2018 será um ano importante para o Brasil. Depois de muita instabilidade, o país se prepara para eleger um novo presidente, além de senadores, deputados federais, governadores e deputados estaduais. Neste cenário, o 11º Seminário Femipa organizou um painel para discutir as propostas para a Saúde nessas eleições. Participaram do debate o presidente da Femipa, Flaviano Feu Ventorim; o presidente da Confederação das Santas Casas e Hospitais Filantrópicos (CMB), Edson Rogatti; o presidente da Associação Comercial do Paraná (ACP), Glaucio Geara; a gerente executiva de Segurança e Saúde para Indústria da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), Rosângela Fricke, que na ocasião representou o presidente da instituição, Edson Campagnolo; e o diretor de Saúde e Intercâmbio da Unimed Paraná, dr. Faustino Garcia Alferez.

Para Edson Rogatti, a Saúde é uma das atividades econômicas mais importantes do Brasil, representando 9,2% do Produto Interno Bruto (PIB) do país. Além disso, a área emprega 1,6 milhões de pessoas diretamente e conta com 1.487 operadoras, 2.589 hospitais privados, 2.100 santas casas e hospitais sem fins lucrativos e mais de dois mil hospitais públicos. Nesse contexto, o presidente da CMB destaca que as eleições são uma grande oportunidade para o setor levar propostas aos futuros candidatos e pedir comprometimento com a Saúde.

“Tenho notado que antes de eleição, a Saúde tem sido tópico de qualquer campanha. Porém, passou a eleição, os políticos esquecem. Por isso, precisamos aproveitar o momento para discutirmos com a sociedade o que nós queremos para os nossos hospitais, para a área da Saúde de modo geral, e apresentar isso aos candidatos. É fundamental a participação de todos nesse movimento de eleição, porque nenhum órgão vai trabalhar sozinho”, garantiu.

Além disso, Rogatti afirmou que é preciso união de esforços, para que todos falem a mesma língua. “Os parlamentares destinam dinheiro a partir de emendas, mas esse dinheiro é nosso. Se cada Estado escolher bem o seu candidato para representar a Saúde, teremos uma boa representatividade. Infelizmente o que vemos é muita promessa e pouca ação. Sabemos que a tabela está defasada, mas precisamos pensar em outras formas de pagamento. O que não podemos aceitar é que o governo pague menos do que o custo. Também é fundamental que os hospitais melhorem sua eficiência e invistam em gestão. O momento é propicio para discutirmos isso”, declarou.

Flaviano Feu Ventorim, presidente da Femipa, concordou com o presidente da CMB e reforçou que a área da Saúde precisa ter critérios, já que é a maior propaganda política que os candidatos têm na hora da eleição. Ele avalia que muitos políticos prometem ações, mas nenhum vai mudar a qualidade do atendimento do Sistema Único de Saúde (SUS). Segundo Ventorim, quem vai fazer isso são os profissionais, os hospitais, a assistência social. Por isso, ele estimula as pessoas a pensarem quem são os candidatos que prometem fazer a saúde acontecer. Em paralelo a isso, ele ressalta que é preciso discutir propostas factíveis que dêem aos hospitais condição de manter as portas abertas e continuar prestando assistência.

“Muitos políticos criam obrigações para os hospitais, mas ninguém aponta quem vai pagar a conta. Ninguém pensa em como o hospital vai sobreviver. Por isso, a Femipa tem trabalhado em uma agenda para mostrar aos políticos que somente as emendas parlamentares não são suficientes; a Saúde precisa do compromisso de representação do político no Congresso Nacional”, destacou.

Assim como nas eleições de 2014, o presidente da Femipa destacou que a Federação está preparando um documento com propostas para os candidatos ao governo do Estado, que tem por objetivo garantir o compromisso dos parlamentares com a causa da Saúde. Além disso, Ventorim sugere que os hospitais encaminhem o documento aos políticos de cada região, buscando uma posição deles com as principais demandas.

