Na luta para organizar as finanças em meio à recessão econômica, os brasileiros estão preferindo arriscar e abrir mão do plano de saúde. Mais de 1,6 milhão de pessoas deixaram os planos médico-hospitalares entre maio de 2015 e o mesmo mês de 2016. Desde dezembro do ano passado, foram 788 mil. A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) divulgou nesta terça-feira (14) os dados referentes ao mês de maio. As informações são passíveis de alterações (os dados consolidados são lançados a cada trimestre. O próximo sai em junho), mas mostram a tendência de queda no número de beneficiários em todo o País. No total, são 48.623.463 usuários ante 50.055.804 no mesmo período de 2015. Entre as causas para o abandono do convênio, estão principalmente o desemprego, o alto preço das mensalidades e até mesmo a insatisfação com a qualidade dos serviços oferecidos.

“É uma perda muito lamentada e difícil, até preocupante. Mais de 11 milhões de pessoas estão desempregadas. Quando a empresa faz cortes, a pessoa demitida reduz consideravalmente a renda. Um das primeiras coisas de que se abre mão é o plano de saúde. Também existem aquelas pessoas que não perderam os empregos, mas, devido à recessão, encontraram dificuldades para pagar porque tudo ficou mais caro”, afirma o coordenador regional da Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge), Flávio Wanderley.

Na comparação com abril, os números permaneceram praticamente estáveis, com a perda de 30 mil clientes, o que representa uma baixa de 0,06%. Todas as modalidades apresentaram queda em um mês, menos o segmento de planos de saúde coletivos, – o que geralmente é mais afetado devido à alta do desemprego –, que subiu de 32.269.736 para 32.275.710. Em Pernambuco, houve um aumento de 0,06% no número de segurados entre abril e maio. Para Flávio Wanderley, o dado não é um representativo de melhoras no setor. “Em dezembro de 2014, havia mais de 50 milhões de usuários. Agora, temos 48 milhões. Não aumentou o número geral de usuários no sistema, o que mais é importante. O que pode ter acontecido é uma migração de uma modalidade para outra”, comenta. Por outro lado, os planos exclusivamente odontológicos estão com 21,9 milhões de segurados, o que representa um aumento de 0,82% em relação a abril.

O desemprego motivou a saída de Caroline Alencar, 23 anos, do seguro médico-hospitalar. A empresa em que trabalhava financiava parte do valor. Quando foi demitida, não teve condições de arcar com a mensalidade sozinha. “Eu tenho outras prioridades no momento, mas quando arranjar outro emprego, quero fazer tanto para mim quanto para minha mãe”, afirma a webdesigner e estudante de administração. Já o supervisor de vendas Luccio Zanini, 31, preferiu cortar gastos. “Eu saí do emprego porque acabei de ter filho. Minha mulher precisava de minha ajuda em casa. Para economizar, preferi abrir mão do plano de saúde e manter um para meu bebê”, afirma. O caso do estudante Dayw Vilar, 24, envolve os altos preços e a insatisfação com o serviço. “Preços abusivos, carências em cima de carências desnecessárias para poder ter acesso a algumas especialidades. Estou procurando algum serviço mais barato, mas é difícil. O custo-benefício não compensa”, lamenta.

Consequentemente, a situação também piora para as operadoras de saúde. Segundo a Abramge, as empresas trabalham com margem de lucro de 1%. A associação emitiu nota afirmando que as empresas apostam em novos modelos de gestão, e em programas de prevenção e promoção de saúde para manter os clientes. Além disso, destaca a importância de discutir a adoção de um novo modelo de remuneração.

Fonte: Jornal do Commercio