O problema da sustentabilidade do segmento Filantrópico é uma questão fundamental para o Setor Saúde. A afirmação é do presidente da Abramge, Dr. Arlindo de Almeida, que participa, na próxima quinta-feira (05) da Mesa Redonda do IX Congresso Nacional de Operadoras Filantrópicas, em Santos (SP).

Dr. Arlindo ressalta que as Santas Casas, especialmente, são as entidades de Saúde mais antigas do País e são as que têm a maior rede no interior e não podem, simplesmente terminar. “Agora, depender de esmola é complicado. A maior parte depende disso, porque sempre falta recursos. Quando começaram a atender o SUS, o mercado achou que seria a solução para o problema das Misericórdias, mas foi um engano, porque a tabela do SUS não chega a cobrir 70% dos gastos dessas entidades”, afirmou.

Para ele, a Mesa redonda será bem interessante porque vai reunir todos os presidentes das entidades representativas de planos de saúde e fazer um debate intenso, com perguntas e respostas, com tempo para tirar dúvidas, de forma bastante dinâmica e participativa.

RSF – Como a Abramge vê o panorama atual do Setor?
Arlindo de Almeida –
Nós temos que verificar a sustentabilidade desse setor. Da maneira que está indo, não me parece sustentável. A sensação que dá é que está havendo cada vez mais uma elitização dos planos de saúde de uma maneira geral, então, com isso, você afasta vários setores. Sem contar que os empresários não estão muito felizes, especialmente com a última Resolução 279, também surgem alguns problemas, porque as empresas começam a ter uma série de obrigações que não estavam previstas. O que acontece é que se o empresário não der nada, ele não tem que fazer nada. Mas se der alguma coisa, é obrigado a dar o máximo do benefício que está oferecendo, com ressarcimento ao SUS, atualização do Rol de Procediment os, entre outros. É problemático. Quando pensaram que estavam dando algum suporte à população, o benefício se tornou um fardo. E, agora, é difícil sair porque a valorização do emprego atualmente é uma necessidade e nada melhor para valorizar o emprego do que um plano de saúde, que é a principal reivindicação de todas as categorias. Então, além desestimular o consumidor, os planos individuais estão com um problema sério, tendendo a deixar de existir. Há várias operadoras grandes como as seguradoras que já não os comercializam mais. Em primeiro lugar, temos que ver a possibilidade de ter um plano básico, que seja possível de dar para toda a população. Uma vez que é impossível dar tudo para todos, precisa se definir o que é indispensável oferecer. Se não, ficamos dependendo de quem tem mais recursos, que acabam cobrando do Judiciário determinados tipos de atendimento, de procedimentos e fica localizado nessas pessoas. A equidade que tanto se fala no SUS, por exemplo, fica prejudicada.

RSF – Em uma audiência da Câmara dos Deputados o Sr. chegou a dizer que as operadoras filantrópicas, visam o lucro, sim, mas, em decorrência do déficit que enfrentam por causa dos atendimentos ao SUS, toda sua receita é revertida para os próprios hospitais. Essa realidade pode significar que as operadoras filantrópicas são ainda um bom negócio para os hospitais filantrópicos e Santas Casas por ampliarem a receita desses estabelecimentos?
Arlindo de Almeida –
Elas inclusive vendem os planos de saúde com essa finalidade: não é para pôr o dinheiro no bolso, mas é filantrópica. Fazem os planos para ver se conseguem ter dinheiro a mais para poder financiar o SUS. É a mesma coisa que está acontecendo com as PPPs em São Paulo e Rio de Janeiro, por exemplo. O Estado está atendendo planos de saúde, está querendo, inclusive, reservar leitos para planos, para ver se ele pode cobrar um pouco mais para ajudar a financiar o SUS. Porque estão todos de chapéu na mão. E as Misericórdias, que atendem praticamente mais da metade de todo o SUS, passam muita dificuldade. Então muitas Misericórdias estão fechando suas portas sem essa atividade mais comercial trazida pelos planos de saúde.

RSF – Há algo que possa ser feito para melhorar a situação dessas OPS?
Arlindo de Almeida –
Depende dos resultados que elas têm. Se está ajudando na estrutura geral, eu acho que vale a pena. Agora, vale a pena para algumas. As Misericórdias são, em alguns casos, muito regionais. E essas regionais têm dificuldade de cumprir o rol de procedimentos integralmente. O que as Santas Casas faziam era vender planos de saúde para dar um acesso mais fácil, principalmente na área de conforto, apartamentos, etc, para poder ter recursos para continuar atendendo a população que não pode dispor do plano. Mas, se entra nessa situação, ela é obrigada a dar todo o rol, então, é complicado. Precisa ver se na região tem ou não o profissional ou os meios para atender essas demandas. Se as Santas Casas fizessem uma união grande, e fizessem um plano de saúde holístico, que reunisse o patrimônio das grandes S antas Casas, as Faculdades de Medicina, com toda a infraestrutura de alta complexidade necessária para cobrir o rol de procedimentos; se houvesse a possibilidade de fazerem um acordo entre todos, dividindo o nível de responsabilidade da alta complexidade, ser feito em determinados centros; se houvesse um tipo de mobilização da população necessitada, aí essa organização daria bons resultados. Parece que já há algo nesse sentido, mas nada muito organizado. Uma ideia é adotar um resseguro para manter esses serviços, por exemplo. Mas ainda é preciso discutir essa questão mais profundamente.

O IX Congresso Nacional de Operadoras Filantrópicas de Planos de Saúde começa nessa quarta-feira, dia 04 de julho, no Hotel Mendes Plaza, em Santos.

Confira a programação completa em www.redesaudefilantropica.cmb.org.br.

SERVIÇO:
O que:
IX Congresso Nacional de Operadoras Filantrópicas de Planos de Saúde
Quando: 04 a 06 de julho
Onde: Hotel Mendes Plaza (Avenida Marechal Floriano Peixoto, 42 – Gonzaga – Santos/SP – Telefone: (13) 3208-6400; www.mendeshoteis.com.br), Santos (SP).