“Queremos compromisso e precisamos disso. Se não nos organizarmos enquanto instituições fortes e mostrarmos que temos pauta única, não conseguiremos explicar a nossa realidade. Temos que ter uma posição mais dura. Não podemos nos contentar apenas com emendas parlamentares. Precisamos mudar de postura e sermos mais firmes. Estamos no mesmo barco e devemos buscar o compromisso de cada candidato com o que buscamos. Por isso, é importante estarmos organizados e de braços dados para termos um país melhor”, frisou.

Trabalho de outras instituições

Associação Comercial do Paraná – O presidente da ACP, Glaucio Geara, aproveitou o momento para contextualizar o cenário político brasileiro atual. Ele afirmou que as eleições de 2018 serão diferentes, porque serão as primeiras após a era da corrupção e da Operação Lava Jato, que, na avaliação dele, trouxe profundas mudanças e terá um forte impacto. Além disso, ele lembrou que houve uma reforma eleitoral que trouxe, entre outras coisas, redução no tempo de campanha e o fim do financiamento empresarial, e ressaltou que a situação econômica também terá um peso grande na decisão do eleitor, já que o país viveu três anos de forte recessão, a maior dos últimos 30 anos, e o desemprego ainda atinge 12 milhões de pessoas, segundo dados oficiais.

Além desses pontos, o presidente da ACP avaliou que o brasileiro está descrente da política, e citou dados que comprovam isso: segundo pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI), 44% dos brasileiros se dizem pessimistas em relação à eleição presidencial de 2018 e falta confiança no governo e nos governantes. A corrupção está entre as causas.

Diante deste cenário, Glaucio Geara afirmou que a Associação Comercial do Paraná tem um compromisso com a população e, por isso, mantém um Conselho Político e um Conselho de Saúde, coordenados, respectivamente, pelo ex-governador Mário Pereira e pelo médico Rodrigo Camargo, para avaliar as propostas dos candidatos e analisar temas específicos. Ele destacou, ainda, que os grupos estão envolvidos na discussão pública do país.

“Agora, estamos aguardando o anúncio das políticas para os candidatos, inclusive na área de Saúde. Queremos ouvir as propostas para que possamos discutir em cima do que vai ser prometido. Ouvimos há mais de 100 anos os políticos prometerem que vão acabar com a fila na Saúde e que colocarão mais médicos trabalhando, e tudo isso é conversa. A saúde do brasileiro não pode continuar sangrando. Por isso, garantimos que a ACP somente dará apoio institucional aos candidatos que têm planos baseados na modernização, moralização, gestão profissional, austeridade nos gastos e rigoroso combate à corrupção”, assegurou.

Federação das Indústrias do Estado do Paraná – Rosângela Fricke, gerente executiva de Segurança e Saúde para Indústria da Fiep, destacou algumas pesquisas realizadas pela CNI que são encomendadas para balizar o planejamento das indústrias a curto, médio e longo prazo. Com base nos dados levantados, ela disse que o mapa estratégico da indústria entre 2018 e 2022 foi redesenhado e elencou 11 fatores críticos para a competitividade e sustentabilidade da indústria. Segundo Rosangela, o 11º fator trata da eficiência do Estado, governança e desburocratização, e, dentro disso, esta a Saúde pública. A gerente destaca que as indústrias entendem que Saúde e Segurança têm grande impacto na vida das pessoas e se forem feitos investimentos nessas áreas, as pessoas terão melhor produtividade. Como esse foi considerado um dos fatores críticos, o mapa estratégico prevê um grande trabalho para conseguir atender aos objetivos.

No Paraná, a Fiep também realizou um levantamento para reconhecer os fatores críticos, ouvindo empresários de todo o Estado. Dos 12 principais fatores, um está ligado às questões de políticas e gestões públicas. Segundo a gerente, a Federação considerou neste estudo que tanto a gestão privada, quanto a gestão pública precisam ser modernizadas, pois se há gestão eficiente numa indústria, a gestão pública pode seguir o exemplo.

