Pensamento coletivo, foco no paciente e determinação são temas que permeiam a implantação dos programas de gerenciamento de riscos. O primeiro painel do segundo dia do Seminário Femipa, realizado entre 21 e 22 de novembro, trouxe as experiências deste sistema de gestão no Hospital Erasto Gaertner, de Curitiba (PR), e no Hospital São Paulo, em São Paulo (SP), além do pensamento em saúde coletiva da Unimed Paraná.

Os relatos mostraram que a implantação de um plano de gerenciamento de riscos não exige grande investimento, mas depende da determinação e da participação de profissionais de todos os setores do hospital.

Entre os principais pontos que a segurança precisa avançar estão a conscientização dos profissionais de que todo o momento de atendimento ao paciente no ambiente hospitalar traz algum tipo de risco potencial, do qual o profissional precisa estar consciente.  Neste ponto, os participantes do painel citaram como fundamentais o treinamento, a disseminação e o acesso à informação e a mudança cultural, para a valorização desses processos.

Outros desafios apontados são a sobrecarga de trabalho a que estão submetidos os profissionais, em função da remuneração inadequada ou insuficiente. Além disso, a falta de padronização de procedimentos faz com que cada instituição adote processos e sinalizações diferentes, o que pode causar confusão para aqueles que atuam em mais de uma instituição.

Também neste contexto, os profissionais destacaram que além de combater riscos, o gerenciamento eficiente e a padronização dos processos também ajudam a combater o desperdício, reduzindo gastos desnecessários e aplicando de forma adequada os recursos, oferecendo melhor qualidade e segurança ao paciente, que é o objetivo principal.

Cases

Uma das experiências apresentadas durante o evento foi o gerenciamento de riscos implantado pelo Hospital Erasto Gaertner. A experiência foi relatada pela farmacêutica Aline Regina Cruz de Souza, que mostrou que com determinação e envolvimento o hospital conseguiu avançar em pontos importantes.

O Erasto Gaertner é uma instituição filantrópica, especializado no tratamento de câncer, cujo público é formado em sua maioria (91%) por pacientes vinculados ao SUS. A instituição também tem a função de ensino e conta com 152 leitos, 900 funcionários e realiza cerca de 6.200 consultas ambulatoriais por mês.

Lá, o gerenciamento de risco é feito por uma Comissão de Gerenciamento de Risco e Segurança do Paciente. Essa comissão atua não só com a identificação dos riscos potenciais no hospital, mas também fornecendo indicadores para a tomada de decisão de outras comissões.

Entre as ferramentas utilizadas pela instituição para mitigar os riscos estão o mapeamento dos pontos vulneráveis, um plano de contingência institucional (que atende desde riscos como falta de água, luz, etc.), as notificações de risco eletrônicas e as auditorias conjuntas. O modelo de gestão de risco da instituição também contempla ações de treinamento e fóruns de debates sobre o tema. Foram 47 análises setoriais realizadas, 145 processos avaliados e 78 indicadores de risco identificados.

Um dos grandes avanços da instituição é a busca ativa por Reações Adversas Medicamentosas. Antes, o plano previa apenas a notificação espontânea, que é bastante complicada no contexto de um hospital oncológico e resultava em subnotificação. Já com a busca ativa com base nos prontuários e na identificação dos medicamentos com maior probabilidade de oferecer riscos, houve grande aumento das notificações e ações de prevenção.

Outra experiência relatada foi a do Hospital Universitário São Paulo, vinculado à Unifesp, que atende cerca de 4 mil pacientes por dia e realiza mensalmente 1,6 mil cirurgias. No hospital, 100% público, apenar dos recursos financeiros escassos, planos de gerenciamento de riscos estão sendo implantados e aperfeiçoados.

fernandaO case foi apresentado pela farmacêutica Fernanda Lessa Abuleac. No hospital, o Sistema de Gestão da Qualidade é gerenciado por um Escritório da Qualidade e conta com o suporte de toda a documentação relativa ao gerenciamento de riscos. A identificação, classificação e mensuração dos riscos e seus indicadores é realizado por uma comissão multidisciplinar.

Entre os aspectos que a instituição tem buscado reforçar estão em correlação com as seis metas internacionais de segurança do paciente. Entre elas, a correta identificação do paciente, melhoria da comunicação entre os profissionais de saúde, avanço na segurança da prescrição e maior segurança nos procedimentos cirúrgicos.

Nestes aspectos, o hospital obteve ganhos de segurança ao passar a exigir a documentação completa como a avaliação pré-anestésica, termo de Consentimento e demarcação da lateralidade para aceitar o paciente no Centro Cirúrgico. “Em um primeiro momento isso pode gerar algum desconforto, mas depois passa a contar com o engajamento da equipe e reduzir riscos”, comentou Fernanda.

A identificação dos pacientes também avançou com o uso de pulseiras coloridas que  recebem o nome do paciente manuscrito e alertam quando há risco de queda, alergias, alergia ao látex, preservação de membro. “Nossa meta agora é usar pulseiras de termo-impressão, com mais informações e identificação do paciente por código de barras”, contou a farmacêutica.

Pensando segurança de forma coletiva

Outra experiência apresentada durante o evento é o da Unimed Paraná, que mostra que não apenas os hospitais, mas as operadoras de planos de saúde podem contribuir para evitar riscos e apoiar as instituições nestas ações. De acordo com o gerente médico do setor de Regulação da Assistência à Saúde da empresa, Marlus Volney de Morais, os serviços brasileiros de saúde enfrentam grandes desafios como o envelhecimento da população, custos crescentes na área curativa, usos e abusos da tecnologia médica, dificuldades de pagamento das empresas e famílias, judicialização da saúde e regulação inadequada do setor.marlus

O médico afirmou que essas questões precisam ser discutidas e envolvem o gerenciamento de riscos, que pode evitar tanto o desperdício de recursos quanto o risco de prejuízos aos pacientes. Segundo dado citado pelo palestrante, a revista Harvard Business Review apurou em uma pesquisa que 50% dos recursos gastos em saúde foram despendidos em função da burocracia e exames desnecessários. Para o médico, isso significa em última instância também expor o paciente a riscos ou desconfortos desnecessários, ainda que sejam custos de deslocamento.

Ele afirmou que é preciso construir valor na saúde, o que só será possível com a atividade focada no paciente, aumentando os benefícios e diminuído os esforços. Para isso, a cultura precisa se modificar de uma ação pontual no momento da doença, para um plano de atenção em longo prazo, que envolva desde a prevenção, passando pelo diagnóstico e intervenção até a recuperação total do paciente, com ações precisas e adequadas para cada fase.

Para colaborar neste plano a Unimed Paraná está lançando um programa de Atenção Primária à Saúde pioneiro no país, que contará com equipe centrada no paciente e foco em prevenção. A empresa terá ainda um Centro Médico, em Curitiba, que está em fase final de construção e deve ser inaugurado em março de 2014.

Fonte: Assessoria de Comunicação Femipa

Jornalista Karla Losse Mendes