Por Riad Younes*

Basta ligar para o telefone da maioria dos hospitais do Brasil para ouvir uma rápida gravação solicitando espera para o atendimento. Como tenho, por obrigação de ofício, que telefonar para vários hospitais, em São Paulo e fora dela, para obter informações sobre pacientes que se encontram ali internados, ouvir a gravação se tornou rotineira.


Por mais diferentes, e de qualidade médica desproporcional, os hospitais oferecem, em praticamente todas as gravações, uma palavra repetida ad nauseam: excelência. Palavra esta que se combina com várias outras. Centro de excelência. Hospital de excelência. Serviços de excelência. E assim vai. Basta um centro médico, ou uma instituição, pintar as paredes, reformar a entrada, ou comprar um aparelho novo, que a excelência se torna uma característica imediata.

Conversando com alguns médicos, poucos dias atrás, a insatisfação com a qualidade da medicina praticada em muitos hospitais ficou óbvia. As instituições citadas nesta conversa incluíram, desde as clássicas problemáticas, até alguns centros médicos famosos e considerados como Top de Linha. As gravações, em todos estes hospitais, continuam divulgando uma “excelência” pouco percebida por quem mais utiliza suas infraestruturas. Os médicos.

Excelência em medicina não se refere simplesmente ao tamanho dos prédios dos hospitais, nem ao número de aparelhos novos comprados, e muito menos à beleza das entradas e das fachadas. Excelência em medicina se refere, simplesmente, a oferecer o melhor cuidado ao paciente, em todas as fases de seu tratamento. Bons médicos experientes, disponíveis sempre que necessário. Enfermagem treinada e adequadamente aparelhada e remunerada, com condições plenas de atendimento aos doentes. Aparelhos atualizados (não precisam ser de ultima geração necessariamente), e utilizados por médicos treinados e que sabem tirar deles os resultados adequados. Controle de qualidade contínuo, e não simplesmente avaliação de alguns parâmetros para preencher papéis rotineiros, sem significado médico algum. E, o que raramente pode ser visto no Brasil, o controle dos resultados.

Ouvimos falar de hospitais de excelência, mas, como “consumidores” destas instituições, não temos acesso aos reais resultados dos tratamentos oferecidos neles, para serem comparados com outros centros brasileiros ou mundiais. Se quiser saber qual seria tua chance de estar vivo, um mês, um ano, ou uma década, após uma cirurgia ou um outro tratamento qualquer, dificilmente encontrará dados claros dos hospitais ditos de excelência.

Sabe por quê? Poucos controlam seus resultados, bons ou ruins. Divulgam dados obtidos por aparelhos novos manuseados em centros médicos nos Estados Unidos ou na Europa. Infelizmente, a excelência de um aparelho não se compra junto com o equipamento. Se adquire com tempo, talento, experiência e controle de qualidade. Aí sim, pode-se divulgar a excelência de fato, para não se tornar uma palavra banal, repetida com vozes macias, em gravações que não querem dizer nada.

*Riad Younes: Cirurgião torácico, é professor Livre Docente da Faculdade de Medicina da USP, Médico do Centro Avançado de Oncologia do Hospital São José, São Paulo. Especialista em câncer de pulmão.

Fonte: Terra Magazine/ Blog do Riad Younes