Uma metodologia de categorização de pacientes internados em hospitais está se tornando mais popular no setor de Saúde. Trata-se do DRG – Diagnosis Related Groups -, um sistema alimentado por dados que categoriza e mede a complexidade, a criticidade e o nível da segurança assistencial de cada paciente internado, possibilitando, assim, mensurar e comparar o desempenho assistencial e econômico de médicos, equipes, clínicas e hospitais com referenciais internos e externos nacionais.

De acordo com Flaviano Feu Ventorim, presidente da Femipa, a proposta da ferramenta é que os hospitais consigam entender melhor o perfil do paciente e possam entregar ao usuário a assistência que atenda realmente as suas necessidades, sem desperdícios.

“O DRG ajuda a ver o paciente na sua integralidade, estratificando as diferenças no perfil de cada um. Vamos conseguir classificá-los melhor e poderemos chegar à melhor assistência para as diferentes necessidades dos pacientes. Nem toda apendicite é igual, assim como nem toda gravidez é igual. Como vamos tratar uma gravidez simples, de uma gestante em idade fértil, e como vamos tratar uma gravidez de gestante com eclampsia, ou seja, como avaliar as diferenças de uma mesma situação? O DRG vai nos ajudar a fazer essa reflexão”, explica.

Para Faustino Alferez, diretor de Saúde e Intercâmbio da Unimed Paraná, as principais vantagens do DRG são transparência na relação prestador e operadora, baixo custo de transação e operação para todas as partes, previsibilidade da jornada do paciente, maior segurança e melhores resultados assistenciais, gestão da permanência hospitalar, centralidade no paciente, experiência positiva do cliente, alinhamento do relacionamento entre médicos, hospitais e pacientes, coleta de indicadores e plano de melhoria mais assertivo.

“Com isso, o foco não será em custo, mas, sim, no paciente, para que possamos oferecer um bom atendimento, boa qualidade de vida, e garantir que a assistência destinada ao paciente seja aquela que ele realmente precisa. Isso vai trazer benefícios para todos os envolvidos”, ressalta.

Renato Camargos Couto, médico, diretor da IAG Saúde e cofundador do DRG Brasil, complementa, dizendo que é impreterível a necessidade de o mercado de saúde brasileiro de oferecer o melhor resultado assistencial com menor nível de desperdício de recursos, e ressalta que o sistema incentiva a produção de informações para a gestão clínica de hospitais, correlacionando, por exemplo, os tipos de pacientes atendidos nas instituições com os recursos consumidos durante o período da permanência hospitalar.

“Todos os sistemas de Saúde do mundo usam o DRG, que vem associado a recompensas e punições econômicas pela entrega de valor e resultados assistenciais com eficiência ao paciente. Se conseguirmos entregar resultados assistenciais, haverá redução de desperdícios, disponibilizando recursos para todas as partes. Um estudo realizado em 2018, o II Anuário de Segurança Assistencial Hospitalar, mostra que 15% dos custos hospitalares foram para pagar falhas de segurança que envolvem todas as partes”, cita.

Outro ponto importante nessa discussão, destacado pelo presidente da Femipa, é que a adoção do DRG, em um segundo momento, poderá impactar no modelo remuneratório que vem sendo discutido entre hospitais e operadoras.

“A forma de remuneração existente hoje não agrada, e o fee for service, modelo vigente há bastante tempo, não privilegia a boa assistência. Precisamos rever o modelo, precisamos ter resultado para o paciente, entregá-lo de forma adequada à sua família e repensar a assistência que estamos dando. Sair do modelo fee for service e ir para um modelo de prestação de atendimento de acordo com a necessidade e a gravidade de tratamento, para termos uma forma e uma fórmula de pagamento mais adequadas. O DRG vai nos ajudar a entender qual é o mercado e qual é o perfil do paciente que bate à porta desses hospitais”, diz Ventorim.

Porém, apesar das vantagens apresentadas pelos entrevistados, o presidente da Femipa alerta que a metodologia não pode ser enxergada como uma ferramenta de mudança de modelo de remuneração, mas, sim, como uma ferramenta de melhoria do entendimento no processo de atendimento, de classificar o doente.

