Especialistas e diferentes autoridades em saúde brasileiras vêm apontando a possibilidade de terceira onda de Covid-19. E os sinais indicam que sim, com um aumento gradual e constante no número de casos e da taxa de transmissão. Nesta quarta-feira, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, reforçou a possibilidade de uma terceira onda da pandemia de Covid-19 e disse que esta é uma preocupação.

Ao ser perguntado sobre a possibilidade de uma terceira onda da Covid-19, com avanço da crise sanitária em razão da sinalização no aumento de casos da doença, Queiroga afirmou que o cenário pode estar ocorrendo em razão do afrouxamento de medidas de restrição à circulação de pessoas e distanciamento social ou efeito de nova variante.

“É uma preocupação. Assistimos agora a uma redução daquela tendência de queda de óbitos e isso pode se dever a uma flexibilização das medidas de bloqueio”, observou. “Estávamos com medida de bloqueio e aí, como houve uma redução da pressão sobre o sistema de saúde e mais disponibilidades de leitos de UTI [Unidade de Terapia Intensiva], então se flexibiliza e, quando se flexibiliza, pode haver uma tendência de aumento de casos”, explicou.

Segundo o ministro, outra possibilidade é a da presença de variante do novo coronavírus no país. Nesta quarta-feira, o Instituto Adolfo Lutz identificou um caso da variante indiana da Covid-19, a B.1.617.2, em São Paulo. Este é o segundo caso da variante registrado no país. O primeiro foi confirmado no dia 20 de maio no Maranhão.

Queiroga afirmou que o ministério está monitorando os casos. “Então essa diminuição de queda [de casos] em alguns locais pode refletir isso [flexibilização das medidas de bloqueio], mas também pode ser efeito de uma variante, por exemplo. Não temos essa resposta ainda. O Ministério da Saúde fica vigilante para que possa se orientar. E vamos trabalhar juntos para que se possa evitar essa terceira onda”, afirmou.

Queiroga disse que o ministério está fazendo a vigilância genômica dos casos e que pode haver necessidade de adoção de medidas mais restritivas em regiões do país. “Essa vigilância genômica é feita. Nós estamos atentos. De acordo com a situação epidemiológica de cada região, pode ser necessário que se adote uma medida mais restritiva, que fica a cargo da autoridade municipal”, argumentou.

Inquérito mostra “várias epidemias” de Covid-19 em curso no país

No primeiro ano da pandemia de Covid-19, o novo coronavírus se espalhou de forma distinta entre as diversas regiões do país. No final de abril de 2021, com a curva de contágio em ascensão, na média, 15% dos brasileiros testados no âmbito do inquérito EPICOVID-19 BR 2 tinham anticorpos contra o SARS-CoV-2. Os índices de soropositividade, no entanto, variaram de 9,89% no Ceará a 31,4% no Amazonas, Estado com a maior soroprevalência do Brasil. O inquérito, apoiado pela FAPESP e coordenado pelo professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Marcelo Burattini, testou 120 mil pessoas em 133 municípios de todo o país entre os dias 25 de janeiro e 24 de abril de 2021.

“A grande maioria das pessoas da amostra ainda não havia sido vacinada, já que os testes se concentraram entre janeiro e meados de fevereiro, quando o programa nacional de vacinação estava iniciando. Menos de 1% das pessoas testadas afirmou ter recebido vacinas e praticamente nenhuma delas havia recebido as duas doses”, explica Burattini. O inquérito, portanto, não fez distinção entre vacinados e não vacinados.

O estudo também revelou índices diversos dentro de cada uma das regiões. No Sudeste, por exemplo, 19,57% da população do Rio de Janeiro tinha anticorpos contra o coronavírus, percentual semelhante aos 18,73% registrados no Espírito Santo, mas superior à soropositividade média dos paulistas, de 13%. Foram registradas, ainda, variações entre municípios do mesmo Estado. Em São Paulo, a soroprevalência média em Sorocaba e Bauru foi de 9%; a de Marília, 20% e a de cidades como São José do Rio Preto, Araçatuba, Ribeirão Preto e São José dos Campos variou entre 13% e 15%. “Esses resultados mostram que há muita variação espacial na epidemia. Temos várias epidemias e não apenas uma no Brasil. Essa variação se estende por todo o país e será um dos objetos de estudo mais detalhado deste projeto”, adianta Burattini.

Os resultados preliminares do inquérito, segundo Burattini, sugerem que a soroprevalência registrada é significativamente menor do que as previsões até então divulgadas sobre a proporção de casos assintomáticos faria supor. “Quando tivermos concluído a análise das 133 cidades, comparando os dados desse inquérito com a ocorrência notificada de Covid-19, teremos importantes subsídios para direcionar medidas públicas. Isso provavelmente vai levar a uma nova compreensão da dinâmica da doença e sua ocorrência em nosso meio”, afirma.

O EPICOVID-19 BR 2 teve como objetivo estimar o percentual de brasileiros infectados com o SARS-CoV-2 por idade, gênero, condição econômica, município e região geográfica; determinar o percentual de assintomáticos; avaliar sintomas e morbiletalidade (índice de pessoas mortas em decorrência de uma doença específica dentro de um grupo populacional), além de oferecer subsídio para políticas públicas e avaliação do alcance e impacto das medidas de isolamento social, sejam de lockdown ou de distanciamento social com medidas de proteção, como o uso de máscaras.

Além da soroprevalência, as demais variáveis do inquérito ainda estão em análise, em razão do número de pacientes envolvidos na pesquisa, afirma o coordenador.

* Com informações da Agência Fapesp e da Agência Brasil

Fonte: Saúde Debate