13.05Durante o 23º Congresso de Presidentes, Provedores, Diretores e Administradores Hospitalares de Santas Casas e Hospitais Beneficentes do Estado de São Paulo, que aconteceu no Guarujá (SP), a Confederação das Santas Casas e Hospitais Filantrópicos (CMB) definiu, em assembleia, um documento com as reinvindicações do setor filantrópico em nível nacional. Foram elaboradas duas cartas: a Carta de São Paulo e a Carta ao Congresso Nacional.

A primeira será direcionada à Presidência da República, aos ministérios da Saúde, da Fazenda e do Planejamento, às presidências da Câmara dos Deputados, Senado Federal, Frente Parlamentar de Apoio às Santas Casas, Frente Parlamentar da Saúde e à Secretaria de Assistência à Saúde, do Ministério da Saúde.

A segunda carta, direcionada ao Congresso Nacional, trata da máxima preocupação da CMB com relação aos projetos de lei em tramitação que estabeleçam  impactos  financeiros  ao  setor  saúde, como o das  30  horas  jornadas  de trabalho  para  a  área de enfermagem  e  pisos salariais.

Leia as duas cartas na íntegra logo abaixo:

 

CARTA DE SÃO PAULO

A  Confederação das  Santas  Casas  e  Hospitais  Filantrópicos  –  CMB, reunida  em São Paulo com as maiores Santas Casas e Hospitais sem fins lucrativos brasileiros, incluindo os de ensino, durante o 23º Congresso da Fehosp, atendendo decisão assemblear, vem dar  conhecimento público e solicitar providencias dos gestores do SUS sobre o seguinte contexto de realidade:

1- Reiterar a crise existente no segmento, com déficit de custeio na assistência SUS já superior a R$ 5 bilhões ano, situação que gerou dívidas acumuladas ao longo dos anos no montante de R$ 15 bilhões;

2- Reiterar  compromisso  com  assistência  da  população  brasileira  em  suas  2100  unidades hospitalares,  às  quais  respondem  por  50%  dos  atendimentos  SUS,  considerando  todos  os níveis assistenciais, sendo caracterizadamente vitais para a sociedade;

3- Salientar  que  as  medidas  encaminhadas  pelo  Governo  Federal  em  2013  foram  parciais  e insuficientes  para  resolver  a  crise  de  sustentabilidade  acima  expressa.  O  valor  do  novo Incentivo a  Contratualização  – IAC  não foi  destinado  para todas  as  instituições  conforme  o compromisso ajustado com o Gestor Federal, além do montante corresponder à apenas ¼ do déficit acima apontado;

4- Salientar também  que  o  PROSUS,  criado para  resolver  a  dívida  de  tributos  com  o  Governo Federal,  ainda  não  está  implementado,  contendo  em  seu  bojo  critérios  e  requisitos inaplicáveis  pelos  hospitais,  tais  como:  necessidade  de  plano  de  viabilidade  econômica, obrigação de oferta de mais serviços, por consequência gerando mais déficit, e correções das parcelas das dívidas, entre outros aspectos;

5- Expressar,  mais  uma  vez,  que  a  totalidade  desta  dívida  existente  não  pertence  as  Santas Casas  e aos  hospitais Filantrópicos,  e  sim aos  gestores  dos  SUS,  na  medida em  que foram compelidas  a  manterem-se  amplamente  direcionadas  ao  Sistema  numa  relação  de  sub-financiamento de longo prazo. A maior parte desta dívida, na ordem de R$ 8 bilhões é com o sistema  financeiro,  sobre  a  qual  não  houve  qualquer  medida  de  resolução  até  este momento;

6- Que  a  agenda  de  2014  apresentada  ao  Gestor  Federal  em  dezembro  de 2013,  e  por  este acolhida positivamente, não teve, até o momento, qualquer tratativ a sequencial, apesar dos 5 meses já transcorridos do ano;

