“Você não está só”. Este é o tema da Campanha Setembro Amarelo pela Valorização da Vida, do Hospital Psiquiátrico de Maringá (HPM), que será lançada nesta quarta-feira, às 9h. O objetivo é chamar a atenção, durante todo o mês, para a verdadeira tragédia que é o suicídio no Brasil e no mundo. E, como forma de prevenção, além das políticas públicas adequadas, cada um pode fazer a sua parte, não negligenciando sua própria capacidade de lidar com uma situação difícil, bem como apoiando aqueles que estão vivendo uma crise.

Um dos fatores que não pode ser negligenciado, por exemplo, aponta o médico psiquiatra Paulo Vecchi Abdala, diretor clínico do HPM, é o transtorno ou doença mental, como a depressão, que é uma importante causa para o suicídio. “Duas palavras são essenciais quando se trata desse tema: negligência e empatia. Ao mesmo tempo em que não podemos negligenciar quaisquer fatores que possam levar uma pessoa a tirar sua própria vida, precisamos esbanjar empatia, que é a capacidade de entender a situação de outra pessoa e auxiliar nos momentos difíceis”, frisa o médico.

PANDEMIA DA COVID-19

Dr. Paulo lembra, ainda, que já existem indícios apontando para o aumento de casos de suicídio durante a pandemia da Covid-19. Um recente artigo publicado no Lancet Psychiatry discute a situação da atual pandemia de Covid-19 e, dentro de suas consequências, especula sobre um possível aumento nos índices de suicídio.

“Quanto mais a doença se espalha, mais efeitos de longo prazo podem ser sentidos em diversas áreas da vida, gerando um maior impacto sobre populações consideradas como vulneráveis e, portanto, podendo afetar os índices de comportamento suicida.”

Veja alguns números da Organização Paranamericana de Saúde (OPAS), que chamam a atenção:

• Cerca de 800 mil pessoas morrem por suicídio todos os anos.
• Para cada suicídio, há muito mais pessoas que tentam o suicídio a cada ano. A tentativa prévia é o fator de risco mais importante para o suicídio na população em geral.
• O suicídio é a segunda principal causa de morte entre jovens com idade entre 15 e 29 anos.
• 79% dos suicídios no mundo ocorrem em países de baixa e média renda.
• Ingestão de pesticidas, enforcamento e armas de fogo estão entre os métodos mais comuns de suicídio em nível global.

No Brasil, a situação não é diferente. Em 2016, a OMS contabilizou 6,1 suicídios a cada 100 mil habitantes. Já em 2010, foram registrados 5,7 suicídios a cada 100 mil habitantes no país.

UMA TRAGÉDIA

Para o diretor clínico do Hospital Psiquiátrico de Maringá, o suicídio é uma tragédia anunciada. “Cada suicídio é uma tragédia que afeta famílias, comunidades e países inteiros e tem efeitos duradouros sobre as pessoas deixadas para trás”.

Em consequência disso, em campanha global, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e organizações parceiras pedem um aumento maciço nos investimentos em saúde mental, já que é uma das áreas mais negligenciadas da saúde pública. Os países gastam, em média, apenas 2% de seus orçamentos de saúde em saúde mental.

E este problema, como explica Dr. Paulo Abdala, necessita de uma ampla estratégia multissetorial. “Acredito que o problema não seja de orçamento somente, mas de negligência mesmo, especialmente em nosso país”, opina.

COMO IDENTIFICAR

Segundo o Ministério da Saúde, “não há uma ‘receita’ para detectar seguramente quando uma pessoa está vivenciando uma crise suicida, nem se tem algum tipo de tendência suicida. Entretanto, um indivíduo em sofrimento pode dar certos sinais, que devem chamar a atenção de seus familiares e amigos próximos, sobretudo se muitos desses sinais se manifestam ao mesmo tempo”.

1) O aparecimento ou agravamento de problemas de conduta ou de manifestações verbais durante pelo menos duas semanas.
2) Preocupação com sua própria morte ou falta de esperança.
3) Expressão de ideias ou de intenções suicidas.
4) Isolamento, entre outros fatores.

Portanto, de acordo com o médico psiquiatra Paulo Vecchi Abdala, diretor clínico do HPM, é preciso, diante de uma pessoa com um transtorno mental, emocional ou que esteja passando por momentos de angústia, ao invés de julgar a conduta, oferecer apoio e orientar a procurar ajuda.

Fonte: Hospital Psiquiátrico de Maringá