“Outro ponto que temos discutido é a indústria 4.0. Pensando na melhoria dos processos, identificamos o quanto a Saúde pode ser modernizada, seja em sistemas, em equipamentos, em soluções. Também buscamos investir em prevenção, já que é muito mais barato do que investir em tratamento. Essas iniciativas devem vir para a Saúde pública, porque é uma maneira de aumentar o trabalho de prevenção. No Sistema Fiep, tanto Senai, quanto Sesi têm buscado essa modernização, para trazer esses pontos para dentro da indústria”, revelou.

Rosangela Fricke comentou, também, sobre o trabalho da Fiep com relação à longevidade e produtividade, já que cada vez mais os trabalhadores estão ficando por mais tempo no ambiente de trabalho.

“A faixa etária de trabalho tem aumentado, e precisamos cuidar desses trabalhadores, porque vamos precisar deles. A Fiep tem investido muito nisso e tem o primeiro Centro de Inovação Sesi de longevidade e produtividade. São aspectos importantes que devem ser considerados para qualidade de vida. Mas também precisamos trabalhar na relação com as novas gerações. Hoje, no Brasil, temos a inversão da pirâmide, algo que está acontecendo de maneira mais rápida do que em países europeus. Precisamos do apoio de todas as iniciativas para cuidar e tratar desses trabalhadores”, destacou

Unimed – durante sua palestra, Faustino Garcia Alferez, diretor de Saúde e Intercâmbio da Unimed Paraná, elencou os principais desafios para a Saúde hoje. Um deles é a transição demográfica, já que a população está envelhecendo e, com isso, as doenças crônicas vêm aumentando. Ele afirmou que 72% das causas de morte são por doenças crônicas e apontou que, em 2015, 12% de beneficiários tinham mais de 60 anos. Em 2020, serão 15%; em 2030, 21%. Outro desafio é com relação ao financiamento na Saúde, que, segundo ele, não é feito pelo Estado na maior parte. “A saúde privada é que cuida disso, tanto operadores de planos, como as economias familiares”, disse.

Além desses pontos, o diretor afirmou que uma das grandes preocupações do brasileiro é quanto a Saúde, e isso faz com que a área seja muito relevante para os políticos. Para contextualizar, Alferez citou uma pesquisa dirigida feita pela Paraná Pesquisas, encomendada pelo jornal Gazeta do Povo, que buscou saber o que os brasileiros esperam de seus candidatos à Presidência da República. A Saúde saiu em primeiro lugar, com 22,5%.

Pensando nisso, a Unimed elaborou propostas em cima de cinco eixos estratégicos: modelos assistenciais; modelos de remuneração; modelos de gestão e qualidade; cooperados; e parcerias. O intuito, com base em informações Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp), é ampliar a participação do setor privado na formulação e implantação das políticas nacionais de Saúde, desenvolver um modelo assistencial integrado com foco no paciente e na continuidade dos cuidados, avançar nas redes assistenciais integradas entre os setores público e privado e formatar um plano de ação público-privado para a informatização, integração e interoperabilidade dos sistemas de informação.

“A partir de políticas nacionais de mudanças e regras, pretendemos participar de parcerias publico-privadas ou parcerias privadas-publicas. Hoje, só é permitido que o governo faça parcerias com o setor privado, mas o inverso é difícil. Vamos trabalhar nisso. Queremos que o estado se desonere um pouco e que o paciente beneficiário do SUS possa ser atendido também pelo setor privado. Não queremos concorrer, queremos colaborar com financiamento dos hospitais. Para isso é preciso mudança de leis, trabalhar nas políticas nacionais. Também queremos que a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ans), que é um órgão regulador, desenvolva projetos que obriguem as operadoras a oferecer em seus portfólios alguns planos que tenham atenção primaria à Saúde. Isso é uma indução por regulação e, assim, boa parte da população vai se beneficiar. Também propomos a mudança do modelo de remuneração”, completou.

Fonte: Assessoria de imprensa Femipa