7- Que a referida agenda imprescindível para o setor é:
– Ampliação do custeio da  média complexidade –  estabelecer  nova  recomposição do IAC correspondente a 100%  do valor contratado com o SUS, para todos os  hospitais do  segmento,  nos  moldes  da  Portaria  GM/MS  nº.  2.035/2013,  com aperfeiçoamentos a serem consensados e garantindo-se a continuidade do fluxo dos recursos como política de Estado;
– Ampliação  do  IAC  cumulativo  para  os  Hospitais  de  Ensino  para  20%,  tal  como previsto na Portaria GM/MS nº. 2.035/2013, bem como, destinação de recursos para pagamento  da  integralidade  de  bolsas  de  residências  médicas,  hoje  sob responsabilidade destas instituições;
– Extensão  do  PROSUS  e/ou  criação  de  alternativa  para  soluções  de  dívidas  com  o sistema financeiro, alcançando juros máximos de 4% ao ano e prazos mínimos de 120 meses, com  carência  de 2 anos,  tendo  como parâmetro políticas  atinentes ao  setor da agricultura e/ou setores da indústria brasileira;
– Criação  de  linha  de  recursos  de  investimentos,  a  fundo  perdido,  aos  moldes  do REFORSUS, tanto para tecnologias como para adequações físicas;

8- Expressar  ainda, a compreensão  de que  as  políticas de  recomposição  de  valores através  de Incentivos  à  Contratualização-IAC  são  medidas  transitórias  para  o  necessário  reajuste  da Tabela  do  Sistema  Único  de  Saúde,  incluindo  a  área  da  alta  complexidade  ,  também  já geradora  de  déficits,  garantindo-se,  ao  final,  o  equilíbrio  econômico  e  financeiro  dos contratos;

9- Faz-se necessária a orientação  pelos  diversos níveis  de gestores  do  SUS para que  a vigência de  qualquer  nova  normatização  operacional  na  execução  do  processo  assistencial, notadamente  relacionada  a  insumos  e  processos,  seja  precedida  da  adequação  do custeio para a efetividade da mesma.

Que,  diante do acima exposto  e  considerando  que os apoios financeiros originários de  Estados  e  Municípios  são  insuficientes  para  o  enfrentamento  da  crítica  realidade  de sustentabilidade, pública e notoriamente  conhecida por todos,  vem  a  CMB, em  nome da  Rede das Santas  Casas  e  Hospitais  Filantrópicos  Brasileiros,  solicitar  celeridade  ao  Governo  Federal  nas medidas  necessárias  para  o  atendimento  da  agenda  de  2014  ora  exposta  e  reiterada,  com expectativa  de  solução  até  15  de  junho  próximo,  sob  risco  de  colapso  no  processo  assistencial, absolutamente indesejado pelas instituições.

EDSON ROGATTI
Presidente

CARTA AO CONGRESSO NACIONAL

A  Confederação  das  Santas  Casas  e  Hospitais  Filantrópicos  –  CMB, representando  as  2100  Unidades  Assistenciais  Brasileiras,  entidades  que respondem por 50% da assistência SUS no país, considerando todos os níveis de  atendimentos,  vem  expressar  sua máxima  preocupação com  relação  a projetos de lei em tramitação que estabeleçam impactos financeiros ao setor saúde, notadamente o que diz respeito a jornadas de trabalho e pisos salariais.

Especialmente, o Projeto de Lei das 30 horas para a área de enfermagem, se aprovado  nos  termos em que  se  encontra,  significará,  não  há  dúvidas,  a sucumbência  da  maioria  absoluta  das  Santas  Casas  e  dos  Hospitais Filantrópicos,  tanto  pelo  fator da  insustentabilidade  econômica  e financeira, como pela falta de profissionais no mercado de trabalho para suprir as vagas decorrentes da redução da jornada a ser imposta.

É  importantíssimo  considerar  que,  estas  instituições  hospitalares destinam  mais  de  60%  de  suas  capacidades  assistenciais  ao  SUS,  cuja contraprestação  é  pública  e  notoriamente  conhecida  como  deficitária,  na ordem  de  R$  5,1  bilhões  ano,  consolidado  no  país.  Esta  realidade  já  gerou dívidas acumuladas superior a R$ 15 bilhões ao longo dos anos.

O impacto estimado do Projeto de Lei das 30 horas da enfermagem no setor saúde em todo o Brasil corresponde a R$ 13 bilhões ano.

Como resolver isto? Diante de um custeio hoje deficitário agregar mais custos será possível sobreviver? Fechar é o caminho a ser indicado?

O que fazer com 150 milhões de brasileiros que só tem o SUS como seu sistema de saúde, diante da insolvência e do fechamento da maioria das Santas Casas e Hospitais Filantrópicos?

É hora do bom senso e da prevalência do interesse maior da sociedade brasileira, especialmente aquela dependente do SUS.

EDSON ROGATTI
Presidente