O médico Marcial Ribeiro | Divulgação

O médico Marcial Ribeiro | Divulgação

A situação dos hospitais filantrópicos brasileiros é crítica. Dívidas e problemas administrativos compõem o cenário desse serviço que, em teoria, deveria ser um modelo de sucesso. Em Curitiba, as dívidas bancárias são assustadoras. O Hospital Evangélico possui R$ 80 milhões em débitos. No Pequeno Príncipe, referência em saúde infantil, são R$ 18 milhões. Já o São Vicente – FUNEF possui dívidas que somam R$ 7,5 milhões. No total, hospitais da cidade gastam mais de dois milhões mensais com despesas de juros bancários. Se esses valores fossem utilizados na assistência médica, milhares de pessoas teriam acesso facilitado a seu bem maior: a saúde.

Quais fatores contribuem para essa situação? A gestão administrativa é um deles e precisa ser reavaliada. Mas o principal fator é de ordem financeira. Os valores repassados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) estão defasados. Algumas correções foram realizadas, porém, de acordo com estudos da Federação das Santas Casas, para cada R$ 100 utilizados para atendimento no SUS, apenas R$ 60 são pagos aos hospitais.

Além disso, existe a chamada “contratualização de hospitais” com o SUS, que traçam metas com valores que devem ser atingidos para efetivar pagamentos. Por outro lado, os critérios “legais” utilizados para o mecanismo de pagamento são de 90 a 120 dias. Já os gastos dos hospitais são mensais e o faturamento é encaminhado, normalmente, no início do mês seguinte. Sem tempo e sem dinheiro em caixa, os hospitais buscam recursos para saldar os seus compromissos. Essa é uma das razões básicas de endividamento.

Imagine se os hospitais filantrópicos, que respondem por dois terços da assistência médica no Brasil, fechassem suas portas? No Paraná, até dezembro de 2014 foram fechados 5.445 leitos. No Brasil, a notícia que se espalha é que centenas de milhares de leitos estão sendo desativados.

É preciso rever os critérios, as metodologias de encaminhamento e, principalmente, exigir que os administradores da saúde no país tenham conhecimento e experiência no setor. Estamos falando do maior direito do cidadão e da própria lei, como dever do Estado.

Onde estão os parlamentares que não colocam esse tema como prioridade? Soluções existem. Portanto, é necessário encontrar uma saída legal e ideal para o caso dos filantrópicos no Brasil, caso contrário, a calamidade na saúde será declarada.

* O médico Marcial Carlos Ribeiro (foto) é diretor-presidente do Hospital São Vicente (Funef), em Curitiba-PR.

Fonte: O Globo