04.06 1Há uma ânsia por inovação no setor de Saúde. É um sentimento fácil de detectar entre participantes e congressistas da Hospitalar, grande feira voltada para o setor realizada em maio, em São Paulo. Aliás, enorme: a maior feira do segmento na América Latina.

Muito embora grande parte dos expositores sejam fabricantes de equipamentos e produtos ou fornecedores de serviços, há certo consenso de que o atual modelo de remuneração do setor, baseado em procedimentos, está com os dias contados. E, claro, uma mudança neste sentido traz impactos consideráveis em toda a cadeia.

Por isso inovação é uma palavra que atrai muitos olhares amorosos dos executivos do setor. Isto tanto é verdade que um dos mais importantes eventos paralelos que ocorrem durante a feira, o Congresso Internacional de Serviços de Saúde (CISS), elencou o tema como caminho para aumentar a eficácia do sistema, pensando não só em ganhos de eficiência de fabricantes e prestadores de serviços, mas também em ganho de acesso.

Hospitais
“Há o consenso de que há a necessidade de mudanças no sistema de saúde, e não só no Brasil, mas no mundo”, disse Henrique Neves, diretor geral da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira do Albert Einstein, durante o CISS, à plateia formada por alguns dos principais executivos de operadoras, hospitais e indústrias do Brasil. Não houve discordância.

“São questões críticas como acesso, qualidade do cuidado e custo deste cuidado. Há um consenso de que o modelo atual não tem futuro. Portanto a inovação no setor é crítica, mas não é fácil de tratar ou fazer”, disse, para depois citar um documento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) brasileiro segundo o qual a parcela do PIB do País dedicada à pesquisa e desenvolvimento é de 1%, muito aquém do momento dedicado por nações que “lideram a corrida tecnológica”, que chegam à marca de 3% ou mais.

Além das já velhas e conhecidas dificuldade de empreender (e portanto inovar) na iniciativa privada, a dinâmica do processo de pesquisa e desenvolvimento científico no Brasil não tem como objetivo final o desenvolvimento de produtos. Boa parte das grandes descobertas fica esquecida ou trancafiada dentro dos belos tomos de capa dura nas prateleiras das universidades.

“Temos trabalhado desde 2010 com alguma intensidade, experimentando modelos diferentes e quebrando a cara”, conta Neves, a respeito das iniciativas de inovação do Einstein. “Fizemos um benchmarking e descobrimos que somos bons em produzir novos modelos de atividade, como a ‘ambulatorização’ em volta do hospital e as atividades de ensino. Mas para o desenvolvimento de produtos e serviços de forma mais estrito somos um fracasso.”

O hospital conta com um Centro de Inovação Tecnológica, criado em 2008 para viabilizar propostas de inovação tecnológica e facilitar sua incorporação. O CIT disponibiliza ferramentas e presta assessoria técnica, além de tentar reunir recursos e especialistas para criar novos produtos, processos e negócios em Saúde. Mas mesmo uma estrutura de fomento tão especializada encontra dificuldades de financiamento e lentidão no julgamento de projetos e propostas, além de capacitação dos indivíduos. “Quando a gente fala de inovação tende a subestimar a complexidade do processo”, pondera o especialista.

Saúde suplementar 
Não que um hospital como o Einstein não tenha iniciativas interessantes em termos de gestão e finanças – pois tem, principalmente no uso do Lean Six Sigma, história para uma matéria futura -, mas inovações nestas áreas são tudo o que importa para uma operadora, como é o caso da Unimed-BH. Das maiores do País, com 1,2 milhões de vidas na carteira, a cooperativa médica aposta em um novo sistema de remuneração, um dos principais gargalos do setor e fonte quase inesgotável de distorções e reclamações.

O diagnosis-related group, ou DRG, classifica os casos assistidos pela instituição hospitalar de acordo com características comuns de complexidade e outros parâmetros. A ideia é migrar para um modelo que visa maior eficiência e qualidade, em detrimento do modelo comum que paga por procedimento e premia a produção, não a qualidade.

“A expectativa que temos com esta metodologia é a redução da permanência, aumento da qualidade, a eficiência do serviço, melhores linhas de cuidada, e a redução da intensidade do uso de tecnologias desnecessárias”, explica Helton Freitas, presidente da Unimed-BH e diretor da Unimed Seguros. Ou, falando de números mais concretos, gerar economia de 250 a 300 leitos por ano apenas na redução do tempo de ocupação de leito.

Indústria
Sobre a indústria, elo mais comumente citado na cadeia da saúde quando o assunto é inovação, falemos de um caso de sucesso alemão. Entre tantos outros modelos internacionais de fomento mostrados durante o CISS na Hospitalar, os alemães parecem especialmente focados no envolvimento de todos os atores do setor no desenvolvimento de produtos efetivos, ou seja, na tradução do esforço de inovação em itens que realmente servirão à assistência.

Tobias Zobel, diretor do Instituto Central de Engenharia Biomédica (ZiMT) de Erlangen e professor da Universidade Friedrich Alexander (FAU), de Nurenberg, contou a história. Dezoito anos atrás, Erlangen, cidade da Baviera com pouco mais de 100 mil habitantes, decidiu tornar-se “a capital da tecnologia e engenharia médica”, apostando na criação de um ‘cluster’ para encorajar um trabalho colaborativo entre engenheiros, médicos, políticos, órgãos reguladores, farmacêuticos, fundos de investimento, especialistas em TI, economistas e empresários com objetivo de criar produtos e tecnologias médicas inovadoras.

Chamado de Medical Valley, o projeto tem apoio da FAU e da Siemens, entre outros parceiros, e trabalha na pesquisa e desenvolvimento de produtos em diagnóstico por imagem, sensores inteligentes, sistemas de tratamento e oftalmologia, entre outros. São mais de 80 milhões de euros aplicados em projetos atualmente, distribuídos entre 500 companhias – 75% delas alocadas em um raio de 15 km de Erlangen – e 45 mil trabalhadores.

Como resultado, as patentes de produtos médicos submetidas aos órgãos de registro na Alemanha subiram de 32% do total em 2008 para 41% em 2011.

Consumidor
E do que trata a inovação em saúde quando falamos de pessoas? Diante de uma população cada vez mais equipada com recursos tecnológicos e, por consequência, gerando uma grande quantidade de dados comportamentais, como aproveitar essas informações para evitar que as pessoas se tornem pacientes?

“Há uma discussão fascinante sobre inovação em saúde”, explicou Harry Greenspun, consultor sênior do Deloitte Center for Health Solutions (DCHS). “Quando pensamos em tecnologia em saúde, não se trata apenas do que podemos colocar no sistema de saúde, mas também da saúde que podemos embarcar no dia a dia.”

Dados e como aproveitá-los para gerar saúde (e, claro, tratar doenças e estruturar instituições de saúde) foram justamente alguns dos objetivos apresentados pela Deloitte durante a Hospitalar. A partir informações geradas em celulares, é possível saber quando as pessoas estão deprimidas, por exemplo, pois a geodinâmica de seu comportamento muda. “Elas deixam de sair e reduzem as interações sociais”, explicou o especialista.

Fonte: Saúde Web