Com o avanço tecnológico que vem acontecendo no mundo inteiro, diversos setores da economia estão pensando em iniciativas para melhorar os negócios, e no setor hospitalar não é diferente. Hospitais paranaenses apostam na inovação para alavancar a gestão, aprimorar a assistência e, assim, proporcionar mais segurança ao paciente e reduzir custos.

Na Santa Casa de Londrina, por exemplo, a primeira iniciativa foi o Hackathon Health Tech 2018, para desenvolver soluções digitais práticas e aplicáveis para a Saúde, realizado em parceria com o Sebrae-PR e o Polo da Saúde de Londrina, com apoio do Salus, Hacking Health, APL TI Londrina, RedFoot, Alis e patrocínio da MV Sistemas. Nele, as equipes fizeram uma imersão no hospital e trabalharam ideias para a segurança do paciente, com base em quatro desafios: comunicação efetiva na saúde; redução do risco de infecções associadas ao cuidado em saúde; uso racional de medicamentos; e redução do risco de danos de lesões por pressão e quedas.

Depois de levantadas as ideias, era preciso evoluir para a concretização, para gerar um produto de mercado. Foi então que a Santa Casa resolveu criar um espaço onde eles pudessem trabalhar essas ideias, melhorá-las, encubá-las e desenvolvê-las. Assim surgiu o Conecta Iscal. “Pensamos em disponibilizar um local para que as pessoas pudessem, além da aceleração das ideias, chegar também a outras propostas. Além disso, esse espaço pode ser utilizado por empresas de saúde e parceiros que tenham interesse em ajudar a desenvolver ideias, testes e produtos dentro da estrutura hospitalar, seguindo critérios éticos”, explica Fahd Haddad, superintendente da Irmandade da Santa Casa de Londrina.

Na prática, o Conecta Iscal é um espaço de integração entre o usuário, os profissionais e a sociedade de modo geral, para alcançar soluções para o dia a dia dentro da estrutura do hospital ou mesmo fora dele. O local serve, ainda, segundo o superintendente, para a área de ensino, já que a Santa Casa de Londrina tem 10 residências médicas reconhecidas pelo Ministério da Educação, além de mais uma residência multiprofissional com cinco áreas que trabalham junto à área médica. “Queremos encontrar soluções para o dia a dia da saúde, tanto para o paciente, como para a instituição, melhorando, inclusive, a gestão”, destaca Haddad.

Na avaliação dele, o setor de Saúde é um dos que mais tem evoluído do ponto de vista de pesquisa e modernização, e os hospitais precisam acompanhar isso. Por isso, a capitalização das ideias é fundamental para que as propostas saiam do papel. Ele garante que, hoje, com a deficiência de recursos financeiros, é fundamental que as instituições apostem na criatividade para manter o atendimento e a segurança do paciente sem prejuízo para os hospitais.

Um dos projetos mais adiantados no Conecta é o Einfach, que desenvolve uma técnica para otimizar a produção de próteses e órteses, com mais conforto para o paciente. A ideia, segundo o criador e desenvolvedor da equipe, Carlos Felipe Cordeiro, é trocar o molde das ataduras gessadas por espumas de poliuretano – mais barato e que reduz o tempo de moldagem de 40 minutos para 15 segundos.

O superintendente também revela que as ideias que surgirem do Conecta Iscal serão disponibilizadas para outras entidades. “Os produtos serão divulgados para quem quiser utilizar, e cada instituição poderá adaptar à sua realidade. Acredito que nosso Conecta Iscal seja um agregador de vários segmentos profissionais, de várias atividades e de vários processos para criar soluções diferentes, inovadoras e facilitadoras do dia a dia da saúde”, reforça.

Outra instituição de saúde que também resolveu apostar nesse tema foi o Grupo Marista, que lançou o Ciclo de Inovação Hospitalar (CIH), promovido pelos Hospitais Universitário Cajuru e Marcelino Champagnat. De acordo com Cristina Pellegrino Baena, coordenadora do Centro de Ensino, Pesquisa e Inovação do Grupo, a ideia era promover algo que, além de atender às demandas dos hospitais, trouxesse inovação e um diferencial importante na performance e na qualidade da assistência. Além disso, o objetivo era integrar os outros ativos do grupo, como a agência aceleradora Hotmilk e a Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR).

Para isso, foram identificadas as “dores” dos hospitais. Depois, dentro da universidade, foram mapeadas equipes e soluções que já estavam começando a acontecer e que pudessem sanar essas dificuldades. “A missão do Grupo Marista é o ensino, por isso escolhemos fazer um ciclo maior para que essas pessoas pudessem também ter um processo de desenvolvimento pessoal”, explica.

O CIH durou aproximadamente 40 dias e teve 65 inscrições de diversas cidades do Paraná e de outros Estados. Dessas, 12 se apresentaram para passar pelo processo de aceleração, e cinco foram selecionadas para o processo completo. Os grupos escolhidos receberam oficinas de elaboração de produto, ideação, empatia, assessoria de marketing, planejamento financeiro e usaram os hospitais como laboratórios vivos.

“Os participantes vinham aos hospitais, conheciam melhor o ambiente no qual a solução deles seria aplicada, e muitos relataram que reformularam a ideia a partir do contato que tiveram com os hospitais. No fim do processo de 40 dias, eles apresentaram os produtos minimamente viáveis (MVPs) e, a partir daí, estavam prontos para os testes do produto”, comenta Cristina.

A startup Preveni foi a vencedora do Ciclo de Inovação Hospitalar do Grupo Marista e desenvolveu uma solução que pode ser usada junto ao leito do paciente e ser baixada no celular dele quando receber alta hospitalar. A ferramenta emite alertas sistematizados para alternância de posição no leito, principal fator de prevenção das lesões de pressão, também conhecidas como escaras.

Agora, segundo Cristina, eles estão na fase de prova de conceito, para que o produto possa ser efetivamente utilizado nos hospitais e, se houver interesse, a startup seja lançada no mercado. Os grupos que não foram selecionados para o ciclo também têm uma nova oportunidade, pois o Grupo Marista abriu um canal de comunicação entre os hospitais e essas empresas, que podem conversar com as instituições como clientes. Assim, se a agência Hotmilk enxergar potencial nas propostas, essas empresas podem ser incubadas dentro da aceleradora.

Com o aprendizado deste ciclo, o Grupo está trabalhando questões de compliance para patrocínio e parcerias e já está planejando um novo ciclo, dessa vez mais longo, ainda para esse ano. A coordenadora afirma que a ideia é que o desenvolvimento das startups seja ainda melhor, e serão feitos alguns ajustes para que os hospitais possam funcionar como laboratórios.

“O importante desse processo todo é que queremos melhorar o cuidado do paciente, e a tecnologia é um meio para isso, não um fim. A inovação é um meio. O Grupo Marista tem um grande diferencial, que é a integração de todas essas unidades, por isso pensamos em um trabalho unindo todos. Nossa ideia é ter permanentemente o Ciclo de Inovação Hospitalar acontecendo dentro dos hospitais do grupo”, completa

Fonte: Jornal Voz Saúde