Uma bomba prestes a explodir. Esta é a situação atual da gestão de saúde empresarial no país. Com custos cada vez mais elevados e com a chamada “inflação médica”(VCMH) atingindo o nível estratosférico de 20,4% em 2016 (último dado disponibilizado pelo Instituto de Estudo de Saúde Suplementar), está cada dia mais difícil a relação entre usuários, gestores e planos de saúde, colocando em risco a oferta do benefício para o empregado “O benefício agregado mais importante para o funcionário de uma empresa sem dúvida é contar com a cobertura de um plano de saúde”, afirma o médico e coordenador de saúde corporativa do Grupo Marista em Curitiba, Guilherme Murta.

De acordo com Murta, esta conta está cada vez mais insustentável financeiramente devido a vários fatores. Um deles é a relação custo benefício x efetividade. “Como médico e gestor, observo que determinados tratamentos prescritos tem um custo elevado para uma baixa resolutividade. Por exemplo: algumas vezes um remédio prescrito, cujo custo é de 10 reais, pode ter o mesmo efeito no tratamento de um outro que custa cem reais. Além disto, existe uma falta de consenso quanto aos protocolos médicos. Muitas vezes nos utilizamos da medicina baseada em evidências para propor a terapêutica mais adequada que, a rigor, acaba sendo a que proporciona melhor custo-efetividade”, sustenta o médico.

Outro fator preocupante neste processo diz respeito a falta de padronização dos códigos específicos de procedimentos utilizados pelas diferentes operadoras de saúde e inúmeros prestadores de serviço, como clínicas e hospitais. Ainda de acordo com o médico, a fórmula ideal seria que todos eles praticassem a mesma tabela com códigos de referência homogêneos. “Sem esta padronização, o uso de dados para fins de controle e elaboração de indicadores – no que diz respeito a sua utilização e a realização de auditorias – torna-se uma tarefa muito difícil de ser conduzida pelos setores de tecnologia da informação”, observa Murta.

Diante de um cenário tão complexo, quais seriam as alternativas? Segundo Murta, que também é presidente da Associação Paranaense de Medicina do Trabalho, as frentes de ação são muito amplas. Uma delas seria investir em uma equipe técnica com capacitação aprofundada na gestão de saúde suplementar da população de colaboradores da empresa como forma de detectar suas peculiaridades. “Um médico do trabalho, que esteja dedicado a realizar uma gestão integral de saúde poderá abordar as dimensões da qualidade de vida, sinistralidade de saúde suplementar e da saúde ocupacional de forma integrada e articulada, o que resultaria em uma melhoria no bem-estar e na produtividade dos funcionários, bem como na racionalização dos recursos da empresa dedicados ao setor”, esclarece Murta.

Outra tendência do mercado tem sido a implantação de ambulatórios próprios, que funcionam como um núcleo de atenção primária supervisionados por médicos da família. “Estes profissionais têm preparo para atender todos os gêneros e faixas etárias. O acompanhamento de saúde contínuo dos funcionários evita a procura pelo especialista “, afirma Murta.

Esta também é a opinião do médico e CEO do Imtep, empresa líder na gestão de saúde empresarial no país, Alexandre Berger. Segundo ele, o sistema de atenção primária é eficaz para resolver até 80% das intercorrências médicas. “ Na maioria dos casos, a procura pelo médico especialista é desnecessária e eleva a sinistralidade do plano no momento da renegociação do reajuste”, afirma.

Mas se a fórmula para a resolução do problema parece estar à disposição das empresas, qual seria então o impedimento para que mais organizações invistam na modalidade núcleo de atenção primária? Segundo Berger, a cultura do empresário brasileiro ainda está muito focada no custo do processo de implantação de uma estrutura de atendimento. “Diferentemente de outros países, existe uma certa dificuldade do nosso empresariado em enxergar os benefícios e a redução de custos futuros, que fatalmente deverão impactar de forma positiva no caixa das empresas. Até pelo histórico econômico do Brasil, somos reticentes em investir em ações que, em primeiro momento, tem um custo superior ao benefício, que será revertido em um prazo mais longo”, garante o CEO.

Mas a implantação de um núcleo de atenção primária vai muito além dos benefícios econômicos para as empresas e atinge diretamente a melhoria da saúde do colaborador. Considerado um problema premente de saúde pública hoje no país, as doenças crônicas também têm um impacto significativo na produtividade e nos custos da gestão de saúde nas empresas. Para se ter uma ideia, a Brazil-US Business Council, organização que se dedica ao fortalecimento das relações econômicas e comerciais entre os Estados Unidos e o Brasil, estima que no país, até 2030, os casos de absenteísmo, presenteísmo e aposentadoria precoce, cuja causa são as doenças crônicas, representem perdas de 8,7% do PIB (dados do Sesi).

De acordo com especialistas do setor, este dado é considerado extremamente elevado, visto que a produtividade da indústria brasileira deixa muito a desejar. Segundo estimativas da organização norte-americana The Conference Board, que pesquisa e reúne dados de centenas de países, o Brasil atualmente ocupa a 52ª posição dentre os 68 países que têm esse dado consolidado na base de informações da instituição. Isto significa que são necessários quatro brasileiros para produzir o mesmo que um norte-americano, visto que os EUA ocupam o primeiro lugar na lista de países mais produtivos do mundo.

Fonte: SaúdeBusiness