Com cirurgias em ritmo lento e maiores impeditivos para doação de órgãos, fila por transplantes aumenta em 30% durante a pandemia de coronavírus. Em julho, 46 mil 181 pacientes aguardavam na fila de espera, segundo o Ministério da Saúde. No mesmo mês do ano passado, eram 35 mil, 519.

É o caso da Lorena, de 4 anos, que aguarda um transplante de coração há um ano e três meses. A mãe dela, Bárbara Freitas, disse que a angústia só aumentou durante a pandemia:

“No começo da pandemia, os médicos me ligaram, e eu lembro que meu coração acelerou, porque eu achei que seria um possível doador, mas a doutora me ligou para retirar a Lorena da fila de transplante, justamente por precaução, com medo de chegar um possível doador que estivesse contaminado pela Covid e passar a doença para a Lorena através do órgão. A Lorena, desde o início da pandemia, a fila não andou pra ela, então, está sendo angustiante para a família”, lamentou Bárbara.

O presidente da ABTO, Huygens Garcia, acredita que a subnotificação e a dificuldade de viajar durante a pandemia para a realização de cirurgias tenham contribuído para o aumento da fila e o avanço lento dos transplantes:

“Foram realizados apenas os transplantes de urgência. Então isso fez com que aumentasse a fila. Porque muitos Estados que não fazem transplantes no Brasil, os pacientes são direcionados aos Estados com potencial de fazer transplante. E isso não aconteceu na pandemia por redução da malha aérea, dificuldade de viajar. Então, provavelmente esse número é até subestimado, de 40 mil”, ressaltou.

No primeiro semestre deste ano, houve queda de seis e meio por cento no número de doadores efetivos de órgãos, em comparação com o mesmo período de 2019.

O médico infectologista e diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações, Renato Kfouri, destacou que a recomendação é não utilizar órgãos de pessoas que morreram com suspeita ou confirmação de Covid-19. O entendimento também vale para doadores vivos:

“Está em vigência da doença, ou teste positivo, ou uma doença respiratória grave, que você ainda não definiu qual é o diagnóstico, esse não deve ser um doador potencial. Não utilizar esse órgãos de doadores já falecidos né. No caso de você ter um doador que é um contato de um caso confirmado, você pode considerar o uso dependendo da urgência, do risco e do benefício para esse indivíduo que vai receber”, disse Kfouri.

Pacientes sem sinais clínicos e sintomas de coronavírus por pelo menos sessenta dias podem voltar a ser potenciais doadores.

Outro impacto da Covid-19 é o baixo volume de UTIs e médicos disponíveis para fazer os transplantes. Quem explica é a presidente do Instituto Gabriel, Maria Inês:

“A gente está com problema de vagas de UTI, né. Um paciente transplantado precisa de uma vaga de UTI garantida, com isolamento e tudo mais. E hoje, a gente está com esse panorama: falta de leitos e de equipes”, destacou.

Segundo a ABTO, a mortalidade na fila de espera por transplante é maior entre pessoas que aguardam por doação de coração, pulmão e fígado.

Fonte: CBN