“A remuneração é uma consequência posterior. O DRG é um processo educativo que vai criar uma estrutura de autoconhecimento e ajudar na tomada de decisões. A partir daí é que poderemos pensar em mudar o modelo de remuneração. Não é a solução de todos os problemas, não é o DRG que vai dizer qual é o custo de uma internação, por exemplo. Mas é essa ferramenta que vai dizer que determinado paciente, em determinada condição, precisa de determinada assistência. Cada hospital, de acordo com a sua estrutura, vai dizer se tem condição de atender e qual o preço daquele tipo de assistência. E a operadora vai dizer se concorda ou vai questionar, apresentando, por exemplo, um histórico que mostra que aquele tipo de paciente, com aquela comorbidade, não precisaria daquele tipo de assistência, ou que determinado hospital faz a mesma assistência com menos tempo de permanência, ou menos custo, e buscar saber o que está acontecendo. A operadora vai poder qualificar os seus prestadores, seja hospital, seja médico, e buscar resultado. E o prestador vai ter mais informações para negociar”, garante.

Experiência

Desde o início de 2019, o Hospital Erasto Gaertner vem utilizando a metodologia DRG, dentro da proposta de intercopeeração com a Unimed e a Femipa. Carla Martins, diretora geral da instituição, comenta que o hospital ainda está na primeira etapa, aprendendo a codificar, porque quanto melhor for o processo de codificação, mais confiáveis serão as informações, o que vai ajudar na tomada de decisão.

“Com o que temos hoje de pacientes codificados, já conseguimos fazer uma primeira avaliação, olhar as características da nossa população atendida em termos de criticidade, gravidade etc. A partir de agora, vamos implantar a metodologia para 100% dos nossos pacientes, sejam pacientes SUS, ou da rede privada, independentemente da fonte pagadora, porque acreditamos que a metodologia vai trazer transparência e possibilitar, com riqueza de informações, a análise de outras formas de remuneração e sustentabilidade do sistema como um todo”, ressalta.

Segundo Carla, a metodologia alinha a assistência e a qualidade da assistência com a utilização eficiente de recursos. “O recurso, independentemente da fonte pagadora, é limitado. O sistema de saúde do jeito que está ancorado hoje não se sustenta mais. Precisa-se de outro olhar, que não beneficie a utilização do sistema por produção, mas, sim, que beneficie a utilização do sistema por qualidade e segurança”, comenta.

Ela diz, ainda, que o Erasto Gaertner já conta com um sistema de custos que garante conhecer o custo dos procedimentos e trabalhar em cima deles, mas o DRG vai trazer isso de forma mais ampla e convergir para a assistência com quatro alvos: uso eficiente do leito hospitalar; redução de condições adquiridas; redução de readmissão não planejada em 30 dias; e redução das internações sensíveis a cuidados na atenção primária.

“De início, olhando para esses quatro alvos, o hospital já agrega valor ao paciente e à gestão. Assim, vamos ter melhor utilização dos recursos. É uma metodologia complexa, mas adaptável à realidade brasileira. A médio prazo, vai dar oportunidade de gerar economia, com saúde baseada em valor, de forma mais transparente e equitativa. Temos que olhar seriamente para a sustentabilidade do sistema, para a assistência adequada, com transparência entre todos os envolvidos, incluindo o paciente”, completa.

Cooperação

Durante o 12º Seminário Femipa, que aconteceu em março, foi assinado o termo aditivo de intercooperação entre a Femipa, as Unimeds Curitiba e Paraná e a Federação dos Hospitais e Estabelecimentos de Serviços de Saúde no Estado do Paraná (Fehospar) para continuar o desenvolvimento do projeto para implantação da metodologia DRG.

Atualmente, seis unidades da Unimed no Estado participam do projeto – Cascavel, Costa Oeste, Curitiba, Londrina, Maringá e Ponta Grossa -, com 11 prestadores. Dentre os participantes, quatro são afiliados à Femipa: Hospital Evangélico de Londrina, Santa Casa de Maringá, Hospital Erasto Gaertner e Cruz Vermelha.

Paralelamente ao termo, a Unimed também tem investido na melhoria da entrega assistencial e da segurança para os pacientes, o projeto Segurança em Alta, que, hoje, conta com a participação de 14 Unimeds e 49 hospitais do Estado. Já são 1.588 profissionais capacitados por meio de 127 treinamentos realizados. As três etapas do Programa se dividem em Diagnóstico e Melhoria, Qualificação e Manutenção. Se, durante a avaliação de manutenção da qualificação, o prestador recebe nota inferior a 7, volta ao processo de qualificação com acompanhamento técnico.

Fonte: Jornal Voz Saúde