Em meio século de existência, o programa de residência pediátrica do Pequeno Príncipe, maior hospital exclusivamente pediátrico do país, firmou-se como um dos maiores centros formadores nessa especialidade. Está entre os mais concorridos do Brasil, com uma média de 14 candidatos por vaga, e atrai profissionais de vários estados e, até mesmo, de outros países. Só na última década, 130 médicos se tornaram pediatras, sendo que 51 vieram de fora do Paraná.

Dessa forma, o Hospital, considerado o berço da pediatria no Paraná e que em 2022 completa 103 anos de atividade, contribui para melhorar o cenário nacional da assistência oferecida às crianças e aos adolescentes. O Brasil, considerado um dos dez países mais desiguais no mundo, registra um déficit desses especialistas no Sistema Único de Saúde (SUS). Atualmente, de acordo com dados da Demografia Médica no Brasil, de 2020, são quase 40 mil pediatras no país – os quais precisariam estar inseridos nas unidades básicas de saúde, principalmente se considerado o número maior de médicos da família, que hoje somam sete mil – apenas 10% do necessário para suprir a demanda dos brasileiros.

“O pediatra foi retirado das unidades básicas de saúde. E quem tem assistido as crianças são os médicos de família. Isso é uma falha grave, porque a criança não é um adulto pequeno. Ela tem características especiais, e quem quer ser pediatra realmente tem que se formar para isso”, avalia o coordenador da residência médica em pediatria do Pequeno Príncipe, Vitor Palazzo. A pediatria é a área da medicina que cuida do crescimento e desenvolvimento do recém-nascido, da criança e do adolescente. Além disso, atua orientando as famílias sobre questões como alimentação, aleitamento materno, vacinação e prevenção de doenças, representando uma medicina qualificada para assistência, prevenção, promoção da saúde e defesa social.

Considerando que o SUS corresponde ao atendimento de 75% da população do país, a falta desses especialistas em unidades de saúde básica é motivo de preocupação. Além disso, a mesma pesquisa mostra que mais da metade dos pediatras (55%) está instalada na Região Sudeste. Em segundo lugar estão as regiões Sul e Nordeste, com pouco mais de 16% dos profissionais especializados na área; 8,6% no Centro-Oeste e 4% no Norte.

Ao formar, ao longo dos últimos dez anos, especialistas pediátricos oriundos de 17 estados brasileiros, além do Distrito Federal, o Pequeno Príncipe contribui para diminuir essa desigualdade. Um exemplo é a médica Emmanuela Bortoletto Santos. Formada em residência de pediatria e nefrologia pediátrica no Pequeno Príncipe, nos anos de 2008 e 2010, respectivamente, hoje trabalha na Santa Casa de Misericórdia de Cuiabá (MT), no Centro-Oeste do país. No local, atua como nefrologista pediátrica e é idealizadora do processo para credenciar o primeiro serviço de transplante renal pediátrico do estado.

Enquanto seu projeto não se concretiza, a médica encaminha os pacientes que precisam do procedimento para o Hospital em Curitiba. Preceptora do curso de residência pediátrica do Centro Universitário de Várzea Grande, a especialista diz aos seus alunos que tem orgulho de ter se formado em pediatria no Pequeno Príncipe. “O que eu sou hoje, devo 100% aos médicos do Pequeno Príncipe que contribuíram para a minha formação e, por meio do exemplo deles, me inspiraram a querer fazer a diferença”, afirma.

De acordo com Palazzo, que também é médico responsável pela pediatria do Pequeno Príncipe, o contato com ex-residentes como Emmanuela, que estão trabalhando fora do Paraná, é diário. “Recebemos muitos pacientes encaminhados pelos ex-alunos, porque eles sabem que aqui temos várias especialidades e tratamento multiprofissional que não estão disponíveis nas regiões onde estão atuando”, explica o médico. Para ele, é essa diversidade de especialidades que, junto com o atendimento humanizado, atrai os residentes.

O médico mineiro Gustavo Moura da Mata Machado Ferreira Pinto recebeu boas referências do Pequeno Príncipe quando morava na Bahia. “Os pediatras de lá já conheciam o Hospital, e isso me chamou atenção. Quando atuei na saúde indígena, uma enfermeira disse que já tinham encaminhado um paciente de lá para realizar um TMO [transplante de medula óssea] aqui. E quando eu contava que tinha passado para a residência de pediatria da instituição, diziam que eu tinha mandado bem. Com essa propaganda positiva de pessoas que nunca tinham vindo para Curitiba, pensei: acertei na escolha!”, conta o residente.

A instituição centenária foi pioneira ao receber, em 1932, estudantes de medicina para acompanhar a prática dos médicos que cuidavam de crianças. Atualmente, o Hospital disponibiliza, em parceria com a Faculdades Pequeno Príncipe, além da residência em pediatria, opções de residência médica em outras áreas e também em áreas de atuação em pediatria. Os programas do Pequeno Príncipe concentram em um mesmo ambiente a experiência profissional, diferentes especialidades e acesso a diversas terapias e meios diagnósticos, além de cirurgias de alta, média e baixa complexidade. A instituição oferece ainda consultas no Serviço de Pronto Atendimento e ambulatórios. Filantrópica e sem fins lucrativos, realiza 60% dos atendimentos via SUS. Conta com 378 leitos, 68 de UTI, e em 2021, mesmo com as restrições impostas pela pandemia de coronavírus, realizou cerca de 200 mil atendimentos e 14,7 mil cirurgias que beneficiaram pacientes do Brasil inteiro.

Fonte: Hospital Pequeno Príncipe