a 555 leitos. O número de leitos em funcionamento atende a orientação com um total de 327. Mas a Secretaria Municipal de Saúde, por intermédio da assessoria de imprensa, informa que “não está computada nesta avaliação a demanda variável que ocorre devido aos encaminhamentos de municípios da região metropolitana, de outras regiões do estado do Paraná e também de outros estados que acabam por utilizar estes serviços em Curitiba”, diz trecho da nota.

Transferências

Em nota, a secretaria explica que aqueles que não conseguem internação devem ser atendidos nas Unidades de Pronto Atendimento (UPA) “até poderem ser transferidos para um leito hospitalar”.

“A regulação das vagas de leitos de Unidades de Terapia Intensiva é realizada pela Central Metropolitana de Leitos Hospitalares (CML), conforme a patologia, gravidade do caso e perfil assistencial dos hospitais”, explica a secretaria. O município diz que já está em andamento processo de habilitação de novos leitos de UTI adulto com os prestadores contratualizados com o município de Curitiba. “Em situações de aumento de demanda recorre-se em caráter excepcional aos prestadores da região metropolitana”, afirma outro trecho da nota.

INFOGRÁFICO: Veja o número de leitos de UTI em Curitiba

Fonte: Gazeta do Povo